No dia 21/9, a revista Science, uma das mais prestigiosas do mundo na área científica, publicou um artigo que traz a descoberta de um gene envolvido na determinação de marcações como listras e pintas na pelagem de felinos. Trata-se da primeira descoberta deste tipo em mamíferos. O estudo foi liderado pelos grupos dos doutores Gregory Barsh, do HudsonAlpha Institute of Biotechnology (EUA), e Marilyn Menotti-Raymond, do National Cancer Institute (EUA), e contou com a participação do Acadêmico e professor da Faculdade de Biociências da Pontíficia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS) Eduardo Eizirik (na foto), além de pesquisadores de várias instituições dos EUA, China, Namíbia e África do Sul.

As manchas na pelagem, que geram fascínio histórico sobre os humanos, variam conforme a espécie, e o padrão exato é individual. A partir delas os pesquisadores conseguem inclusive identificar espécies e indivíduos de felinos na natureza. Em artigo anterior, que foi capa da revista Genetics em 2010, Eizirik e colaboradores haviam identificado duas regiões no genoma do gato doméstico que continham genes determinantes de listras e pintas. Naquele trabalho, o grupo propôs que esses animais fossem considerados modelos para os estudos genéticos deste fenômeno.

Conhece-se, por exemplo, mais de cem genes que influenciam a pigmentação de camundongos, mas nenhum deles era sabidamente envolvido na formação de marcas padronizadas na pele, como pintas e listras, já que esta espécie não apresenta este tipo de característica na sua pelagem. Desta forma, o gato doméstico passou a ser visto como um interessante modelo para um fenômeno que pode ser geral para todos os mamíferos.

O estudo atual investigou em mais detalhe uma das regiões genômicas caracterizadas na análise anterior, identificando e caracterizando um dos genes envolvido nesta característica. O artigo mostrou que mutações neste gene são responsáveis pela diferença entre os padrões de manchas clássicos (também conhecidos como classic ou blotched, com padrão circular) e mackerel tabby (com listras verticais). Ele também induz uma variante conhecida na pelagem do guepardo, na qual as pintas são substituídas por listras irregulares. “Em mamíferos, não se tinha um gene conhecido envolvido na formação do padrão da pele”, destaca Eizirik, para quem essa descoberta é importante para o estudo do desenvolvimento dos mamíferos e, também, da evolução das espécies e sua adaptação ao ambiente. O professor destaca que esse artigo integra várias abordagens distintas, incluindo desde mapeamento genômico e análises populacionais e evolutivas, até diversos experimentos funcionais sobre os padrões de expressão gênica na pele.

Eizirik sugere que, ainda quando embriões, os mamíferos passam por um processo ainda desconhecido de padronização da pele. Num segundo momento, um outro mecanismo genético sintetizaria os pigmentos de forma diferente nas regiões padronizadas pelo processo inicial, originando listras, pintas e manchas. Este modelo foi reforçado e detalhado pelo estudo publicado no dia 21/9. Esse trabalho é fruto de uma das duas linhas de pesquisa que Eizirik mantém em colaboração com demais cientistas. O outro, que aborda a evolução dos mamíferos, também rendeu um artigo para a Science, publicado em novembro de 2011.