A Conferência Ciência para a Sociedade, que ocorreu dia 18 de setembro no Auditório do BNDES como parte da programação científica do ano da França no Brasil, contou com a presença do ministro de C&T, o Acadêmico Sergio Rezende, e do presidente da ABC, Jacob Palis, em sua solenidade de abertura.


Ministro Sergio Rezende e os palestrantes Sérgio Pena e Carlos Nobre

O Acadêmico Carlos Nobre, climatologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), abriu Em sua apresentação, intitulada Mudanças Climáticas e a Amazônia, apontou este momento como uma oportunidade única para os países tropicais, ricos em recursos naturais, se tornarem potências ambientais.

Na Amazônia está a maior floresta tropical do planeta, distribuída por oito países. Nos últimos 40 anos, a região foi sujeita ao desmatamento, aquecimento global e incêndios florestais, que não trouxeram riqueza nem qualidade de vida para os povos amazônidas, segundo Nobre. Na última década, a emissão de dióxido e carbono originada na Amazônia correspondeu a quase 2.5% das emissões globais nesse período, dada a ocupação da região com plantações de soja e pastos para gado.

“O desafio agora é conciliar a manutenção de parte da atividade agrícola tradicional em áreas já devastadas com uma nova visão da utilização dos recursos naturais renováveis e com a valorização dos serviços ambientais dos ecossistemas. E para isso é preciso que a realização de uma revolução científica e tecnológica na Amazônia se torne a prioridade estratégica nas políticas de desenvolvimento regional”, ressaltou o Acadêmico.

Veja aqui os vídeos da palestra do Prof. Carlos Nobre na íntegra e sua apresentação em power point.

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Doenças Infecciosas e Imunidades

O médico imunologista Jean-François Bach, Professor Titular na Universidade René Descartes (Paris V) e secretário permanente da Academia de Ciências da França, apresentou palestra na qual demonstrou o crescimento recente da incidência de doenças auto-imunes – como diabetes tipo I, lúpus e vitiligo – e alergias, principalmente em população com um grau socioeconômico mais alto e maior longevidade, enquanto se observa a redução das doenças infecciosas neste mesmo grupo.

Um dado interessante apresentado por Bach é que quanto mais tarde colocamos uma criança na escola ou na creche, mais aumenta o risco de desenvolver uma doença auto-imune ou alérgica. A mesma coisa acontece de acordo com ordem de nascimento na família, a primeira criança tem mais chances de desenvolver essas doenças do que os outros filhos.

Esse fato curioso ainda não tem uma explicação científica comprovada. Supõe-se que por causa de uma menor exposição aos agentes infecciosos – devido a melhores condições de alimentação, saneamento básico, higiene pessoal, condições de moradia, entre outros -, nosso sistema imunológico seja menos estimulado para estas reações mais fortes e fica, portanto, relativamente mais fraco para outros antígenos e alérgenos.

“Esse crescimento inverso das doenças auto-imunes em relação às infecciosas propõe novos rumos e perspectivas para as pesquisas médicas”, observou Bach, lembrando porém que, nos países menos desenvolvidos, as doenças infecciosas continuam tendo altas taxas de incidência e ainda são o principal foco da Medicina local.

Como em outros períodos históricos, a redução da incidência de uma determinada doença permitiu o crescimento de outras, o que não significa um retrocesso na Medicina. Bach lembra que atualmente as pessoas estão vivendo muito mais, o que torna natural que novas doenças surjam, lançando assim novos desafios para médicos e pesquisadores.

Ao final, Bach concluiu: “Vamos ter que continuar não somente a progredir para tentarmos eliminar as doenças infecciosas. Mas também tentar encontrar formas de prevenir, para evitar a emergência de novas patologias que são conseqüências destas mudanças do modo de vida e da melhoria da medicina. É um grande desafio”.

Veja a apresentação em power point do Prof. Jean-François Bach.

A detecção e a prevenção do risco cardiovascular

O especialista em doenças cardiovasculares Pierre Corvol – diretor do Instituto de Pesquisas Biológicas do Collège de France e membro da Academia Francesa de Ciências – tratou em sua apresentação da mudança ocorrida no paradigma da medicina nos últimos 20, 30 anos: passamos de uma medicina dos sintomas para uma medicina do risco.

Corvol explicou que essa mudança teve início no século XVIII, com as empresas de seguro: era necessário saber o risco de morte de cada indivíduo para se calcular o valor a ser pago pelo seguro de vida. Para isso, essas empresas contrataram matemáticos, estatísticos e médicos, unindo pela primeira vez estas ciências. Com a medicina do risco, a relação entre médico e paciente muda completamente, pois o papel do médico deixa de ser simplesmente tratar a doença e passa a ser identificar o risco – ou seja, a probabilidade matemática de uma determinada doença se desenvolver – e trabalhar em sua prevenção. “Ganham importância neste contexto as doenças assintomáticas, como as doenças cardiovasculares”, destacou o médico.

