Com o objetivo de gerar resultados econômicos concretos a partir da inovação, em 2014 foi iniciada a vertente de cooperação em ciência, tecnologia e inovação (CT&I) no BRICS – o mecanismo de cooperação entre Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Desde então, essa frente de cooperação conta com onze grupos de trabalho,  com a ação dos ministros de CT&I e também com o protagonismo das academias de ciência.

Em 2019, no âmbito da XI Cúpula dos BRICS, a Academia Brasileira de Ciências (ABC) sediou, nos dias 4 e 5 de novembro, a 2ª Reunião das Academias de Ciências dos BRICS. O evento promoveu, entre os representantes das academias de ciência dos cinco países, a discussão sobre o desenvolvimento da colaboração em CT&I entre os BRICS e abordou temas como biodiversidade, desenvolvimento sustentável e bioeconomia.

Representando o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações – MCTIC, Marcos Pontes, a abertura do encontro ficou a cargo de Marcelo Marcos Morales, secretário de Políticas para Formações e Ações Estratégicas do MCTIC. O secretário falou sobre o plano de trabalho dos BRICS para o período de 2019 a 2022 e destacou quatro áreas para cooperação: pesquisa, inovação, sustentabilidade e infraestrutura de pesquisa. Morales apoiou ainda a conclusão de atividades já existentes e uma discussão mais profunda sobre como ministérios e academias de ciência podem trabalhar juntos.

“Construindo a cooperação em C&T no contexto dos BRICS”

Do primeiro painel de discussão, participaram o presidente da ABC, Luiz Davidovich; o vice-presidente da Academia Russa de Ciências, Yuri Balega; diretora adjunta da Divisão de Programas da Organização Internacional da Academia Chinesa de Ciências (CAS, na sigla em inglês), Kai Feng; e Himla Soodyall, diretora executiva da Academia de Ciência da África do Sul (Assaf, na sigla em inglês).

Em sua apresentação, o presidente da ABC relatou as similaridades nos desafios e na produção científica dos BRICS. Ele listou os problemas que foram estabelecidos, ainda em 2014, como foco da cooperação entre os países: segurança alimentar e agricultura sustentável; mudança climática, preparo e mitigação para desastres naturais; energia e nanotecnologia; popularização da ciência; informática de alta performance; astronomia e explorações espaciais; medicina e biotecnologia; recursos hídricos e tratamento da poluição; além de tecnologias e aplicações geoespaciais.

Sobre a produção científica, Davidovich utilizou informações do estudo “Research in Brazil“, feito pela empresa Clarivate Analytics, a pedido da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). A partir desses resultados, o presidente da ABC defendeu que os países devem aumentar a colaboração entre si e com indústrias, afirmando que projetos conjuntos de infraestrutura de larga escala, no âmbito dos BRICS, certamente fornecerão oportunidades interessantes para a colaboração entre os países.

O vice-presidente da Academia Russa de Ciências também fez algumas propostas para o desenvolvimento da CT&I a partir da colaboração no BRICS. Balega reforçou que as academias nacionais de ciência devem sempre estar presentes quando se fala do futuro do desenvolvimento científico, e por isso sugeriu que o comitê responsável pela CT&I no BRICS tenha, pelo menos, um representante de cada academia nacional.

Além disso, o pesquisador defendeu também a implementação de um programa de intercâmbio equivalente para os pesquisadores dos cinco países e a criação de um fundo especial para financiar projetos de pesquisa baseados em competição, a ser administrado pelas academias de ciências.

