O presidente da Capes Jorge Almeida Guimarães publicou artigo no jornal O Globo, em 19/6, reproduzido a seguir.

“O anúncio do significativo crescimento da produção científica brasileira tem razões e justificativas próprias, embora nem sempre bem conhecidas ou avaliadas. Para qualquer país, a sua produção científica torna-se visível pela publicação de artigos originais nas melhores revistas internacionais.

É fundamental atribuir esse padrão aos periódicos editados em cada país que compõe o clube mundial do mais elevado mérito na ciência. Isto se faz pela indexação em bases confiáveis, exigentes e seletivas quanto aos padrões de qualificação dos periódicos.

Entre as diversas bases de dados capazes de fazer essa indexação, destacam-se duas no âmbito internacional: Institute for Scientific Information (ISI) e Base Scopus. O ISI indexa cerca de dez mil periódicos e a Base Scopus, cerca de seis mil outros títulos.

Não é sem razão que os mais desenvolvidos têm maior número de revistas indexadas nas bases Scopus e ISI, respectivamente: EUA, 5.152 e 3.915; Inglaterra, 3.491 e 2.011; Holanda, 1.782 e 768; Alemanha, 1.148 e 724; Suíça, 234 e 192. O Brasil tinha, até 2006, 15 revistas indexadas no ISI e, apesar de tão subrepresentado, já ocupava a 17ª posição no ranking da produção mundial.

Entre 2005 e 2008, o ISI indexou ou reindexou mais 60 periódicos brasileiros. Só em 2008 o ISI incorporou mais 1.228 revistas. Para 2009 haverá incorporação de mais 30 revistas do nosso país. É ainda um número modesto para dar maior visibilidade à ciência brasileira, já que, em muitas áreas, como parasitologia, medicina tropical, bioenergia, entre outras, estamos entre o segundo e o quinto lugar no mundo.

São muitas as exigências dessas bases para indexar uma nova ou reindexar aquelas que perderam status. Entre os requisitos estão: regularidade nas edições, corpo editorial qualificado, rigorosa avaliação dos artigos, nível e qualidade da editoração.

A maior indexação de periódicos eleva o quantitativo da produção científica, mas não foi apenas a indexação que elevou o nosso reconhecimento.

Muitos fatores levam a uma promoção da nossa produção científica: a crescente presença do Brasil neste ranking mundial: da 22ª posição em 1998 para 13ª em 2008; o aporte de recursos de fomento das agências federais, especialmente nos últimos anos, e a adesão de muitos estados, que passaram a financiar substancialmente as atividades de pesquisa; o crescimento do número e do valor das bolsas federais, corrigido em 2004 e 2008 em 67% (variação nominal); o crescimento de titulados na pós-graduação, sobretudo no doutorado, onde se dá a maior parte da produção científica brasileira; a cobrança de melhor desempenho individual dos pesquisadores na avaliação por todas as agências de fomento; as exigências de desempenho dos cursos nas avaliações da pós-graduação pela Capes; a criação do Programa Qualis da Capes, que classifica as revistas estrangeiras e brasileiras para orientar a avaliação da Capes; desde 2003, uma detalhada e exigente revisão dos critérios de classificação de todos os periódicos que compõem o Programa Qualis.

Não se pode desprezar o papel do Portal de Periódicos da Capes, que possibilita o acesso diário à literatura científica, o que constitui fundamental mecanismo de retroalimentação à nossa produção de artigos e sua imediata comparação com a ciência mundial.

Finalmente, o apoio do CNPq e da Capes, esta a partir de 2007, no financiamento direto à editoração de revistas brasileiras, buscando subsidiar o esforço dos editores e das sociedades científicas. O apoio ao programa tem um custo anual de cerca de US$ 2,4 milhões para as duas agências.

Certamente a indexação de novas revistas no período citado veio contribuir para o avanço do Brasil no ranking mundial de produção científica.

Mas vale perguntar por que esse avanço não ocorreu com os demais países, já que todos foram beneficiados com novas indexações no ISI. E como ultrapassamos a Holanda, que tem cerca de dez vezes mais periódicos indexados?

Não cabe menosprezar os avanços quantitativos obtidos, e sim buscar incessantemente melhor qualificação dessa produção. Trata-se de uma rota inexorável: a posição no PIB, salvo casos pontuais, comanda a posição dos principais países na produção científica.

É esta a trajetória do Brasil, que felizmente descobriu que sem educação, ciência e tecnologia não se pode pretender ser um país economicamente desenvolvido e socialmente justo.”