Iniciando a primeira sessão do X Seminário Nacional ABC na Educação Científica, realizado na Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC) em Ilhéus, na Bahia, o Acadêmico Jailson Bittencourt de Andrade contou que é professor desde os 18 anos, quando começou a dar aulas de matemática e depois de física e química para o ensino médio. Hoje, ele atua no Instituto de Química da UFBA e coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Energia e Ambiente. ”Eu não sei fazer outra coisa”, afirmou.

Ele abordou os objetivos da agenda do século XXI a serem alcançados por todos os segmentos sociais: sustentabilidade, interdisciplinaridade e inovação. ”Esta agenda exige mudanças de atitudes significativas no setor empresarial e, especialmente, no setor acadêmico, requerendo uma reconfiguração ampla, desde o ensino fundamental à formação de pós-doutores”, declarou. Para tanto, Bittencourt considera necessárias novas atitudes, novos currículos, novas concepções, novas formas de instituições educacionais e de instituições de pesquisa científica e tecnológica, ”onde a criatividade e a coerência intelectual predominem.” É preciso que os projetos e os cursos se tornem mais intensamente interdisciplinares, em seu ponto de vista. ”A disciplina não é mais o foco, e sim o tema. A inovação requer interdisciplinaridade. Às vezes, pequenas ideias provocam grandes transformações.”

Jailson observou que o planeta está mostrando que precisa de cuidados, a questão da sustentabilidade é premente e nada disso vai ocorrer sem educação. Ele avalia que na área de pesquisa e pós-graduação esta mudança conceitual já está um avançando, mas na graduação ainda é um tabu e, no ensino básico, simplesmente não está sendo desenvolvida. E o Brasil não vai crescer nada nos próximos cinco anos, em sua opinião, se não investir em educação. ”Qualificação de pessoal é a chave para o desenvolvimento tecnológico. A solução é transformar a educação em política de Estado. É uma questão que precisa envolver a sociedade e tem que transpassar governos. O documento da ABC para os presidenciáveis destaca essa questão.”

Bittencourt referiu-se a um exemplo de uma política do presidente Obama que, aparentemente, começa a dar resultado no sentido de manter os EUA na liderança tecnológica e industrial. Partindo do reconhecimento de que o ensino básico nas ciências e matemática é fundamental, são escolhidos 5% dos professores do país – os melhores em cada área – que passam a receber um adicional de salário de 20 mil dólares por ano para treinar outros professores daquela área. ”Não que esse seja um modelo para o Brasil. Nós precisamos de um ato presidencial que crie organizações voltadas para melhorar a qualidade da educação e as instrumentar para que avancem”, disse o palestrante.

Considerando que não basta estimular os professores, pois também é preciso atrair estudantes para as áreas cientificas, Jailson relatou que foi implementado nos EUA um programa de 26 estados americanos – Next Generations Science Standarts – para discutir padrões de educação para a próxima geração e avaliar como esses padrões podem ser equalizados no país. Com relação à educação científica, o programa discute como sair do modelo tradicional de transmissão de conhecimento do professor para o estudante e passar para outro, que mostre o que é ciência, como a ciência esta na vida de todos os cidadãos e por que fazer ciência.

No Brasil, Jailson deu como exemplo de sucesso o Química Nova Interativa (QNint), portal do conhecimento da Sociedade Brasileira de Química (SBQ), cujo objetivo é prover instrumentação em química confiável, atualizada e interativa, para estudantes e professores em todos os níveis de formação. ”O Programa pH do Planeta, parte do Experimento Global da Água, realizado em 2011, teve o Brasil como seu maior provedor de conteúdo: colocamos 31% das informações do programa, enquanto que os EUA contribuíram com 13%. Uma atividade simples, que mobilizou milhares de pessoas em todo o mundo.”

O experimento envolveu as comunidades escolares na determinação experimental de parâmetros relacionados à potabilidade da água, dentre os quais a determinação do pH por comparação de cores, valendo-se de uma escala de calibração e de soluções dos indicadores púrpura de metacresol e azul de bromotimol. No Brasil, o experimento global incluiu a distribuição de um kit simples com os indicadores e a escala de cores. O portal do QNInt centralizou o cadastro de professores, a solicitação de kits de medida de pH e o registro dos resultados obtidos por comunidades em todo o Brasil.

Jailson relatou ainda o sucesso do site Química Nova na Escola, cujo número de acessos ultrapassou a distribuição da versão impressa em muitos zeros à direita. Com uma periodicidade trimestral, a revista oferece subsídios para o trabalho, a formação e a atualização da comunidade do ensino de química brasileiro.

Neste redesenho conceitual do ensino proposto por Bittencourt, as disciplinas precisam conversar. ”O foco tem que ser o bem estar das pessoas. Os programas tem que ser bem desenhados, com objetivos, metas e longevidade determinadas”. Ele considera prioritária a convergência entre ciência, tecnologia, inovação (CTI) e educação. ”Precisamos educar para inovar e inovar para educar. É preciso pensar como cientista e agir como professor. É usar o método cientifico, onde a dúvida é que o importante.