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Invisíveis a olho nu e aos olhos vestidos que habitam fora do laboratório, dendritas, capilares e fibras – estruturas minúsculas que formam o organismo dos seres vivos – ganham a atenção do grande público, ampliados em tamanho de telas que transformam ciência em arte. Acostumados a estar sob as pequenas lentes do microscópio e do olhar minucioso de biólogos, neurologistas ou químicos, essas e outras estruturas corriqueiras no dia a dia de cientistas são colocadas sob uma nova perspectiva na mostra “Mundos Invisíveis”, produção do ArtBio em exposição no Museu do Amanhã, Rio de Janeiro, até o dia 7 de janeiro.
Iniciativa do neurocientista Stevens Rehen, membro do Conselho Científico do museu e ex-membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (2008-2012), da jornalista Paula Carneiro e do fotógrafo De Aquino, o Artbio é um coletivo que pretende unir ações culturais e divulgação científica, e estimular o compartilhamento de conhecimentos e a troca de experiências, segundo Rehen. Criado há pouco mais de três anos, o projeto tem parceria com cientistas e artistas de diferentes países e visa disseminar a ciência na sociedade. As obras já foram expostas no Rio de Janeiro no Museu da Maré, no Aeroporto Internacional Tom Jobim e, agora, estão no Museu do Amanhã.
A exposição tem foco nas chamadas ciências duras (matemática, física, química e engenharia), mas contempla também as ciências humanas, como pode ser também observado nas mostras de 2015, “Nós Cegos”, e de 2016, “Antropo.Cena”. Nelas, é possível perceber a associação da arte com a sociologia, a antropologia e até a filosofia.
Para Rehen, é crucial levar ao público o cotidiano do cientista e desmistificar a carreira. “Nós, cientistas, ainda somos invisíveis para a maior parte da população brasileira, que tem dificuldade em perceber a importância estratégica da ciência para o desenvolvimento do Brasil”, avalia ele. “É fundamental uma maior aproximação entre ciência e sociedade. Uma das formas disso acontecer é através da arte”, acrescenta o neurocientista.
O estoquista Uberlan De Souza e a microempresária Cíntia Silva visitaram a exposição e descobriram uma série de conceitos que não conheciam. “A gente ouve falar de ciência, mas não sabe como é de fato. As imagens mostram de uma forma didática e artística o que ela é”, diz Uberlan. “Vista em tela, a ciência fica atrativa. Digo isso porque ela não é algo que as pessoas veem como interessante, geralmente”, afirma Cíntia.
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É para mudar este estigma, de que a ciência é um assunto desinteressante ou difícil, que a divulgação científica é incentivada pelo ArtBio. Para Rehen, “é uma maneira de prestar contas sobre o que fazemos, receber apoio e inspirar novas gerações”. O cientista confia ainda à divulgação um valor político. “É imprescindível que cientistas dialoguem com a classe política, que é, em sua maioria, analfabeta em ciência”, defende.
adriana.jpgGerente de conteúdo do Museu do Amanhã, Leonardo Menezes avalia como positiva a recepção do público. Para ele, as imagens são uma forma de aproximar as pessoas do trabalho de cientistas de diferentes áreas. “Os relatos têm sido de orgulho sobre os avanços da pesquisa científica brasileira, capaz de inovar ao produzir, ao mesmo tempo, imagens de grande beleza e valor estético”, afirma.
Um exemplo de como a ponte entre arte e ciência foi construída de maneira eficiente é a experiência da servidora pública Adriana Tangerino. Para ela, a exposição revela que qualquer elemento pode ser arte, basta ser vista assim pelos olhos do autor. “Cristais de colesterol podem virar essa tela linda que vemos aqui. São coisas inimagináveis e que tomam uma nova forma”, diz.
A exposição “Mundo Invisíveis” fica no segundo andar do Museu do Amanhã, até o dia 7 de janeiro. A entrada é gratuita somente às terça-feiras. O museu abre de terça a domingo, das 10 às 17h. Mais informações em https://museudoamanha.org.br/.