A existência de maiores taxa de incidência dessas doenças em alguns países, segundo Corvol, se deve a uma maior percentagem de determinados fatores de risco como obesidade, sedentarismo, tabagismo e má alimentação em sua população. Esses fatores, que estão ligados ao risco de vida e podem ser considerados culturais, são o foco de atenção das campanhas de prevenção de saúde pública.

Corvol destacou ainda que a distinção médica entre patológico e normal é arbitrária. Ela é diferente para médicos, pacientes, políticos e economistas, pois é meramente comparativa e muda de acordo com diversos fatores que podem ter maior ou menor peso, dependendo do foco da análise. “Portanto, não se deve considerar a medicina como uma ciência exata e, a partir disso, impor aos pacientes privações. É fundamental analisar os fatores de risco e características pessoais de cada paciente para propor uma prevenção que leve em conta sua qualidade de vida”. Corvol concluiu sua palestra dizendo: “Quando um paciente me pergunta: Doutor, eu estou doente, eu respondo: Bem, isso depende do seu nível de exigência”.

Veja a apresentação em power point do Prof. Pierre Corvol.

Raízes Ancestrais da População Brasileira

O Acadêmico Sérgio D.J. Pena, Professor Titular do Departamento de Bioquímica e Imunologia da Universidade Federal de Minas Gerais, apresentou palestra sobre a crença na existência de raças humanas que, ao longo dos anos, impregnou-se na trama da nossa sociedade. “Raças têm sido usadas não só para sistematizar as populações humanas, mas também para criar um esquema classificatório que tenta justificar a dominação de alguns grupos por outros”, diz Pena. Assim, a persistência da idéia de raça está ligada à visão atávica de que os grupos humanos existem em uma escala de valor.

Os avanços da genética molecular e o seqüenciamento do genoma humano permitiram um exame detalhado da correlação entre a variação genômica humana, a ancestralidade biogeográfica e a aparência física das pessoas, mostrando que os rótulos previamente usados para distinguir “raças” não têm significado biológico. “Pode parecer fácil distinguir fenotipicamente um europeu de um africano ou de um asiático, mas tal facilidade desaparece completamente quando penetramos por baixo da pele e procuramos evidências destas diferenças raciais nos genomas das pessoas”, afirma o Acadêmico.

Nos últimos dez anos o grupo de pesquisa do Prof. Sérgio Pena na UFMG realizou estudos sistemáticos da ancestralidade de brancos, pardos e pretos no Brasil, usando marcadores de DNA. Isto gerou inúmeros artigos científicos que demonstraram que 2/3 dos brancos brasileiros são afrodescendentes ou ameríndio-descendentes pelo lado materno, enquanto mais da metade dos pretos brasileiros são eurodescendentes pelo lado paterno.

Pena argumenta a favor da idéia de que o fato científico da inexistência das raças deva ser absorvido pela sociedade e incorporado às suas convicções e atitudes morais, com a valorização da singularidade e da dignidade de cada indivíduo. “Todo brasileiro tem o direito inalienável de ser conceitualizado como um ser humano único em seu genoma e em sua história de vida e não meramente como pertencente a um sexo, religião ou grupo de cor”, afirma o Acadêmico.

Veja aqui os vídeos da palestra do Prof. Sergio Pena na íntegra e sua apresentação em power point.

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Turma do 2º ano do ensino médio do Colégio Franco-Brasileiro
com a professora de Biologia Mª da Glória Tucson

A professora de Biologia do Colégio Franco-Brasileiro Maria da Glória Tucsen já levou seus alunos a palestras na Casa da Ciência e para visitar laboratórios da UFRJ. “Acho ótimas essas oportunidades, porque alguns alunos ainda estão em dúvida sobre a carreira a seguir e nesses ambientes eles obtêm novas informações e corroboram referências a questões já vistas em sala de aula, como hoje sobre o efeito fundador e o genoma humano”.

“Eu acho interessantíssimo entender a origem de tudo, saber um pouco sobre o porquê do desenrolar dos fatos históricos e as razões biológicas são fundamentais para entender esse processo”, disse o aluno Alexandre Braga Coelho, do 2o ano do Ensino Médio. Da mesma turma, Rafael Hasslocher de Oliveira Lima se interessa por Genética, especialmente pela parte de Evolução e quer ser biólogo. “Gostei de reafirmar esse conceito de que a cor não reflete a raça do brasileiro, que essa é uma idéia errônea. Mesmo quem não se interessa especialmente por Biologia pode alargar seus horizontes em oportunidades como essa.”