No evento Grandes Projetos de Colaboração Internacional da Ciência Brasileira, realizado em parceria da Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) nos dias 12 e 13 de setembro, na sede da ABC, vários projetos foram apresentados.

O Acadêmico e físico Paulo Artaxo Netto  apresentou o LBA, sigla em inglês para Programa de Grande Escala da Biosfera e Atmosfera da Amazônia, com 30 anos de operação contínua, informando que o LBA é um programa de pesquisa integrada do ecossistema amazônico. o O desenvolvimento do projeto da Torre ATTO [Amazon Tall Tower Observatory] também foi apresentado, pelo seu coordenador, Antonio Manzi, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

“A Amazônia é uma região única, um mosaico hidrológico, climático e socioeconômico com impactos globais. É componente chave no sistema terrestre”, lembrou Artaxo. Liderado pelo Brasil, o LBA é o maior projeto de cooperação científica internacional já criado e visa explicar o funcionamento da Amazônia como uma biosfera regional. Para tanto, busca entender como as mudanças nos usos da terra afetam o clima regional e global e como as mudanças climáticas globais afetam o funcionamento biológico, químico e físico da floresta e sua sustentabilidade.

Criado através de acordos internacionais de cooperação científica, o LBA recebe financiamento de diversas agências de fomento brasileiras, da NASA (órgão oficial de pesquisas espaciais dos Estados Unidos) e da União Europeia. O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) – é o responsável pelo gerenciamento do programa, enquanto o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) responde pela coordenação científica do projeto e por sua implementação.

Em 2012, o Edital CNPq-LBA investiu R$ 10 milhões no programa. A Fapesp investiu R$ 20 milhões nos últimos cinco anos. Mas houve uma brusca queda no aporte de recursos para o projeto em 2017.  E os números do projeto, até então em franca ascensão, foram congelados, apesar de bastante expressivos: foram 2.195 artigos publicados em revistas científicas indexadas e mais de 50 artigos na “família” Science e Nature. O projeto gerou ainda 351 teses de doutorado, 505 dissertações de mestrado, 11 livros, 40 capítulos de livros e mais de 5 mil pessoas foram capacitadas. “O LBA ainda criou ou fortaleceu um curso de doutorado, quatro de mestrado, dois bacharelados e uma licenciatura. E todos os dados coletados pelo LBA são de livre acesso”, ressaltou Artaxo.

Os trabalhos conjuntos em mais de 130 projetos de pesquisa contam com cerca de 1000 pesquisadores de 40 instituições brasileiras, além de outros 15 organismos estrangeiros de países da Bacia Amazônica (Venezuela, Peru, Bolívia, Colômbia e Equador), bem como colaborações e intercâmbios com instituições americanas e de outros oito países europeus.

O ecossistema amazônico, de acordo com Artaxo, é fundamental na manutenção do ciclo de carbono global. “Ele armazena 100 a 120 bilhões de toneladas de carbono em sua biomassa”, ressaltou. O rio Amazonas é responsável por 18% da água fresca que chega aos oceanos e o bioma contem quase 20% da biodiversidade mundial.

Mas a expansão da agricultura e a variabilidade climática são ingredientes críticos na transição da Amazônia. Mudanças no ciclo hidrológico, que está se intensificando, e no equilíbrio de energia estão sendo registrados na região. “As interações entre as mudanças no uso da terra e as mudanças climáticas globais estão gerando desequilíbrio. E a Amazônia é uma região crítica no transporte de vapor d’água sobre a América do Sul.”

Os períodos de seca, no entanto, só fazem aumentar. Nem todas as causas, que são variadas, são conhecidas, segundo Artaxo. Mas a mortandade de árvores comprova o aumento. “O ecossistema está se savanizando, está em risco”. E a população corre risco também. Os 20 milhões de habitantes saem prejudicados com a disfunção do ecossistema, que afeta suas fontes de renda. A região hospeda 300 povos indígenas, com grande diversidade linguística.

Com o acordo de Paris, o Brasil assumiu um compromisso de restaurar 12,5 milhões de hectares de floresta. E, para tanto, vários experimentos estão sendo conduzidos.

O experimento GoAmazon 2014/2015, parte do LBA, analisou como as emissões de poluentes da cidade de Manaus interagem com as emissões biogênicas naturais da floresta e como esses poluentes impactam no clima da floresta e no funcionamento do ecossistema.

O experimento de campo CAFE-Brazil estuda a química da atmosfera. “Ele conta com instrumentação e estratégias modernas e pretende estudar a química gasosa na alta troposfera amazônica”, relata Artaxo. Este estudo está sendo desenvolvido em parceria do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e da Universidade de São Paulo USP com quatro instituições alemãs. O Instituto de Química Max Planck coordena o projeto.

A torre Atto

O coordenador do projeto Torre Atto, o físico Antonio Manzi, do INPE, completou a apresentação de Artaxo. Construída em parceria com a Alemanha para estudos de ambos os países, a torre Atto está com a parte brasileira comprometida, dado que o governo não está pagando sua parte. “Até 2016, estava sendo financiada meio a meio. Desde então, a Alemanha já botou 6 milhões de euros para  manutenção do sítio experimental e o Brasil, apenas um milhão de reais. Estamos em grande desvantagem em relação aos alemães”, alertou o pesquisador.

O local para sua construção foi escolhido em função dos ventos e do entorno de florestas pouco impactadas por ação humana. O governo do estado teve que construir uma estrada para possibilitar o acesso. “As torres anteriores, construídas em 2010 e 2012, tinham apenas 80m. A torre Atto tem 325 metros de altura, e é fina, para não impactar o ambiente. Mede-se o que o vento traz e a torre mais alta consegue maior representatividade do sistema”, explicou Manzi.

Mas é preciso, segundo Manzi, reverter essa situação de desvantagem. “As observações atmosféricas feitas a partir da torre Atto vão gerar uma nova ciência. Temos que garantir nossa participação, pois a Amazônia é a chave da sustentabilidade global e um fantástico laboratório para ciência inovadora”, concluiu o físico.