“A neurociência é uma área que, além de muito enigmática, possui enorme potencial de crescimento”, afirma Marcelo de Oliveira Dietrich. Apaixonado pela imprevisibilidade do campo científico, Dietrich acredita que um bom pesquisador deve – acima de tudo – ser criativo, inovador e persistente. A um jovem em idade de prestar vestibular, seu conselho seria que ele seguisse seu coração: “Se sua verdadeira vocação for a ciência, corra atrás e as portas irão se abrir. Caso comecem a te criticar, continue nesse mesmo caminho, pois a chance de estar na direção certa é ainda maior. Ciência é ver o que ninguém antes viu, por isso gera argumento e contradição.”
No caso de Marcelo, foi exatamente isso que aconteceu: desde pequeno, sentia especial inclinação pelo método científico. Caçula da casa, seu pai era médico e a mãe, arquiteta. Apesar de não ter tido durante a infância um modelo de cientista que o influenciasse a seguir o caminho da pesquisa, ele acredita que a mistura das profissões de seus pais talvez o tenha levado a compor esse perfil. Apesar do precoce interesse pela ciência e do gosto que tinha pelas disciplinas de física e matemática, Dietrich teve uma infância tranqüila. Como qualquer garoto de sua idade, passava horas brincando de futebol, subindo em árvores e andando de bicicleta com os amigos.
A escolha certa
Ao terminar o colégio, a única certeza de Marcelo era a de que queria trabalhar na área da ciência. A graduação que desejava cursar, no entanto, ainda era uma dúvida. Hesitando entre os cursos de medicina e física, ele conta qual foi o seu critério de escolha: “Optei pela primeira opção porque o vestibular para medicina era mais difícil e, caso eu passasse e não gostasse, seria mais fácil trocar para física do que o oposto.” Dietrich acabou ingressando na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e logo tomou gosto pelo curso de medicina: ainda no primeiro semestre da graduação, começou a realizar pesquisas em um estágio de iniciação científica.
Quando atingiu a metade do curso, trancou sua matrícula na universidade por um período de dois anos e viajou ao exterior. Em uma época na qual não existia nenhum programa de auxílio financeiro a estudantes intercambistas no Brasil, Marcelo dividiu-se entre a Espanha e os Estados Unidos (EUA).
No primeiro país, viveu cerca de um ano e meio a partir de suas economias e de uma ajuda do Prof. Diogo Onofre Gomes de Souza – que, ademais de seu orientador na UFRGS, tornou-se também uma grande influência na trajetória profissional de Dietrich. “O Dr. Ignacio Torres Aleman, meu orientador na Espanha, também foi essencial em minha formação, pois me abriu portas e me ensinou muito sobre o trabalho árduo que envolve a ciência. Além disso, trabalhei certo tempo no Instituto Cajal e conviver com os livros e artefatos de trabalho da lenda Ramon y Cajal foi muito inspirador”, complementa.
Em seguida, Marcelo rumou à Universidade de Yale, nos EUA, onde realizou trabalhos de pesquisa por aproximadamente nove meses. Lá, atuou sob a orientação do Dr. Tamas Horvath. O professor, segundo ele, se tornou um grande mestre com o qual ele trabalha em colaboração até os dias atuais.
O papel do cérebro na regulagem do apetite
Para se especializar ainda mais, Dietrich obteve um título de doutorado em bioquímica pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da UFRGS e realizou dois pós-doutorados: um também na UFRGS e outro na Universidade de Yale. Atualmente, Marcelo atua como pesquisador do Hospital 12 de Octubre, localizado em Madri, na Espanha. Além disso, é também membro do corpo editorial do Molecular Metabolism Journal e revisor dos periódicos Neurobiology of Aging, Revista Brasileira de Psiquiatria, Journal of Alzheimers Disease e Plos One.
Suas linhas de pesquisa têm como foco o entendimento de como o cérebro regula o apetite das pessoas. “Meu trabalho está diretamente voltado ao estudo dos mecanismos envolvidos na propagação de doenças como a obesidade e a anorexia nervosa. Buscamos encontrar mecanismos-chave que possam nos levar a um melhor entendimento e posterior tratamento dessas doenças”, explica.
Mais uma forma de reconhecimento
No ano de 2012, o cientista foi eleito membro afiliado da ABC. A titulação, no entanto, não foi o primeiro prêmio recebido por Dietrich como forma de reconhecimento a seus esforços no campo científico. Em 2006, ele foi agraciado com o I Prêmio Cristália de Valorização do Cientista Brasileiro e, em 2009, ganhou o 13º Prêmio Jovem Talento em Ciências da Vida.
Tornar-se Acadêmico, no entanto, tem para ele um valor especial: “Fazer parte desse seleto quadro de cientistas é de singular importância para a inserção dos jovens pesquisadores no quadro científico nacional e internacional, dado o renome da ABC nesses âmbitos. Também vale lembrar que o título representa um reconhecimento ao trabalho que desempenhamos muitas vezes em condições sub-ótimas. Acredito que, nos próximos anos, eu possa contribuir, enquanto Membro Afiliado, para o crescimento da capacitação e integração cientifica brasileira.”