A 6a Conferência Regional de Jovens Cientistas – TWAS-Rolac, evento realizado dentro da Conferência Avanços e Perspectivas da Ciência na América Latina e Caribe 2009, contou com quatro simpósios de jovens cientistas de destaque na região. No dia 3/12 ocorreu o último, com apresentações do sociólogo Carlos Antonio da Costa Ribeiro, o biofísico Emiliano Medei e a antropóloga Karina Kuschnir, com coordenação do médico cubano Manuel Limonta.


Emiliano Medei, Carlos Antonio da Costa Ribeiro, Karina Kuschnir e Manuel Limonta

Sociologia

A pesquisa do professor de Sociologia do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ) e da UERJ, Carlos Antonio Costa Ribeiro, intitulada Classes, Raças e Mobilidade Social no Brasil, buscava analisar se esta mobilidade é condicionada pela raça ou pela classe social. Seu trabalho foi baseado em dados quantitativos e buscou manter o maior afastamento político possível.

Ribeiro esclareceu que se entende por mobilidade social as oportunidades que são dadas a um indivíduo para ascender de classe social. Ele explica que existem dois tipos de desigualdade em uma sociedade: a desigualdade de condições e a de oportunidades. “A primeira é aceitável, pois sempre haverá profissões que são mais valorizadas que outras. Mas a desigualdade de oportunidades diz respeito à diferença de chances encontradas por pessoas advindas de extratos sociais distintos”, explicou o sociólogo, segundo o qual essa desigualdade de oportunidades, gritante no Brasil, não deveria ocorrer. “O filho de um faxineiro e de um cientista sênior deveriam ter as mesmas chances de se tornarem um cientista sênior”, defendeu.

Os resultados de sua pesquisa demonstram que nas classes sociais mais baixas, o fator racial não é relevante na hora da obtenção de um emprego. Porém, nas classes sociais mais altas, foi constatado que os negros encontram mais dificuldades em serem incorporados às empresas. O mesmo ocorre quando se observa o acesso a educação: quanto mais alto o nível de estudos, mais o fator racial se torna relevante. Para Ribeiro, isto sugere que as teorias de estratificação por raça e classe no Brasil devem ser repensadas, levando em consideração as interações observadas entre classe e raça.

Biofísica

Em seguida, o biofísico e professor da UFRJ, Emiliano Medei, fez uma apresentação sobre auto-imunidade e eletrofisiologia cardíaca na Doença de Chagas crônica. A pesquisa tem grande importância devido ao grande número de infectados, 18 milhões – 6 milhões só no Brasil -, dos quais cerca de 20.000 morrem a cada ano.

A doença, que na maioria dos pacientes permanece assintomática, possui duas fases clínicas: a aguda e a crônica. Na fase crônica, pode ocorrer a morte súbita do paciente (55% das mortes), que normalmente é gerada por fibrilação ventricular (uma série descoordenada e potencialmente fatal de contrações ventriculares muito rápidas e ineficazes produzida por múltiplos impulsos elétricos caóticos).

Nesta fase também é possível encontrar autoanticorpos nos pacientes. A pesquisa de Medei estuda a relação existente entre a presença destes anticorpos e os casos de morte súbita durante a Doença de Chagas crônica. Ele destacou que ainda não há tratamento efetivo para a doença, mas as descobertas recentes levam a crer que os autoanticorpos funcionam como um “gatilho” para as arritmias nesses pacientes.

Antropologia Urbana e Política

Fechando as apresentações, Karina Kuschnir, antropóloga social e professora da UFRJ, falou sobre Conexões políticas na cidade do Rio de Janeiro: Centros Sociais mantidos por parlamentares.

Em sua pesquisa, Kuschnir analisou dados de candidatos eleitos em duas legislaturas – 2004 e 2008. Constatou-se que quase 50% dos parlamentares eleitos mantinham centros sociais, principalmente em áreas mais pobres da cidade, onde a população tem menos recursos. Nestas áreas, estes centros sociais se convertem em votos para o candidato, isto é comprovado pelos altos índices de votação de um candidato na região onde possui um projeto social. Além disso, Kuschnir notou que os centros sociais costumam ser fechados depois da morte ou perda do mandato do parlamentar.

Outro dado relevante destacado na pesquisa é a origem dos recursos destes centros: a maioria é mantida por dinheiro público, conseguido de maneira lícita ou não. “Por meio de faixas impressas, eles ostentam agradecimentos à prefeitura e ao parlamentar”, observou a professora. As conclusões parciais da pesquisa, que ainda está em andamento, apresentam dados genéricos, pois o trabalho não busca um envolvimento político direto e sim uma denúncia. Mas levam a crer que os parlamentares que mantém estes centros sociais costumam ter 80% de sucesso eleitoral…