A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) divulgaram, no dia 6 de maio, um manifesto em defesa da manutenção do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e de suas agências diante da iminente saída da presidenta Dilma Rousseff do governo.
“O MCTI não deve ser desmembrado nem juntado a outro ministério, mas deve ser preservado também em termos de receber o combustível que o faça funcionar, isto é, o financiamento adequado para que o ministério e suas agências possam continuar servindo ao Brasil, como serviram em anos, quando tinham o orçamento suficiente”, disse à Agência Brasil o presidente da ABC, Luiz Davidovich.
No manifesto, intitulado Em defesa de uma política de Estado para a ciência, a tecnologia e a inovação, os cientistas demonstram preocupação com os possíveis rumos do setor na mudança de governo. Na próxima semana, o plenário do Senado vai votar o parecer da Comissão Especial do Impeachment pela abertura do processe contra Dilma. Se aprovado, a presidenta será afastada por 180 dias e o vice-presidente Michel Temer assumirá o governo.
Investimentos em C&T
Além da manutenção da pasta em um eventual governo Temer, Davidovich também defende a ampliação de investimentos em Ciência e Tecnologia. Segundo o cientista, o Brasil está indo na contramão da maioria dos países e cortando recursos da área, sob o argumento da crise econômica. “É nela [na crise] que precisamos ativar os motores que são básicos para o desenvolvimento, para que o país possa superar a crise de forma sustentável”, ponderou.
Segundo o presidente da ABC, o corte de bolsas para pesquisadores, por exemplo, é quase um “crime de lesa-pátria”, porque está “matando os futuros cientistas que o Brasil vai precisar para ajudar o desenvolvimento nacional”.
Para o cientista, os investimentos em ciência, tecnologia e inovação podem inclusive agregar valor aos produtos brasileiros e reduzir a dependência do país do preço das commodities (produtos básicos, geralmente agrícolas ou minerais comercializados no mercado externo). “Estamos bem quando as commodities estão em alta, estamos mal quando elas estão em baixa. Não temos condições de controlar esses ciclos, exatamente porque nossa exportação está pouco diversificada. Temos que trabalhar nisso”, analisou.
O Brasil investe atualmente menos de 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em ciência e tecnologia. A ABC defende, desde 2010, que esse investimento alcance, em 2020, 2% do PIB. Segundo Davidovich, a atual situação da ciência e tecnologia no país com os recentes cortes de gastos é “dramática”.
O manifesto em defesa da manutenção do ministério foi divulgado durante o encerramento da reunião magna da ABC, em comemoração do centenário da instituição, fundada em 3 de maio de 1916.