Leia o artigo do  Acadêmico Luiz Carlos Dias para a revista Questão de Ciência, publicado em 3/6:

Sou docente do Instituto de Química da Universidade de Campinas (IQ-Unicamp) há 28 anos, e trabalho com o desenvolvimento de novos medicamentos para o tratamento de doenças parasitárias tropicais como malária, doença de Chagas e leishmanioses.

No caso da malária, procuramos desenvolver um novo antimalárico que possa ser usado em dose única, por crianças e gestantes e que seja barato, seguro e eficaz. Em um dos ensaios obrigatórios que usamos no processo de desenvolvimento de novos medicamentos, é imperativo que estes antimaláricos não provoquem alterações no intervalo QT, podendo levar a arritmias cardíacas.

Manifesto-me aqui, com todo o respeito, contrário à carta publicada no veículo de comunicação Conexão Política, no dia 21/05/2020, intitulada “A “ciência” da Pandemia”, de autoria de 25 pesquisadores brasileiros, que conforme destacado na carta, juntos somam mais de 69 mil citações. Sou colega do principal autor da carta.

No documento, os autores consideram “pseudocientistas” aqueles que são contra o uso das cloroquinas no combate à COVID-19 e que são a favor do isolamento social.

Os autores defendem o estudo do Prevent Senior, que não foi nem sequer publicado, pois este a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) já tratou de desqualificar. Defendem o estudo do médico francês Didier Raoult, considerado pela comunidade científica internacional como irregular, muito mal conduzido e muito pouco confiável. E criticam de forma enfática, os resultados publicados no dia 22 de maio na revista The Lancet (https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)31180-6), uma das mais importantes revistas médicas do mundo. Vai entender.

O uso de cloroquina e da hidroxicloroquina, isoladas ou em combinação com azitromicina para pacientes com casos mais graves, já está mais do que descartado, inclusive como bem lembrado pelo pequeno exército de patriotas que assina a carta contra os “pseudocientistas”. Resta, agora, a defesa do uso para pacientes com casos leves, e se por acaso não funcionar, para casos mais leves ainda, e se também não funcionar, depois será para os assintomáticos e por fim, vão defender o uso como profilático para quem não tem nada, como se fosse uma vacina.

Ninguém deve usar estes medicamentos esperando um efeito de proteção, profilático, pois não são vacinas. Algum uso político para as cloroquinas compradas pelo governo federal, eles precisam achar, porque o isolamento social, para eles, parece não ser uma opção.