“Enriquecendo a cooperação em CT&I no contexto dos BRICS”

Esse foi o tema do segundo painel, que contou com a participação de representantes de agências de pesquisa e financiamento brasileiras.  Participaram o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), João Luiz Filgueiras de Azevedo; o gerente do Departamento de Cooperação Internacional da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Alexandre Barragat; e o Acadêmico Jorge Guimarães, presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

O presidente do CNPq apresentou algumas informações sobre as três chamadas públicas realizadas pela agência, em parceria com o MCTIC e o BRICS-STI (Science, Technology and Innovation), além da Finep – na chamada de 2019. Elas tiveram como objetivo a cooperação científica e tecnológica entre o Brasil e os demais países dos BRICS, a fim de alcançar resultados técnicos e científicos de nível mundial, melhorar a qualidade de vida das respectivas sociedades e contribuir para a formulação de políticas públicas dos países envolvidos. Além disso, promoveram a mobilidade e o desenvolvimentos dos investigadores, fortalecendo o vínculo dos pesquisadores nas áreas propostas.

Ainda assim, Azevedo explicou que a taxa de sucesso tem sido baixa, o que pode explicar a redução de interesse entre a segunda e terceira chamadas. Mas, pesquisas estão sendo preparadas para compreender como os grupos de trabalho têm sido formados, suas motivações e dificuldades, e quais têm sido os resultados obtidos de fato.

O pesquisador finalizou defendendo que as chamadas em conjunto têm potencial para aumentar a colaboração e o impacto da pesquisa realizada nos países dos BRICS.

Os palestrantes do primeiro encontro da 2ª Reunião das Academias de Ciências dos BRICS, acompanhados de Carlos Matsumoto, coordenador geral da Cooperação Multilateral do MCTIC; Marcos Cortesão, secretário-executivo de Relações Internacionais da ABC; Helena B. Nader, vice-presidente da ABC; Adalberto Val, membro titular da ABC; e do presidente da ABC, Luiz Davidovich.

“Biodiversidade, desenvolvimento sustentável e bioeconomia: um novo paradigma para o desenvolvimento dos BRICS”

Este foi o tema do último painel do dia 4, com falas do Acadêmico Paulo Arruda, professor do Instituto de Biologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp); do diretor geral do Jardim Botânico Tropical de Xishuangbanna da CAS, Jin Chen; da diretora executiva, Himla Soodyall, e do oficial sênior, Siyavuya Bulani, ambos da Assaf.

Em uma apresentação sobre a genômica aplicada a produção sustentável de alimentos, o Acadêmico Paulo Arruda explicou que o futuro do planeta depende do desenvolvimento de tecnologias para a produção sustentável de alimentos. E, nesse cenário, a genética é crucial para o avanço do conhecimento e desenvolvimento de tecnologias para a segurança alimentar. A genômica – estudo do genoma completo de um organismo, em particular, surge como um pilar para o avanço do conhecimento na biologia de organismos vivos e suas interações.

Neste contexto, Arruda apresentou o Centro de Pesquisa em Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas, do qual é o pesquisador responsável. O projeto, sediado na Unicamp e apoiado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Brasileira (Embrapa) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp), propõe a operação a longo prazo de um pipeline de biotecnologia vegetal com o objetivo de promover a inovação, a geração e a transferência dos ativos biotecnológicos resultantes da adaptação de plantas às mudanças climáticas para a sociedade através do setor agrícola.

O Acadêmico destacou ainda que o projeto já contou com parcerias diversas,  com  instituições e pesquisadores nacionais e internacionais.

Jin Chen, da CAS, trouxe para a reunião o seguinte questionamento: será que os países do BRICS podem trabalhar juntos numa tentativa de economizar 30% flora do mundo, enquanto fornece estrutura de trabalho e esperança para conservação global de plantas? O pesquisador relatou que a conservação da diversidade de plantas pode ser um importante tema para a cooperação no BRICS, o que pode fornecer um compromisso significativo com a governança global.

Soodyall e Bulani, da Assaf, destacaram  o papel da estratégia bioeconômica no desenvolvimento de tecnologias avançadas, associadas a produtos e serviços, para atender as necessidades de inovação nos setores da saúde, indústria e agricultura.

Durante a sessão de discussão do painel, o presidente da ABC reforçou o potencial da bioeconomia como um grande e útil projeto para o Brasil e trouxe para o debate os desafios para implementá-la no país.

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