Os pais de Danielle da Glória de Souza se casaram muito cedo – ela tinha 15 anos e ele 18 -, tendo que assumir uma família ainda jovens, o que os impossibilitou de adquirir uma formação superior. Oriundos de famílias simples, trabalhavam como comerciantes, o que sempre exigiu deles muito esforço. “Mesmo com todas as dificuldades, meus pais sempre tiveram a certeza de que precisavam dar aos filhos uma boa educação e oportunidades, por isso trabalharam arduamente e de maneira muito focada nos nossos estudos, onde enxergavam a única forma de ascensão”, conta Danielle, a filha mais velha de uma família de quatro irmãos. “Eu realmente me impressiono e me orgulho dos meus pais e é na história deles que encontro inspiração para lutar.”
A jovem cientista teve uma infância feliz, estando sempre rodeada de muito carinho e dedicação. Adorava atividades em grupo e brincava diariamente na rua com outras crianças. “Mas, desde muito cedo, eu era amante dos livros e dedicava grande parte do meu tempo enterrada neles”, revela Danielle. No colégio, ela sempre se encantou por matemática, biologia e literatura – uma disciplina de cada área! Entretanto, a descoberta e o mistério que envolviam as Ciências Biológicas falaram mais alto na hora de optar por um curso superior, e foi essa a graduação que ela concluiu na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Além dela, dois de seus irmãos graduaram-se na mesma universidade – um em Engenharia Química e outra em História. “A caçula ainda não se decidiu”, brinca.
Danielle conta que, ainda no primeiro período da faculdade, começou o estágio de iniciação científica no laboratório do Acadêmico Mauro Martins Teixeira, “seu grande amigo e eterno mestre”, onde também fez o mestrado e o doutorado. “Com ele aprendi tudo que julgo importante para a ciência: ética, disciplina e muito estudo. Além de ser um cientista brilhante, certamente um dos melhores do Brasil, é uma pessoa de generosidade e desprendimento impressionantes.” Hoje, como docente do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB) da UFMG, a bióloga diz se orgulhar muito de pertencer ao grupo “Imunofarmacologia”, chefiado por Teixeira.
E parece que Danielle compreendeu bem a importância da dedicação ao estudo, tão enfatizada por seu mestre: a jovem pesquisadora já concluiu quatro pós-doutorados: um pelo Centro de Pesquisa René Rachou, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz); um pela UFMG; um pela Universidade de São Paulo (USP) e um pela Louisiana State University Health Sciences Center, nos Estados Unidos.
Interação microorganismo/hospedeiro e o tratamento de doenças
Ela conta que o objetivo da sua pesquisa atual é estudar a interação microorganismo/hospedeiro, focando tanto na intervenção da microbiota normal na montagem da resposta imune do hospedeiro quanto na habilidade deste em responder a estímulos nocivos, sejam eles de origem infecciosa ou não. “Acredito que o estudo dessa interação poderá abrir novas possibilidades de estratégias para o tratamento de diversas doenças”, diz Danielle, que espera que seu trabalho contribua efetivamente com a sociedade.
A pesquisadora estuda vários microorganismos de importância médica, como aqueles relacionadoa à dengue, sepse e pneumonias fúngica e bacteriana. “Com o entendimento de mecanismos associados a respostas inflamatórias do hospedeiro, poderemos desenvolver novas estratégias farmacológicas para o tratamento dessas doenças.” Danielle explica que estas são doenças sem tratamentos específicos e associadas a grande morbidade e gastos públicos com o cuidado dos pacientes.
“Ser cientista não é uma profissão, mas um estilo de vida”
Sobre as características primordiais para um jovem se tornar um cientista, a bióloga cita uma vinheta do Canal Futura e afirma que “o que move o mundo são as perguntas, não as respostas”. “Essa frase que eu baseio aé a referência da minha busca constante pelo conhecimento”, declara. Segundo a jovem Acadêmica, a ciência exige uma grande dedicação. “Costumo brincar com os meus estudantes que ser cientista não é uma profissão, mas um estilo de vida. Poder trabalhar com o novo, buscar descobertas e contribuir com um tijolinho na construção do muro do conhecimento é um privilégio.”
Eleita Membro Afiliado da ABC para o período de 2011/2012-2016, Danielle considera o título uma grande honra: “Ele significa a oportunidade de discutir ciência de alta qualidade em todos os níveis, assim como participar de debates sobre políticas cientificas, o que eu acredito que poderá contribuir para o crescimento da ciência no país”.
E os pais que inspiraram Danielle a se dedicar à ciência também a estimularam a formar a sua própria família. Hoje, a bióloga é casada e mãe de dois filhos: Maria Thereza, de cinco anos, e Heitor, com menos de um mês. “E, se tenho nos meus pais o alicerce da minha vida, tenho no meu marido e nos meus filhos a inspiração para a construção de um mundo melhor”, emociona-se a jovem cientista.