André Portela, Ricardo Barros, Amaury de Souza e Elisa Reis

O último dia do “Avanços e Perspectivas da Ciência no Brasil, América Latina e Caribe”, 02/12, teve início com o debate das Ciências Socias, do qual o Acadêmico Ricardo Paes e Barros foi o coordenador. Também participaram André Portela, da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo (FGV-SP), Amaury de Souza, cientista político e membro associado do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (IETS), e a vice-presidente da ABC para a região Rio de Janeiro Elisa Maria da Conceição Pereira Reis, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Igualdade, desigualdade e diferenças

Elisa Reis é doutora em Ciência Política pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), tendo se formado bacharel em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Atualmente professora da UFRJ, a Acadêmica tratou das tensões contemporâneas entre igualdade e diferença, sendo esta última um reflexo desde a época em que existia o povo e a nobreza, ou seja, um fator hierárquico. “A modernidade surge com a tentativa de impor a noção de igualdade, embora ela nunca tenha sido alcançada plenamente”, afirma.

Atualmente, segundo a pesquisadora, é possível notar a ressurgência do valor da diferença através, por exemplo, das políticas de ações afirmativas, que levam em conta as particularidades de um certo grupo. “Do ponto de vista da formulação de política social, é preciso levar em conta a diferença para afirmar a igualdade. Hoje em dia, esse debate está muito acirrado e dividido em diferentes opiniões”.

Para Reis, a interdisciplinaridade é fundamental para a ciência brasileira, pois as soluções técnicas sozinhas não são suficientes para dar conta de todos os problemas. “Os cientistas sociais ajudam as demais áreas do conhecimento iluminando os cenários possíveis, de forma que as políticas implantadas sejam baseadas nas melhores escolhas e não somente um imperativo técnico”.

Medindo indicadores de pobreza

Professor da Escola de Economia de São Paulo da FGV e coordenador do Centro de Microeconomia Aplicada (C-Micro) da mesma instituição, André Portela se graduou em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e cursou mestrado e doutorado em Economia, tendo sido o primeiro pela Universidade de São Paulo e o segundo pela Cornell University (EUA). Sua palestra abordou a “Linha Híbrida da Pobreza e a Pobreza no Brasil”.

De acordo com ele, a definição de pobreza tem importantes consequências para as políticas públicas, pois dependendo de como se defina o que seja pobreza, indicadores sociais são criados e usados como parâmetros na elaboração e avaliação de políticas. “Para efeitos práticos, países e organismos internacionais elaboram diversos indicadores que são apresentados separadamente ou reduzidos a um único indicador, como o Índice de Desenvolvimento Humano [IDH] das Nações Unidas”, explica.

Para a formulação desses indicadores, são levados em conta aspectos como a estrutura da família, o consumo, a renda, a estimação da linha de pobreza, comparações regionais e temporais, entre outros. “O uso de indicadores sociais faz sentido quando estes são reconhecidos pelos cidadãos como elementos que representam importantes valores coletivos e intersubjetivos”, destacou Portela. O economista também afirma que com a crescente conscientização da população através de tecnologias informacionais, as Ciências Socias têm conseguido uma maior interface com esse público, o que contribui para o debate de tais questões.

Uma nova classe média

Amaury de Souza é pesquisador sênior do Instituto de Estudos Econômicos, Sociais e Políticos (IDESP – São Paulo) e membro associado do IETS. Graduado em Sociologia e Política e em Administração pela UFMG, Souza é PhD em Ciência Política pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT).

O cientista discorreu sobre a chamada nova classe média brasileira, que ascendeu socialmente devido a um processo ocorrido nos últimos dez a quinze anos. Segundo ele, essa nova classe conta com aproximadamente 30 milhões de pessoas, que agora estão acima da linha de pobreza. “Ainda assim, é um grupo que enfrenta grandes vulnerabilidades, tem um nível educacional modesto e possui pouco patrimônio”, ressalta, acrescentando que as ocupações, em geral, são de baixa estabilidade, o que gera uma renda variável.

Uma das principais causas dessa mobilidade social, de acordo com Souza, foi a universalização da educação primária no país. “Quando a formação primária aumenta, o retorno de dinheiro é maior devido à capacitação do indivíduo”, explica. A segunda razão é a estabilização monetária, com a diminuição da inflação, e, por último, o aquecimento econômico do mercado de trabalho no Brasil, que em parte se deve aos produtos importados pela China nos últimos dez anos.