A revista Veja publicou, em 06/12/2014, matéria que diminui a Ciência Brasileira e também notáveis cientistas nacionais, tomando por base a publicação de artigos em revistas científicas ”open access”, por ela classificadas como sendo de baixa qualidade.

A discussão de qualidade em ciência é sempre importante e necessária, mas a forma de fazê-lo tem que ser mais exata e transparente. Não foi o que aconteceu com a reportagem da Veja.

Com base em publicações científicas em revistas com revisão por pares bem classificadas internacionalmente, cabe ressaltar ser notável o patamar alcançado pela ciência brasileira na última década, tanto em termos quantitativos como qualitativos. Ocupar a 13a posição no ranking mundial como nação produtora de ciência de qualidade é motivo de orgulho para a população brasileira. Ao mesmo tempo, em várias áreas da Ciência, o Brasil tem posições de destaque em termos da média de citações em relação à média mundial, a qual normalmente concentra-se nos países cientificamente avançados (InCitesTM, Web of Science). Isso só foi possível graças às agências de fomento à pesquisa científica, principalmente a CAPES.

Se o Brasil em todos os rankings internacionais ocupasse posição semelhante à que ocupa na ciência, pertenceríamos ao rol das nações desenvolvidas.

Classificar todas as revistas ”open access” como de baixa qualidade é uma grande falácia. Isso não quer dizer que neste grupo de revistas não haja aquelas de baixa qualidade científica, como também ocorre com as revistas impressas. Nas áreas biológicas, as revistas de acesso livre, por exemplo, vêm ocupando posição relevante e alcançando impactos elevados. O mesmo acontece na área de Química, em que a maior sociedade científica de Química do mundo, a American Chemical Society, possibilita aos autores que seus artigos estejam livres para consulta na web.

Outro aspecto essencial sobre as publicações é que o valor de um artigo científico reside mais no seu conteúdo, do que no do veículo de sua divulgação. O Brasil deve se orgulhar do cientista Carlos Chagas ter publicado, na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, todos os dados básicos sobre uma nova doença, a doença de Chagas, indo desde a descoberta do agente etiológico à patologia, e à biologia do vetor da doença que levou seu nome. Graças a artigos como o de Carlos Chagas, as Memórias do Instituto Oswaldo Cruz gozam de grande prestígio internacional.

Assim, o artigo supracitado da Veja perde sua razão de ser. Os destaques e ataques pessoais a notáveis cientistas brasileiros são inaceitáveis. Os citados nessa reportagem publicam artigos que tem excelentes índices de citações em periódicos de alto impacto, eventualmente sim, em revistas ”open access”, até como instrumentos de difusão e de demonstração que acessibilidade ao conhecimento é fundamental para o crescimento científico da humanidade. Cabe-nos, então, rejeitar de forma veemente esses ataques que julgamos absurdos.