Nascido em Curitiba, no Paraná, Marcus Vinicius Domingues aproveitou a infância, brincando com os colegas nas ruas do bairro do Pilarzinho, uma das áreas mais arborizadas da cidade. Pedalava pra todo lado e frequentava as matas próximas às pedreiras que existiam no bairro brincando com os amigos de esconde-esconde, coletando pinhão para depois assar.

Seus pais vieram de famílias simples do interior do Paraná e tiveram que trabalhar desde cedo, tendo ambos parado de estudar ao fim do ensino fundamental. A mãe parou de trabalhar com o nascimento do primeiro filho e o pai sempre trabalhou com comércio.
Irmão do meio de três meninos, todos estudaram em escola pública. Domingues teve uma vida escolar regular, preferindo ciências e história. “Sempre fui fascinado por acontecimentos e pessoas do passado, até hoje adoro as biografias de personalidades científicas”, conta Domingues, que foi o primeiro na família a cursar faculdade e o único a se dedicar à carreira acadêmica.

No ensino médio, Domingues fez um curso de Técnico em Laboratório de Prótese Odontológica pelo Colégio Estadual do Paraná, influenciado por um tio. Mas encontrou muita dificuldade em decidir o que seria na vida com apenas 14 anos de idade. “Numa aula de biologia, porém, a maneira que uma professora apresentava o conteúdo me chamou a atenção e me despertou para a biologia”. Quando chegou o momento de decidir o que escolheria no vestibular, não teve dúvidas e ingressou no curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, na Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Já na graduação, foi bolsista do Programa Especial de Treinamento (PET) em Zoologia, financiado pela Capes, e bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (PIBIC-CNPq). Embora tivesse ingressado no curso sem ideias sobre o campo em que viria a atuar, Domingues conta que, para sua felicidade, uma das disciplinas obrigatórias no primeiro período era zoologia de Invertebrados. “Foi em uma aula prática desta disciplina, me deparando com um mundo de organismos microscópicos cuja existência eu jamais havia imaginado ao observar uma gota dágua de uma lagoa que decidi ser cientista – e mais, decidi ser zoólogo.”

Dentre vários professores que ministravam a disciplina, Domingues conheceu o professor Walter Antonio Pereira Boeger, um profundo conhecedor de taxonomia e sistemática de helmintos parasitos. O que mais lhe chamou a atenção nas aulas de Boeger é que, diferente dos demais docentes e daquilo que Domingues havia aprendido no ano anterior, ele não apresentava o enfoque tradicional de zoologia, onde as características de cada grupo eram apresentadas de maneira compartimentalizada. Ao contrário, Boeger contextualizava as informações taxonômicas com os fundamentos da sistemática filogenética, fato que “chocou” grande parte dos alunos, que esperava a abordagem tradicional de zoologia.

A paixão e a energia com que Boeger explicava conceitos de sistemática filogenética contagiaram Domingues, embora a maioria dos alunos não compreendesse sua importância, mesmo depois da apresentação dos grupos zoológicos sob uma perspectiva genealógica. “Além disso, seu trabalho de pesquisa sobre padrões de associação histórica entre parasitos e hospedeiros também me chamou a atenção. E ao final da disciplina concluí que, definitivamente, havia encontrado minha vocação dentro das Ciências Biológica”, rememora o Acadêmico. Durante o mestrado e doutorado na UFPR, deu continuidade aos trabalhos voltados para a sistemática filogenética e reconstrução histórica. “O desenvolvimento da dissertação de mestrado e a tese de doutorado, ambas sob orientação do professor Boeger, foram um alicerce importante para meu amadurecimento profissional.”

“O bom da ciência é a descoberta: uma pergunta interessante aparece e você consegue respondê-la”, comenta Domingues. Ele se recorda de suas primeiras perguntas, quando entrou na faculdade e folheou um livro de Zoologia do professor Jayme de Loyola e Silva. Ao se deparar com uma figura do ciclo vital de um verme platelminto (Fasciola hepatica), pensou consigo mesmo: “Caramba! Isso é fantástico! Como podem animais tão distintos apresentarem uma interação tão perfeita? Como isso pode ter acontecido na evolução destes organismos?” E a partir destas questões, foi atrás de respostas.

Hoje, Marcus Vinicius Domingues é Professor Adjunto I do Instituto de Estudo Costeiros da Universidade Federal do Pará (UFPA), no campus Universitário de Bragança. Sua linha de pesquisa de segue uma perspectiva evolucionista da Biologia, dentro da Biologia Comparada. Ele trabalha com taxonomia – que é a descrição de espécies – de organismos parasitas de peixes. Ou seja, quando encontra indivíduos até então desconhecidos, os descreve com base em características corporais e dá um nome a eles. “Também procuro estabelecer a relação entre estes organismos parasitos e seus hospedeiros e, assim, contar a história que existe entre eles – que pode ser muito antiga -, o que é conhecido como reconstrução histórica”, completa Domingues.

Perseverança, humildade, honestidade e a vontade de estar sempre aprendendo. Para Domingues, essas são as principais qualidades que caracterizam um bom cientista. E o título de Membro Afiliado da ABC representa, para ele, o reconhecimento do esforço realizado ao longo desses vinte anos desde a graduação. “É um grande estímulo, tanto para mim como para meus alunos de graduação e pós-graduação, no sentido de continuarmos na árdua tarefa de produzir ciência no Brasil.”