O Acadêmico Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe-UFRJ, apresentou dados sobre eletricidade no Brasil e no mundo em palestra intitulada “Belomonte e Alternativas Energéticas”, realizada no dia 15/7/2011, durante a 63ª reunião Anual da SBPC, em Goiânia.

Graduado em Física pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Mestre em Engenharia Nuclear pela Coppe/UFRJ e Doutor em Física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Pinguelli foi presidente da Eletrobras. Hoje, atua como Professor Titular do Programa de Planejamento Energético da Coppe/UFRJ e como Secretário Executivo do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas. Vem participando do Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC), entidade que recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2007.

O cientista apresentou um gráfico mostrando o desenvolvimento do uso de fontes primárias de energia no mundo. A figura mostrava o aumento, no século XX , do consumo de petróleo, de gás natural e da energia nuclear. “O petróleo só passou o carvão a partir da década de 50”, destacou Pinguelli. Embora seja o mais poluente, o carvão ainda é o combustível fóssil mais usado no mundo, correspondendo a 61% do total.

Justiça climática e desperdício

O crescimento de emissão de gases do efeito estufa foi de 70% entre 1970 e 2004, em sua maior parte concentrado no setor de energia, seguido pelo setor de transportes. O desmatamento é responsável por 40% das emissões de gases estufa nesse período, e é nesse setor que se inclui o Brasil. “Em 2010, o presidente Lula garantiu, em Copenhague, que o país reduziria as emissões de gases de efeito estufa em 37% – menos 1,7 bilhão de toneladas”, acrescentou Pinguelli.

De modo geral, o consumo de energia no mundo continua subindo: já é alto nos países ricos e tende a crescer no Brasil, China, Índia e outros em desenvolvimento. Pinguelli ressaltou a urgência do enfrentamento da mudança climática junto com o combate à pobreza, pois a desigualdade da renda se reflete no consumo de energia. “Devemos cunhar a expressão justiça climática”.

Embora tenha havido uma melhoria na qualidade de vida de 30 milhões de pessoas no Brasil, estas ainda estão muito longe do padrão de classe média, segundo Pinguelli. “O consumo de energia per capita no Brasil é baixíssimo, assim como a renda”, apontou. “Nosso país ainda é um dos mais desiguais do mundo”. Aqui, a maior parte da energia é gerada por usinas hidrelétricas, que também são poluentes, pois emitem metano. “Mas são menos poluentes, em geral, do que usinas termoelétricas.”

Sabendo usar…

No entanto, a variação das chuvas, em função da mudança do clima, afeta a hidreletricidade. “Na nossa região vai haver uma redução de chuvas, o que vai alterar o funcionamento das hidrelétricas”, informou Pinguelli, acentuando que essa é uma previsão para o ano 2100. “A Coppe fez um estudo do caso brasileiro, que mostrou maiores prejuízos ao nordeste, região do país que já fez todo o aproveitamento de energia hidrelétrica possível”, explicou. O Acadêmico destacou que a região Norte é a área do país com maior potencial de aproveitamento hidrelétrico. “Sai muito caro subsidiar a região Norte, poderia se usar biodiesel produzido na própria região”

O Brasil usa 30% de sua capacidade hidrelétrica, enquanto os EUA usam 70% da capacidade que têm”. A hidreletricidade, segundo Pinguelli, ainda é vantajosa, por ter uma vida útil muito grande e gastar menos energia na construção de uma usina do que esta será capaz de gerar.

O setor elétrico brasileiro

O palestrante referiu-se ao histórico do setor elétrico brasileiro, que começou a ser privatizado no governo FHC. “A privatização era parte da política neo-liberal, que prega vender o que é do Estado para empresas, especialmente multinacionais”, explicou Pinguelli. Mas o que ocorreu no Brasil é que as empresas estrangeiras vieram, mas não investiram; as empresas nacionais também não investiram, por causa das multinacionais. “E o resultado foi o racionamento de 2001”, observou o Acadêmico.

O governo Lula interrompeu as privatizações, mas não acabou com todos os problemas. “A energia brasileira é cara demais. Não é tão cara para o grande consumidor, que paga tarifas menores. Não é muito cara para as populações bem pobres, que pagam a tarifa social. É cara para a classe média, para o pequeno e médio consumidor”, explicou.

O programa Luz para Todos funcionou bem em todo o Brasil mas, de acordo com Pinguelli, não funcionou na Amazônia, onde ele avalia que deve ser aproveitado o potencial das energias alternativas. “O tamanho do sistema elétrico brasileiro é muito grande. É uma vergonha nacional ter tanta gente sem acesso à eletricidade”, ressaltou.

Comparando custos

Pinguelli observou que a energia eólica ainda é cara, tendo custo semelhante ao da energia termoelétrica. “Mas está caminhando no sentido da redução de custos, então será viável”. A energia nuclear gerada em Angra 3 é muito cara. Muito dinheiro já foi investido em equipamentos estocados e ainda são necessários dez bilhões de reais para terminá-la, segundo o palestrante. Somando esse valor ao que já se gastou e dividindo pela capacidade instalada, o kilowatt sai por 5 mil dólares, contra mil dólares do kilowatt gerado por Belomonte. “O custo da energia de Belomonte é de menos da metade do que a mesma quantidade de energia custaria, se gerada por usinas termoelétricas ou eólicas. E a inundação de Belomonte é menor do que a de Itaipu.”

O Acadêmico avalia que o Brasil desperdiça o bagaço de cana e que a energia solar não é usada suficientemente. “A energia hidrelétrica no Brasil é a fio dágua, não se acumula água. Então requer uma complementação termoelétrica, que é poluente. É preciso mudar a política, trocar a complementação por eólica ou com bagaço de cana”. Pinguelli afirma que se as folhagens da cana forem aproveitadas, o que pode ser conseguido com a mecanização da lavoura, se aproveita mais e cai o custo. “Cortar cana e catar lixo são empregos péssimos, que devem ser extintos no Brasil.”

Experiências da Coppe

Visando contribuir para a redução de emissões prometida pelo Brasil, a Coppe vem desenvolvendo algumas alternativas menos poluentes, como um ônibus que utiliza hidrogênio. A produção de biodiesel gerado pelo tratamento de esgotamento sanitário já é feito lá, em escala laboratorial. A Coppe participou, ainda, de um projeto de usina que processa lixo urbano para gerar energia elétrica, o que poderia evitar a existência de lixões. “Os catadores poderiam ter condições de trabalho muito melhores selecionando o lixo para este fim.”

Pinguelli destacou ainda um convênio da Coppe com uma empresa francesa, para geração de energia a partir de ondas. “Em alguns pontos, como no Maranhão, pode se usar as marés. Em outros lugares, é melhor usar as correntes marítimas”, explicou o diretor da entidade. “O problema é convencer as empresas a usar as novidades. O empresariado brasileiro ainda é muito conservador, não investe em inovação.”