Mauro Bellesa/IEA-USPO neurocientista Miguel Nicolelis (membro titular da Academia Brasileira de Ciências) compartilhou sua perspectiva sobre o futuro do Brasil em pandemia em entrevista de capa para o The Guardian, publicada no dia 3/3.  Nicolelis é doutor em fisiologia geral pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da Duke University (Carolina do Norte, EUA), onde lidera um grupo de pesquisa em neurociências.

Nicolelis, um dos mais renomados neurocientistas do mundo, estimulou a comunidade internacional a desafiar o governo brasileiro por não conter uma doença que matou mais de 250 mil brasileiros – cerca de 10% do total global de vítimas. “O mundo deve falar com veemência sobre os riscos que o Brasil representa para a luta contra a pandemia”, disse o neurocientista, que passou a maior parte do ano passado confinado em seu apartamento na zona oeste de São Paulo.

O pesquisador afirma que o problema não é simplesmente o Brasil – cujo presidente Jair Bolsonaro rejeitou repetidamente os esforços para combater uma doença que ele chama de “gripezinha” – ser “o pior país do mundo para lidar com a pandemia”. O principal problema é permitir que o vírus se prolifere nos níveis em que está se proliferando no país, o que “abre a porta para a ocorrência de novas mutações e o aparecimento de variantes ainda mais letais”.

Nicolelis atribui a atual situação do país ao fracasso de Bolsonaro – a quem chama de “líder obtuso” e “inimigo público nº 1 da pandemia” – em deter o surto e lançar uma campanha de vacinação, que criou uma tragédia doméstica da o Brasil dificilmente emergirá até o final de 2022. “Já ultrapassamos 250.000 mortes e minha expectativa é que, se nada fosse feito, poderíamos ter perdido 500.000 pessoas aqui no Brasil até março do próximo ano. É uma perspectiva horrível e trágica, mas neste ponto é perfeitamente possível”. Ele completa: “Minha previsão é que se o mundo ficou chocado com o que aconteceu em Bérgamo, na Itália, e com o que aconteceu em Manaus há algumas semanas, ficará ainda mais chocado com o resto do Brasil se nada for feito.” Ontem (3/3), o Brasil  registrou 1.840 mortes por COVID-19, batendo o recorde do número de óbitos em 24 horas.

“O Brasil é um laboratório a céu aberto para o vírus proliferar e eventualmente criar mutações mais letais ”, alertou Nicolelis, que relembra que o país agora representa um risco internacional, bem como doméstico. “Isso é sobre o mundo. É global. ”

Ainda ontem, em entrevista à TV Democracia, no Youtube, Nicolelis ressaltou: “O Brasil está a dias de um colapso sanitário nacional e a maior tragédia humanitária de sua história.” Ele previu que o país chegará muito em breve aos 2 mil óbitos diários, e rapidamente aos 3 mil, caso não imponha um lockdown de ao menos 15 dias.