A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Ministério da Educação, vai dar bolsas para todos os alunos de pós-graduação das Regiões Norte e Centro-Oeste que não tenham auxílio financeiro para seus estudos.

O novo programa, Bolsa para Todos, foi anunciado pelo presidente da Capes, Jorge Guimarães, na Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em Manaus. O objetivo, segundo Guimarães adiantou com exclusividade ao Estado, é incentivar a formação e a fixação de mestres e doutores na Amazônia. “Não teremos mais estudante de pós-graduação na região sem bolsa.”

O sistema começará a funcionar em agosto. O valor das bolsas, segundo Guimarães, será integral e estará disponível para estudantes de universidades públicas e privadas. O recurso não será repassado diretamente aos alunos, mas às instituições nas quais eles estiverem matriculados. “Quem fará a avaliação de mérito é o curso”, explicou Guimarães. Ele não soube especificar quantos alunos serão beneficiados ou quanto isso custará, mas garantiu que a Capes está preparada para atender 100% da demanda. “Recurso não é um fator limitador.”

Segundo ele, há 160 mil estudantes de pós-graduação no Brasil. Desse total, um terço tem vínculo empregatício e, por isso, não pode receber bolsa federal. Outro um terço tem bolsa. Outro um terço não tem bolsa nem vínculo empregatício. Esse último grupo é o que poderá se beneficiar do programa.

Outro projeto a ser posto em prática pela Capes é o custeio de cursos de férias para alunos de graduação dessas duas regiões em instituições da Amazônia ou de outros Estados. Um aluno de Biologia da Universidade Federal do Amazonas, por exemplo, poderá optar por fazer um curso avançado em genética na Universidade de São Paulo durante as férias de fim de ano – com passagem e hospedagem pagas pela Capes.

“Assim, quando terminar a graduação, o aluno estará bem preparado para fazer um mestrado na instituição de origem e a chance de ele se fixar na região será muito maior”, disse Guimarães. Os cursos serão ministrados por professores das universidades anfitriãs, com duração de 75 a 90 dias. “A aceitação das universidades é ótima”, afirmou o presidente da Capes. “É uma coisa de solidariedade.”

Um terceiro projeto prevê a contratação de professores sênior (aposentados) para dar aula em universidades ou câmpus recém-criados, com bolsa de R$ 7.100, durante cinco anos. Seria uma forma de incorporar mais experiência aos quadros das novas instituições, já que os concursos públicos costumam contratar apenas professores mais jovens. O programa será aberto a todo o País, mas deve beneficiar principalmente as universidades da Amazônia. “Tudo isso vai no sentido de aumentar o número de doutores na região.”

Falta de cérebros

Um dos maiores entraves ao desenvolvimento sustentável da Amazônia, segundo especialistas, é o baixo número de doutores formados na região e a dificuldade para atrair profissionais de outros Estados. “Chegamos à conclusão de que o melhor candidato para se fixar aqui é o daqui mesmo”, disse Guimarães. “Todos os programas de desenvolvimento dependem da fixação de mestres e doutores na região”, disse o ministro da Ciência e Tecnologia, Sergio Rezende, em entrevista.

Segundo ele, há 4.400 doutores na Amazônia Legal hoje, comparado a cerca de mil há oito anos. Isso corresponde a 6% do total de doutores do país.

Enquanto isso, no mesmo período (2000-2008), o volume de investimentos do MCT na região aumentou de 2% para quase 5% do total nacional. “É verdade que isso ainda não corresponde ao número de doutores da região, mas os investimentos estão crescendo e vão continuar”, disse o ministro.

Raio X

– 4.400 doutores estão na Amazônia Legal hoje, o que corresponde a 6% do total no País. Há oito anos, eram mil

– 160 mil estudantes estão cursando pós-graduação no Brasil

– 1/3 desses alunos não tem vínculo empregatício nem recebe bolsa, por isso poderia ser beneficiado pelo projeto

– 5% dos investimentos do Ministério da Ciência e Tecnologia vão para a Amazônia Legal