Os pesquisadores Aquilino Senra Martinez (Coppe/UFRJ), Fernando Antunes (UFC), Maurício Tomalsquim (EPE) e Elbia Gannoum (ABEEólica)

De acordo com dados do Balanço Energético Nacional (BEN) da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), 78% da energia produzida no Brasil no ano de 2014 eram de matrizes renováveis, bastante superior à média global de 22% em 2013, segundo a Agência Internacional de Energia.
Esse crescimento é um índicador bastante positivo. Além de a média global de geração de energia por fontes renováveis ser baixa, no mundo o uso de carvão como fonte de energia é de 41%. Essa fonte, não renovável é uma das mais poluentes que existem.

As fontes de energia alternativa foram o tema da mesa de abertura do terceiro dia da Reunião Magna 2016, comemorativa dos 100 anos da Academia Brasileira de Ciências, realizada no Museu do Amanhã, no centro do Rio de Janeiro, entre 4 e 6 de maio.

Energia hidrelétrica


Maurício Tomalsquim, presidente da EPE, abriu o debate sobre energia na Reunião Magna falando sobre o potencial hidráulico do Brasil. O país é o terceiro com maior capacidade de produzir energia por represas, ficando atrás apenas da China e da Rússia.
Atualmente são utilizados cerca de 34% desse potencial. “Não vamos usar 100% das fontes hidráulicas do país, porque isso teria impactos ambientais, mas 50% é economica, social e ambientalmente viável”, ponderou Tomalsquim.
Só o bioma amazônico representa 42% da capacidade do país. Desse total, estima-se que é viável utilizar 59%. “Desde que se mantenha uma matriz limpa, vale a pena utilizar o bioma amazônico”, comentou o pesquisador.
Energia eólica

Para falar sobre a produção de energia eólica no país, foi convidada Elbia Gannoum, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica.
O país é rico em potencial eólico, assim como hidráulico, segundo a pesquisadora. As áreas de maior potencial, ou com “ventos melhores”, são o Nordeste e o Sul, onde estão sendo construídos parques eólicos, mas a diferença entre ambos é grande. No Nordeste são produzidos cerca de 7,6 GW de energia, enquanto no Sul a produção é de 1,8 GW. “No interior do Brasil, em terras áridas, com poucas oportunidades econômicas, como o sertão, tem os melhores ventos do mundo”, afirmou Elbia. “Países europeus e os Estados Unidos, por exemplo, oferecem subsídios para as empresas instalarem parques eólicos. No caso do Brasil é de interesse das empresas, pois é barato e competitivo.”
Embora o Brasil não esteja tão bem colocado na produção de energia eólica (é o décimo país no ranking de 2015, produzindo 8 GW), é o quarto país que mais investe em energia eólica no mundo. “Este ano, os parques eólicos brasileiros estão produzindo cerca de 11 mil GW e a estimativa é que, até 2019 sejam 18 mil GW”, projetou Elbia.
“Como os parques são instalados no interior do Brasil, não competem com outras atividades”, apontou a pesquisadora. “Na verdade, essa atividade se soma a práticas como a agricultura e a pecuária”, avaliou.
O desafio agora, segundo Elbia, é conseguir mais financiamento, para a construção de mais linhas de transmissão.
Energia solar

Uma outra opção para a produção de energia de forma limpa e renovável é a energia solar, que possui uma vantagem destacada pelo professor Fernando Antunes, da Universidade Federal do Ceará. “Um dia, as energias de biomassa e do carvão vão acabar. A energia solar é eterna.”
Outro destaque referido pelo professor sobre essa opção é a praticidade das placas receptoras de energia solar, que ocupam bem menos espaço do que hidrelétricas, por exemplo. “Em Balbina [usina hidrelétrica localizada em Manaus (AM)] a área ocupada é maior do que a de Itaipu [localizada em Foz do Iguaçu, no Paraná, na divisa do Brasil com o Paraguai], sendo que ela produz um terço da energia”, comentou o professor. “Áreas de hidrelétricas chegam a 14 mil Km², sendo que uma placa de 2,6 mil Km² de energia solar alimentaria o país todo”, afirmou.
Energia nuclear

Outra fonte de energia limpa, barata e reutilizável é a energia nuclear. Esta, porém, é mais controversa, por conta de acidentes em usinas ocorridos em vários lugares do mundo e que causaram danos eternos a regiões como a cidade de Chernobyl, na Bielorrússia.
“Todas as formas de geração de energia têm impactos no meio ambiente”, disse o pesquisador do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe/UFRJ), Aquilino Senra Martínez.
Entre as aplicações possíveis da energia nuclear, Martinez citou a medicina, a indústria, a agricultura, a dessalinização da água, além, é claro, da produção de eletricidade.
“Poucos países têm um sistema tão bem estruturado para a produção de energia nuclear como o Brasil”, afirma o pesquisador, citando a estrutura de pesquisa que envolve universidades como a Universidade de São Paulo (USP) e a Federal de Pernambuco (UFPE); empresas como as Indústrias Nucleares do Brasil (INB); a Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep) e centros de pesquisa como Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), Instituto de Engenharia Nuclear (IEN) e Centro Tecnológico do Exército (Cetex).
Para a produção de energia nuclear há um ciclo que começa na mineração e chega às aplicações, comentadas anteriormente. Nesse processo, uma das fases é o enriquecimento do urânio, subproduto do fosfato, existente em reservas subterrâneas. “As reservas em processo de exame somam 300 mil toneladas de urânio, mas a projeção é de 500 mil”, informou o pesquisador.
Martinez não relevou os aspectos negativos como os potenciais acidentes de grande impacto ambiental, os altos custos de produção e o depósito de lixo radioativo. “O acúmulo de lixo é um problema ético, pois nos beneficiamos da energia hoje e deixamos a radiação para as gerações futuras”, comentou Martinez.