Quando estava na idade de ingressar no ensino médio, Fernando de Carvalho da Silva, eleito membro afiliado do Rio de Janeiro da Academia Brasileira de Ciências para o período 2016-2020, fez o teste para o Colégio Naval, em Angra dos Reis, já se preparando para a carreira militar que almejava. Aprovado em todos os quesitos teóricos, foi reprovado no teste físico por seu grau de miopia, considerado alto.

Nascido e criado em São João do Meriti, município da Baixada Fluminense, Fernando se viu então numa aflição por não saber qual ramo profissional seguir, recorrendo a testes vocacionais para descobrir as áreas para as quias tinha mais aptidão.

O rapaz chegou a considerar fazer matemática, disciplina na qual tirava boas notas na escola, mas acabou optando pela química, após ser levado pelo professor e Acadêmico Vitor Francisco Ferreira ao laboratório da Universidade Federal Fluminense (UFF), montado em um banheiro desativado de 10m². “Confesso que, ali, decidi definitivamente que a química e, em especial, a química orgânica, seria meu universo profissional. Atualmente, [eu e o professor Ferreira] trabalhamos juntos, dividimos o mesmo laboratório na UFF e somos colegas de departamento”, conta.

Nova indecisão

Vencida esta etapa, faltava escolher a universidade. Em 1996, Fernando da Silva prestou vestibular para a Uerj, UFRJ e UFF. Na primeira, não conseguiu passar para a segunda fase do vestibular, mas foi aprovado em 6º lugar na UFRJ, onde chegou a se matricular, antes de saber que também havia passado em 13º lugar na UFF. “Novamente, uma indecisão. Foi então que, mais uma vez, Vitor Ferreira convenceu-me fazer a matrícula na UFF. Ainda fui aconselhado por ele a fazer um pedido formal de desligamento a UFRJ, pois ele dizia que assim eu estaria dando a chance a outro aluno de ingressar na universidade. “

Desse modo, Silva ingressou na UFF em 1997, aos 17 anos. No começo do curso, dependeu dos pais para arcar com os custos de transportes, alimentação e xerox, mas no ano seguinte foi convidado para ingressar como voluntário no laboratório da faculdade, podendo, a partir de então, contar com uma bolsa de estudos.

Concluída a graduação em 2002, o químico, agora formado, entrou no Programa de Pós-Graduação em Química Orgânica da UFF e, em 2007, concluiu seu doutorado na faculdade, sendo orientado em ambos pelo Acadêmico Vitor Ferreira.

Química para uma vida melhor

Fascinado pela capacidade da ciência de tornar a vida das pessoas melhor (ou pior, como o cientista faz questão de acrescentar), Silva lembra da importância das reações químicas para a natureza e para o desenvolvimento industrial. “A química é um importante instrumento para o desenvolvimento socioeconômico do país, pois é responsável por novos medicamentos, defensivos agrícolas, novos materiais para aplicações médicas e eletrônicas. Todos os processos da vida são controlados por reações químicas.”

Dedicado, atualmente, à síntese orgânica, o novo Acadêmico busca descobrir tratamentos para doenças como câncer, tuberculose, malária e dengue. Silva ressalta a importância de se pesquisar e investir na criação de medicamentos para melhorar a qualidade de vida de pessoas vítimas de doenças graves, mas diz que não é um trabalho fácil, ou de retorno imediato.

“Somos o ponto zero dentro de inúmeras etapas até chegar às prateleiras de uma farmácia”, afirma o pesquisador. “No entanto, levar uma substância até sua aprovação como um medicamento disponível para as pessoas é uma tarefa longa, podendo levar até 20 anos e com grandes chances de não resultar em nada. Estatisticamente, é preciso desenvolver a preparação de até 10.000 mil substâncias bioativas para que se aproveite apenas uma delas como um medicamento final. “