O ano de 2009 será crucial para os esforços internacionais com relação às mudanças climáticas, culminando com a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP15), que ocorrerá entre os dias 7 e 18 de dezembro, em Copenhagen. Este encontro está agendado desde 2007, com o objetivo de apresentar respostas ambiciosas e efetivas para o enfrentamento das mudanças do clima.

A primeira rodada de negociações aconteceu em Bonn, no início de abril, e a segunda no início de junho. Estão previstos ainda três encontros preparatórios para Copenhagen: em Bonn no mês de agosto, em Bangkok no início de outubro e em Barcelona no início de novembro.

Um dos principais desafios das mudanças climáticas, a acidificação dos oceanos deve fazer parte da agenda da Conferência das Nações Unidas em Copenhagen, O fenômeno poderá causar a corrosão massiva dos recifes de corais e mudanças dramáticas na biodiversidade dos oceanos, com implicações para a produção de alimentos e o sustento de milhões de pessoas.

O aviso foi dado através de um documento assinado por 70 Academias de Ciências que são membros do InterAcademy Panel (IAP), entre elas a Academia Brasileira de Ciências, divulgado em 1º de junho último. O documento foi elaborado durante conferência em Bonn, realizada entre os dias 1º e 12 de junho, que deu forma às negociações de Copenhagen, onde se pretende chegar a um acordo sobre metas de redução de emissões de carbono.

O presidente da Royal Society, Martin Rees, afirmou que todos sabem que o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera provoca mudanças climáticas. “Mas há outro efeito ambiental – a acidificação dos oceanos – que ainda não recebeu a atenção política devida. Se as emissões de CO2 não forem reduzidas em no mínimo 50% até 2050 e mais ainda daí para frente, poderemos enfrentar uma catástrofe submarina com mudanças irreversíveis na biodiversidade marinha. O efeito será sentido em todo o planeta, ameaçando a segurança alimentar, reduzindo a proteção costeira e danificando as economias locais que dificilmente tolerarão esta crise.”

O Brasil foi representado pelo Professor Luiz Drude de Lacerda, do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Com graduação, mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Drude é Professor Titular da Universidade Federal Fluminense (UFF), pesquisador 1-A do CNPq, onde já foi membro de diversos comitês, assim como da Capes, especialmente na área de Geociências. Atualmente coordena o Programa de Pós-Graduação em Ciências Marinhas Tropicais do Instituto de Ciências do Mar da UFC. Coordena também o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Transferência de Materiais Continente-Oceano (INCT-TMCOcean). É especialista na área de Ecologia, com ênfase em Biogeoquímica e contaminação ambiental.

Drude destacou que a acidificação, acentuada na superfície dos oceanos, afeta mais intensamente organismos significativos da base da cadeia alimentar marinha, portanto diretamente envolvidos na manutenção da produtividade dos oceanos. “Este é um efeito de consequências pouco compreendidas ainda, como a alteração do equilíbrio entre espécies químicas relacionadas diretamente à fenômenos oceanográficos”, acrescentou o pesquisador. Ele deu como exemplos destes fenômenos a extensão da penetração de ondas sonoras nos oceanos, que afetam diretamente a navegação e o comportamento de muitos animais, particularmente mamíferos marinhos.

O documento conclama os líderes mundiais a reconhecer explicitamente as ameaças diretas causadas pelas emissões de CO2 aos oceanos e seu profundo impacto no meio ambiente e na sociedade. Enfatiza também á irreversibilidade da acidificação dos oceanos e sugere que, no ritmo atual das emissões, os recifes de corais e os ecossistemas polares serão seriamente afetados até 2050 ou mesmo anteriormente.