A ciência, relativamente jovem no Brasil, ainda permanece dentro dos muros da academia. De acordo com os profissionais da mídia, é necessário que exista parceria entre jornalistas e cientistas para que a ciência chegue até a população. “Nós, cientistas e jornalistas, temos que dar as mãos para girar a roda juntos”, disse Andréa Kauffmann Zeh, da Fundação de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A divulgação científica foi objeto de debate em evento realizado na tarde de 14/7, na 61a Reunião Anual da SBPC.

“O conhecimento gerado no âmbito das atividades de C,T&I no Brasil precisa ser melhor divulgado e apropriado pela sociedade”, afirmou Kauffman. Para a pesquisadora na área de Genética, que foi por seis anos editora sênior do periódico científico Nature, a divulgação científica precisa trazer a ciência para a realidade das pessoas. E para saber mais sobre a qualidade da divulgação de ciência feita por jornais nacionais, Andrea e sua equipe anunciarão, em agosto, os resultados da pesquisa Ciência, Tecnologia e Inovação na Mídia Brasileira.

Herton Escobar, jornalista do O Estado de S. Paulo, aponta que a estrutura (ou sua falta) de comunicação das instituições de pesquisa brasileiras dificulta o conhecimento, por parte dos jornalistas, das pesquisas que são realizadas no Brasil. “A maior parte do jornalismo científico no Brasil é feito em cima das agências de notícias e dos grandes veículos internacionais”, constata. A proximidade da relação entre o jornalista e o cientista deve se vista com cautela, de acordo com Escobar. “O jornalista deve manter o olhar crítico para não colocar a ciência acima de tudo e virar defensor de certos assuntos”, previne Escobar.

Para a assessora de comunicação da Academia Brasileira de Ciências, Elisa Oswaldo-Cruz, os cientistas têm o interesse de divulgar o seu trabalho. Em pesquisa realizada por ela, envolvendo jornalistas e pesquisadores, os últimos consideram que é sua obrigação prestar contas do dinheiro público que financia as suas pesquisas. A maior dificuldade apontada no processo de divulgação é a “diferença de linguagem entre cientistas e jornalistas”, conta.

Por fim, o editor da revista Ciência Hoje online, Bernardo Esteves, tratou da internet 2.0 e do grande leque de possibilidades que ela abre para que cientistas e instituições científicas tenham maior canal de ação junto à sociedade. Exemplos disso são os blogs e micro-blogs (Twitter), podcasts (notícias em áudio), entre outros, que começam a ser explorados, ampliando os canais por onde a ciência se infiltra. “O que diria José Reis sobre o momento que estamos vivendo?”, sugeriu, referindo-se a um dos nomes mais importantes do jornalismo científico brasileiro.


Bernardo Esteves, Andrea Kauffmann, Germana Barata,
Elisa Oswaldo-Cruz, Herton Escobar

Comemoração

O debate entre jornalistas e cientistas aconteceu na sessão especial comemorativa dos 60 anos da Ciência & Cultura: entre a academia e o público. A revista Ciência & Cultura, que é a mais antiga publicação da SPBC, passou por três fases desde a sua criação em 1949 e, a partir de 2002, voltou-se para a divulgação científica. Indexada no Scielo, ela possui todo o seu conteúdo impresso e online, com versões dos artigos em português e inglês. Segundo Marcelo Knobel, editor chefe da revista, o site da publicação recebe uma média de oitenta mil acessos únicos por mês.