No dia 1º de junho, o Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), promoveu uma comemoração dos 100 anos da Academia Brasileira de Ciências (ABC), com uma homenagem ao seu ex-presidente Jacob Palis. Durante o evento, foi realizada uma mesa de debate com o tema “A política de Ciência, Tecnologia e Inovação que o Brasil necessita”, com representantes das principais instituições científicas do país. Ao final do evento, a ABC ganhou uma placa honorífica, instalada no auditório Hertha Meyer.

Os palestrantes foram Marcelo Morales, da Diretoria de Ciências Agrárias, Biológicas e da Saúde do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); José Luis Gordon, diretor de Planejamento e Gestão da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) e os Acadêmicos Wanderley de Souza, presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep); Jerson Lima da Silva, diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e Luiz Davidovich, presidente da ABC.
Davidovich disse considerar natural a iniciativa do IBCCF de usar o momento de homenagem à ABC para promover um debate sobre a ciência no Brasil. “Desde a sua criação, a ABC esteve envolvida com a fundação de órgãos voltados para o desenvolvimento da pesquisa e para a educação no país, então a preocupação e o contato com as diversas instituições científicas do Brasil estão no DNA da Academia.”
A junção do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) com o Ministério das Comunicações foi tema recorrente em praticamente todas as palestras apresentadas no evento. Desde que o presidente interino, Michel Temer, lançou sua proposta de governo, a qual incluía a junção dos Ministérios, a Academia Brasileira de Ciências, assim como a Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência e outras instituições parceiras, posicionaram-se contra a medida. Essa era também parecia ser a posição de todo o público presente, composto por Acadêmicos, estudantes e pesquisadores ligados a instituições científicas, que ocupou boa parte do auditório Hertha Meyer e outra sala com telas, onde as palestras foram transmitidas simultaneamente.

Outro tema bastante citado foram as formas de fazer com que esse debate, sobre o fim do MCTI, enquanto pasta exclusivamente voltada para pesquisa, chegue ao grande público. “As palestras foram muito boas e serviram para reafirmar nossa posição contra o fechamento do Ministério e em favor da ciência brasileira”, afirmou Luiz Davidovich. “Mas o evento hoje foi limitado à comunidade científica. Para que essas discussões tenham consequências efetivas é necessário alcançar os grandes meios de comunicação.”
O Acadêmico Antônio Carlos Campos de Carvalho, professor titular do IBCCF e mediador do debate, afirmou que a comunidade científica ainda está falhando na parte de comunicação para conseguir levar seu posicionamento contra a junção dos Ministérios ao público. “Os artistas conseguiram reverter a junção do Ministério da Cultura, que praticamente só existe no Brasil, ao Ministério da Educação. Claro que nós não temos nenhum Gil ou Caetano, mas temos cientistas bons em comunicação”, considerou.
Roberto Leher, reitor da UFRJ, disse que celebrar a ABC é celebrar a constituição do campo científico brasileiro e lembrou a importância do MCTI para o avanço na pesquisa brasileira desde sua criação, em 1985. “Temos, no Brasil, institutos extremamente complexos, que vão desde pesquisas intergalácticas à agricultura, e todos são reunidos pelo Ministério”, disse o reitor. “É preocupante saber que o campo da ciência terá um outro lugar nas prioridades do governo interino e em nossa ideia de nação e desenvolvimento.”

Instituições presentes

Os representantes das instituições presentes também prestaram suas homenagens à ABC e utilizaram o espaço de suas palestras para mostrar o trabalho de suas organizações no fomento à pesquisa no país.
Marcelo Morales, representando o presidente do CNPq, o Acadêmico Hernan Chaimovich, reforçou a importância da comunidade científica se unir pela volta do MCTI. “Os orçamentos de financiadoras cresceram após a criação do Ministério”, afirmou Morales. “Todos os agentes da ciência devem se unir para não perder o fomento à pesquisa”, completou.
Representando a Embrapii, cujo diretor-presidente é o Acadêmico Jorge Guimarães, José Luis Gordon lembrou a importância de integrar as instituições científicas com a indústria. “A Embrapii surgiu justamente da necessidade de usar o investimento em pessoal para o desenvolvimento da indústria no país para aumentar a inovação.” Em um ano e meio de atuação, a Embrapii já aprovou 102 projetos, o que corresponde a um investimento de 176 milhões.
Em entrevista para a ABC após o evento, o diretor-científico da Faperj, Jerson Lima Silva, também falou da necessidade de aproximar a pesquisa científica das empresas. “Se você não investe em tecnologia dentro do seu país, acaba tendo que importar a inovação e, para isso, é necessário muito dinheiro.” E, como bem lembrou Lima, o país, e o estado do Rio de Janeiro, que financia a Faperj, passam por uma crise financeira.
“Por crises, todos os países passam. É preciso ter consciência de que investimentos em C,T&I são cruciais, pois com o desenvolvimento do conhecimento, formam-se profissionais melhores, que podem ser aproveitados pelas empresas”, exemplificou.
“O professor Jacob Palis sempre lembra a importância de se investir em pesquisa básica”, prosseguiu Jerson. “Sem ela, não teremos as bases para o desenvolvimento. É preciso mostrar para a sociedade a importância da ciência, não só em casos como a epidemia de zika que estamos vivendo, mas sempre.”
Wanderley de Souza, da Finep, também falou com a ABC e elogiou a postura de Academia de promover, constantemente, debates sobre políticas de C,T&I. “Em um momento especial, em que a ABC completa 100 anos de existência, é fundamental que ela faça uma reflexão sobre o que aconteceu ao longo de sua rica história.”

Souza afirmou que o Brasil passa por um momento político e econômico complexo, em que o debate se faz necessário, para que não sejam retirados recursos da área de pesquisa científica. “Qualquer redução orçamentária afeta seriamente a manutenção da infraestrutura existente bem como as atividades de pesquisa e de formação de recursos humanos.”