Desde 2005, as Academias nacionais de ciências do G8, (Alemanha, Canadá, EUA, França, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia),  e outros países relevantes reúnem-se anualmente para desenvolver recomendações de políticas públicas, a serem encaminhadas aos líderes dos países envolvidos. Os temas das recomendações são relacionados a desafios globais, para os quais a contribuição da ciência faz a diferença.

Em 8/4, foi lançada a declaração abaixo, sobre a necessidade crítica de cooperação internacional durante a pandemia covid-19.

DECLARAÇÃO CONJUNTA DE ACADEMIAS DE CIÊNCIAS E MEDICINA

À medida que o novo coronavírus se espalha pelo mundo e o número de casos e mortes continua a aumentar, quase nenhum país ou comunidade permanece intocado por essa ameaça em rápida evolução. Ações drásticas e urgentes estão em andamento em todos os níveis de nossas sociedades para limitar a disseminação da COVID-19, identificar novas infecções, cuidar dos doentes e prevenir mortes, reduzir os transtornos sociais e econômicos, e atender às necessidades básicas humanas. Incertezas iminentes permanecem e muito ainda precisa ser feito. Nesse momento crítico, nós, as Academias de Ciências e Medicina do G-Science de todo o mundo, incluindo as academias dos países do G7, estamos atuando domesticamente em nossos países de várias maneiras. Mas acreditamos que é essencial enfatizar, juntos, a URGÊNCIA DA COOPERAÇÃO INTERNACIONAL, em várias dimensões:

1. Comunicação internacional rápida, precisa e transparente sobre o desenvolvimento da epidemiologia desta nova doença viral, incluindo padrões de transmissão, período de incubação e letalidade, e a eficácia de vários métodos de intervenção.

2. Compartilhamento em tempo real de informações científicas detalhadas sobre o vírus, a fisiopatologia da doença que ele causa e a resposta imunológica humana, suas origens, genética e mutações, e atividades coordenadas para promover o aumento do conhecimento em todas essas áreas.

3. Compartilhamento de informações sobre pesquisa e desenvolvimento (P&D) de produtos médicos para lidar com a doença, em conjunto com esforços de pesquisa colaborativa para promover essa P&D vital.

4. Em reconhecimento de nossa confiança mútua, coordenação e alinhamento de processos regulatórios e de fabricação e de padrões de qualidade necessários para acelerar a disponibilidade de equipamentos de proteção individual confiáveis, dispositivos de teste para diagnóstico e capacidade de tratamento médico.

5. Esforços colaborativos para realizar uma análise rápida, mas baseada em evidências, de preocupações emergentes ou questões distintas de programas e políticas que podem surgir à medida que a pandemia global avança. 6. Desenvolvimento coordenado de orientações, mensagens e comunicações, consistentes e baseadas em evidências, para o público e os formuladores de políticas em circunstâncias que mudam rapidamente.

A cooperação internacional e o compartilhamento de informações em todas essas dimensões serão particularmente cruciais em países e regiões onde o sistema público de saúde e sua infraestrutura de assistência à saúde não são adequados, onde a doença ainda não está em seu pico de impacto, e onde as condições sociais, econômicas e de saúde indicam extrema vulnerabilidade à rápida disseminação da doença e capacidade de resposta deficiente.

Isso é particularmente verdadeiro para populações de regiões em desenvolvimento do mundo, incluindo África, Ásia e América Latina, bem como regiões vulneráveis de grandes conglomerados urbanos.

Também é urgente entender, projetar e se preparar para as diversas dimensões do impacto econômico e social da doença e as necessidades humanitárias iminentes. Organizações bilaterais de assistência ao desenvolvimento e bancos internacionais de desenvolvimento serão atores fundamentais, assim como fundações privadas que desempenharam papéis importantes em situações de crise internacional. A Organização Mundial da Saúde é de importância central em muitas dessas dimensões e precisa do forte apoio e cooperação de todos os nossos países.

A humanidade tem sido repetidamente ameaçada por doenças infecciosas e, a cada vez, tem superado a crise. Continuaremos a enfrentar sérias ameaças de doenças infecciosas no futuro, de gripes pandêmicas a infecções resistentes a medicamentos.

São necessários esforços concertados para abordar as conexões críticas entre a degradação ambiental e os vetores de doenças, a fim de se evitar futuros surtos de novos patógenos. A presente tragédia da COVID19 deve nos estimular a fortalecer dramaticamente nossos esforços para prevenir e controlar doenças infecciosas, para que as sociedades humanas melhorem seus estados de prontidão e aumentem a resiliência às calamidades provocadas por doenças infecciosas.

Esta é uma declaração das dezesseis academias listadas abaixo. Também somos membros da Parceria InterAcademias (IAP), com participantes de mais de 100 países ao redor do mundo, incluindo países que se encontram nas circunstâncias mais difíceis. As academias-membro da IAP podem desempenhar um papel importante em seus próprios países e cooperar internacional e regionalmente, trabalhando em estreita colaboração com o governo, a academia e o setor privado, a fim de superar a atual pandemia da COVID-19.

Signatárias:

Academia Brasileira de Ciências, Brasil
Académie des Sciences, França
Accademia Nazionale dei Lincei, Itália
Chinese Academy of Sciences, China
Deutsche Akademie der Naturforscher Leopoldina, Alemanha
Global Young Academy
Indian National Science Academy, Índia
Indonesian Academy of Sciences, Indonésia
Korean Academy of Science and Technology, Coreia do Sul
National Academy of Medicine, Estados Unidos
National Academy of Sciences, Estados Unidos
Nigerian Academy of Science, Nigéria
Royal Society of Canada, Canadá
Royal Society, Reino Unido
Russian Academy of Sciences, Rússia
Science Council of Japan, Japão

Veja a repercussão na mídia:

O GLOBO, 8/4
Para combater coronavírus, Academias de Ciências de 13 países assinam nota pedindo cooperação internacional

JORNAL DA USP, 8/4
A necessidade crítca de cooperação internacional durante a pandemia de covid 19