Institutos de pesquisa de quatro países vão formar a primeira rede de investigação em biomedicina do Mercosul. O projeto, que durará inicialmente três anos, pretende abordar de forma coordenada o estudo de aspectos biológicos, epidemiológicos e sociológicos de doenças degenerativas da região. A rede de pesquisa vai iniciar os trabalhos ainda este ano.

O Brasil entrará com a experiência da Fiocruz, enquanto a Argentina será representada pelo Instituto de Investigação em Biomedicina de Buenos Aires (Conicet-Max Planck), vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação Produtiva. O Instituto Pasteur de Montevidéu, o Laboratório Central de Saúde Pública do Ministério da Saúde do Paraguai (LCSP) e centros associados (Instituto de Investigações em Ciências da Saúde/Universidade Nacional de Assunção e o Centro para o Desenvolvimento da Investigação Científica completam o grupo.

A rede também atuará na formação de recursos humanos e realizará a aquisição de equipamentos de última geração, além de proporcionar um ambiente de interação para a incubação de projetos inovadores e de desenvolvimento.

Segundo a diretora de Relações Internacionais do ministério de CT&I argentino, Agueda Menvielle, ainda este ano será montada a rede latino-americana de neuroimunomodulação envolvendo diversos laboratórios.

Wilson Savino, pesquisador titular da Fiocruz, membro da Academia Brasileira de Ciências e responsável pelo projeto na instituição, conta que a Fundação, por meio da possível criação de um consórcio entre os países, vai capitanear a maior parte da formação de recursos humanos e que fará uma pequena coleção de células de uso no projeto.

Em termos de infraestrutura, Savino conta que o Uruguai, por exemplo, vai montar baias para startup no Instituto Pasteur de lá. “Não teremos [estrutura como essa] aqui, mas poderemos usar baias do Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde [CDTS], embora não esteja previsto no projeto”.

Os pesquisadores do grupo pretendem estudar males como o Alzheimer, Parkinson; doenças metabólicas como a diabetes, a obesidade e disfunções cardiovasculares; patologias neurológicas como a demência e psiquiátricas como a depressão; imunológicas, com ênfase nas parasitárias, como a doença de Chagas; e genéticas e oncológicas como a distrofia muscular e o câncer de mama.

Recursos

A rede contará com um financiamento de dez milhões de dólares, dos quais sete milhões serão aportados pelo Fundo para a Convergência Estrutural do Mercosul (Focem). A Argentina entrará com cerca de 640 mil dólares à parte do dinheiro que o Focem lhe destinará, para material de consumo, manutenção de equipamentos e construção de laboratórios. Por sua vez, a Fiocruz entra com uma contrapartida da ordem de US$ 600 mil.

Savino conta que assim que os recursos forem liberados, alunos e professores já poderão se deslocar. ” Ainda estamos fazendo a malha desse deslocamento, que não está pronta. Será realizado na forma de disciplinas e de simpósios. Temos uma reunião marcada em março no Paraguai e a ideia é que se defina um plano de ação” , revela o pesquisador. A experiência de integração regional em CT&I poderia se estender a outros setores, de acordo com Agueda, que afirma também que a rede é ” aberta a todos [institutos ou instituições] que quiserem se apresentar” .