A afinidade do paraense Igor Schneider com a biologia e o mundo da ciência está nos genes. Os pais do jovem pesquisador de 35 anos, que foi eleito membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências (ABC) para o período 2016-2020, são não apenas biólogos, mas também membros titulares da ABC. A influência dos Acadêmicos Maria Paula Schneider e Horacio Schneider fez com que o interesse pela área nascesse dentro de casa.

Igor nasceu e passou a infância em Belém, onde cresceu cercado por muitos primos, com quem jogava futebol, bola de gude e andava de bicicleta. Embora tenha trilhado o caminho da ciência, Schneider, na escola, tinha história como a matéria preferida. Diferentemente dele, suas irmãs não seguiram a profissão dos país: uma é juíza do trabalho e outra faz pós-graduação em literatura portuguesa.

Os livros também estimularam o afiliado a optar pela carreira científica. “O interesse em ciência surgiu na escola e em casa, através dos meus pais e por autores de livros de ciência para o público em geral, como Carl Sagan e Stephen Hawking, e de ficção científica, como Isaac Asimov”, conta. “Eu sabia que queria fazer pesquisa científica na área biológica, mas na faculdade eu me preocupava muito em tentar descobrir qual seria a linha de pesquisa mais promissora no futuro.”

A graduação de Schneider foi em ciências biológicas pela Universidade Federal do Pará (UFPA), onde hoje é professor adjunto. Ele chegou a fazer iniciação científica em um laboratório cujo foco era estabelecer procedimento de fertilização in vitro em bovinos. Em seguida, fez estágio num laboratório de biologia molecular, estudando polimorfismos no gene do hormônio de crescimento, também em bovinos. “Mais tarde, já na pós-graduação, decidi que o importante seria escolher uma linha de pesquisa que me satisfizesse intelectualmente.”

O mistério da regeneração de membros em anfíbios

Foi nos estágios na área de fertilização in vitro e em biologia molecular que surgiu o interesse na genética que rege o desenvolvimento. Assim, Schneider seguiu essa linha no doutorado pela Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, sob a orientação da Dra. Diane Slusarski. “Com ela aprendi a pensar em hipóteses testáveis, desenhar e realizar experimentos, ler artigos com olhar crítico e escrever texto científico.” No pós-doutoramento feito na Universidade de Chicago, sob supervisão do Dr. Neil Shubin, Schneider diz que aprendeu a valorizar as grandes ideias e a buscar originalidade.

Atualmente, o afiliado coordena projetos de pesquisa na área de evolução de tetrápodes e regeneração de membros. Entre os animais que possuem patas (ou braços e pernas, como nós), apenas anfíbios da ordem urodela (salamandras e tritões) são capazes de regenerar seus membros ao longo de toda vida. “Meu grupo de pesquisa está focado em compreender por que esta capacidade regenerativa está restrita a este grupo.”

Para isso, eles estudam os genes utilizados durante a regeneração em salamandras e em espécies de peixes também capazes de regenerar suas nadadeiras. “No futuro, é possível que a descoberta de um programa genético comum de regeneração possa ser útil para o avanço na medicina regenerativa em seres humanos”, explica Schneider.

“A liberdade de poder se encantar e tentar compreender como a vida surgiu e evolui, gerando os seres vivos que vemos hoje e que encontramos no registro fóssil, é o que me atrai na ciência”, relata Schneider. Casado e pai de dois filhos, nas horas vagas o biólogo gosta de tocar bossa nova no violão, ler ficção científica e viajar com a família.

“Ter sido indicado como membro afiliado da ABC é uma grande honra e um enorme estímulo para buscar excelência na pesquisa que realizo”, afirma o jovem cientista (com a Acadêmica Maria Paula Schneider na foto). Ele pretende aproveitar eventos nacionais, regionais e locais da ABC para enfatizar a importância da pesquisa básica para a solidificação e o crescimento da ciência no país e, especialmente, na região Norte. “Aqui temos a Amazônia, com sua enorme biodiversidade de fauna e flora ainda pouco estudada.”