Confira o artigo de opinião publicado no Estado de S. Paulo, em 30/8, que traz uma análise sobre a redução do volume de recursos para a área científica e o comprometimento do desempenho econômico e da geração de empregos. O texto conta com uma fala de Luiz Davidovich, presidente da ABC.

 

Criado há mais de cinco décadas para fornecer análises e subsídios destinados a orientar a formulação da política econômica do Poder Executivo, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) acaba de publicar um estudo que confirma o desprezo do governo Bolsonaro pela ciência.

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A redução do volume de recursos para a ciência atingiu órgãos estratégicos, como o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Matemática Pura e Aplicada, o Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). 

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A redução de recursos também dificultou a atuação da Capes, órgão encarregado da avaliação do sistema brasileiro de pós-graduação, cuja meta é formar 10 mil doutores por ano. Igualmente, ameaça paralisar o supercomputador Tupã, do Inpe, responsável por previsões de tempo e clima, monitoramento de queimadas e emissão de alertas climáticos. E ainda afetou o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT). Apesar de o CNPq, a Capes e o FNDCT responderem por 40% de todas as verbas da União para a ciência, seus recursos orçamentários vêm diminuindo e, além disso, sofrendo contingenciamento. Ou seja, o CNPq, a Capes e o FNDCT perdem recursos e o que sobra ainda demora para ser repassado. 

“Isso tem um forte impacto do ponto de vista da formação de ciência, o que afeta nossa capacidade de produção do conhecimento”, diz Fernanda De Negri. “É uma sabotagem ao desenvolvimento. Precisamos urgentemente de uma política científica que aponte o futuro. A fixação em limitar gastos com ciência a qualquer preço limita o crescimento do País a longo prazo”, afirma o presidente da Academia Brasileira de Ciências, Luiz Davidovich

De fato, o desprezo do governo Bolsonaro pela ciência terá um custo alto para o País – a começar pelo fato de que leva à perda de competitividade da economia brasileira num momento em que as disputas no comércio mundial são cada vez mais acirradas. Esse desprezo também nega ao poder público informações estratégicas para a formulação de projetos de planejamento destinados a assegurar a inserção das novas gerações no mercado de trabalho. E ainda agrava o problema da “fuga de cérebros” – a saída do País de pesquisadores que, apesar de terem se pós-graduado com financiamento público, não encontram condições de trabalho em suas áreas de especialização. Eles vão trabalhar em países desenvolvidos que não investiram um centavo em sua formação.