Inspirado pelos pais, Alexander Birbrair aprendeu a gostar de ciência logo cedo. Com pai e mãe da área matemática, Alexander cresceu admirando aquele estilo de vida refenciado na ciência e desenvolveu o hábito de se perguntar o porquê das coisas, essencial para a carreira de cientista. Agora, o novo membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências investe sua curiosidade na pesquisa dos microambientes teciduais, conduzindo uma investigação sobre a função de cada componente celular dos tecidos sob diversas condições fisiológicas e patológicas.

Nascido em Voronej, na antiga União Soviética, ainda menino Alexander e sua família passaram por Israel, Rio de Janeiro e Valladolid (na Espanha), mas a maior parte de sua infância e adolescência foi passada em Fortaleza, no Ceará. Ele conta que foi uma infância bem feliz, praticando atividades ao ar livre, pois adorava surf, capoeira e futebol. E revelou: “Quando era criança do que eu menos gostava era de estudar. ”

Ainda assim, tinha suas matérias favoritas na escola: biologia e história. O Acadêmico explicou que as professoras foram essenciais nesta escolha. Na Espanha, teve uma muito boa de botânica, e outra de história, no Brasil, que lhe dava liberdade para escrever o quanto quisesse nas provas. A empatia fez com que desenvolvesse um apreço especial por estas duas disciplinas.

Às vésperas do vestibular, Alexander optou por medicina. Até então não sabia da existência do curso de biomedicina, mas um acidente sofrido na adolescência já o instigava a seguir a área: “Devido a alguns problemas médicos, principalmente por ter caído numa fogueira quando morava na Espanha e ter ficado internado duas semanas no hospital com queimaduras de segundo grau, eu sabia que queria trabalhar na área médica, descobrindo novos procedimentos de cura. ”

Na hora da escolha das universidades em que gostaria de estudar, um critério inusitado surgiu: amante de surf e praia, as universidades deveriam estar localizadas em cidades litorâneas. Assim, prestou vestibular em quatro cidades: Florianópolis, Fortaleza, Ilhéus e Rio de Janeiro.

Por escolha ou destino, os pais de Alexander acabaram inscrevendo-o no vestibular de biomedicina da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), em Ilhéus, ao invés do de medicina. Com medo do filho não ser aprovado em medicina, graças a uma prova obrigatória de inglês – língua da qual Alexander não sabia nem uma palavra -, seus pais acabaram por apresentá-lo a sua futura carreira. “Pesquisei na internet o que era o curso e descobri que era exatamente o que eu sonhava e queria fazer: o caminho mais curto para virar cientista na área médica e ter a capacidade de descobrir curas novas”, lembrou o cientista.

Em 2005 ingressou no curso e, em 2009, formou-se em biomedicina pela UESC. Sobre este período, mostrou gratidão aos professores que o orientaram em suas pesquisas: “Durante minha graduação, os meus orientadores da Bahia, Rachel Passos Rezende e João Carlos Teixeira Dias foram essenciais nos meus primeiros contatos com a vida laboratorial, pois me deram muito liberdade dentro do laboratório. E também, no final da graduação, ter trabalhado no laboratório da professora Helena Nader na Unifesp me impulsionou bastante a ser bem proativo. ”

Entre 2010 e 2014, Birbrair realizou o doutorado em neurociência na Wake Forest University, Carolina do Norte, nos Estados Unidos. Lá também recebeu grande apoio de seu orientador, o professor Osvaldo Delbono. Ele conta que apesar de estudarem principalmente a fisiologia do músculo esquelético, seu interesse por células-tronco foi prontamente aceito e apoiado no laboratório.

Buscando seguir na pesquisa de células-tronco, entre 2015 e 2016, o cientista realizou um estágio de pós-doutorado em biologia celular no Albert Einstein College of Medicine, em Nova Iorque. Durante este tempo, trabalhou no laboratório do professor Paul Frenette, renomado cientista da área de células-tronco.

Atualmente, Birbrair tem se voltado para a descoberta das funções de diferentes tipos de células em diferentes tipos de tecidos. Trabalhando no laboratório da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também atua como professor, o Acadêmico desenvolveu tecnologias modernas que possibilitaram colorir os diferentes tipos de célula.

Ele explica que esta técnica realizada na UFMG facilita a análise dos tecidos, ajuda na compreensão de como as células se comunicam e de como uma célula-tronco consegue se transformar em outra célula. “Essas análises contribuem para projetos com outras universidades do Brasil e de fora em pesquisas com temas como Alzheimer, doenças no sistema nervoso central, zika, malária, leishmaniose, doença renal, entre outros assuntos”, explicou o cientista.

Birbrair conta que sempre teve a vontade de trabalhar fazendo algo importante para a humanidade e viu na ciência esta oportunidade: “Na ciência, me encanta a independência, o sentimento de ter nas suas próprias mãos o poder de mudar o mundo, de descobrir algo melhor, algo que realmente faça a diferença na humanidade”.

Sobre o título recebido da Academia Brasileira de Ciências, o cientista brincou: “É um sentimento muito bom e uma honra ser eleito para a ABC, é como ser convocado para a seleção brasileira”. Como membro afiliado, Birbrair pretende dar continuidade ao trabalho que tem realizado, fazer grandes descobertas e avançar no caminho da cura para as doenças que estuda.

“A oportunidade de estar na ABC é ótima para conviver com pesquisadores de excelência de todas as áreas da ciência. Acredito que grandes descobertas hoje em dia são multidisciplinares, por isso pretendo aprender muito com os colegas da ABC, e espero traduzir isso em produtividade”, completou o novo Acadêmico.