Uma equipe de quatro cientistas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), apoiados com recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) se prepara para viajar ao continente antártico no final de dezembro de 2014. Liderados pelo glaciologista e membro da Academia Brasileira de Ciência (ABC), Jefferson Simões, os pesquisadores irão protagonizar a primeira travessia científica brasileira no interior da Antártica.

Serão cerca de 1.400 km percorridos no manto de gelo, com início previsto para 5 de janeiro e final para o dia 31 do mesmo mês. Durante o trajeto, serão feitas amostragens superficiais e a perfuração do neve e do gelo (coleta de testemunhos). Os cientistas enfrentarão temperaturas abaixo de -30°C, tendo que dormir em barracas.

Além da amostragem, que pretende gerar dados para avaliar os impactos antrópicos na atmosfera, ao longo dos últimos 50 anos, como poluição e gases estufa, a travessia tem como objetivo conhecer e preparar o local de instalação do segundo módulo científico brasileiro, o Criosfera 2, que será levado à Antártica no verão de 2015-2016.

Essa travessia científica é parte das atividades do Programa Antártico Brasileiro (Proantar), financiadas pelo MCTI.

 

A travessia

O grupo sai de Punta Arenas (Chile) e vai até o ponto inicial da travessia, a geleira Union (79°45’S, 82°50’W, ± 700 m de altitude), pousando na pista de gelo azul com a aeronave Ilyushin 76. De lá, seguem 520 km por veículos especiais para neve com 3 eixos e tração nas 6 rodas (6 x 6) até chegarem ao módulo científico brasileiro Criosfera 1. Deste local, seguem mais 650 km até o Monte Johns (79°55’S, 94°23’W, com 2.125 m de altitude), onde será instalado o módulo Criosfera 2 no verão de 2015/2016. Daí retornaram até a pista de pouso na geleira Union.

O trajeto em terra será feito com o uso de caminhonetes Toyota Hylux modificadas pela Arctic Trucks, com três eixos e pneus largos, para maior estabilidade sobre a neve. O principal perigo a ser enfrentado pelos pesquisadores são as possíveis fendas no trajeto, que estão sendo monitoradas por sensoriamento remoto a fim de evitar esses trechos.

 

Os Módulos Criosfera 1 e 2

Módulo Criosfera 1, situado a 84°S e distante 2500 km da Estação Antártica Comandante Ferraz. Este é um dos pontos de parada da travessia antártica a ser realizada em janeiro de 2015.

 

Simões ressalta que o módulo científico Criosfera 1 (inaugurado em 2012), já registra os primeiros resultados.

”Já tivemos o registro do aumento de concentração de CO2 na atmosfera, atingindo o valor de 400 ppm (partes por milhão), o que EUA e europeus presentes no continente antártico”, afirma o líder da travessia.