Realizada entre os dias 4 e 6 de maio na sede da Academia Brasileira de Ciências (ABC), no Centro da cidade do Rio de Janeiro, a Reunião Magna da ABC homenageou Galileu e Darwin através do tema Luzes da ciência sobre onde estamos e o que somos. A 5a Conferência Regional de Jovens Cientistas da Twas-Rolac (Academia de Ciências para o Mundo em Desenvolvimento – Escritório Regional para a América Latina e o Caribe) ocorreu durante o evento e foi segmentada em quatro simpósios.

A Acadêmica e professora da Universidade de São Paulo (USP) Beatriz Barbuy foi responsável pela coordenação da primeira série de conferências, voltadas para as Ciências da Terra e do Espaço. “Este workshop é muito interessante porque congrega profissionais de alto nível em diferentes áreas. É uma das raras ocasiões em que temos a oportunidade de discutir diversos temas, além de nos instruir a partir de palestras”, observa a cientista, que obteve pós-doutorado em Astronomia com ênfase em Astrofísica Estelar no Lick Observatory, nos Estados Unidos.

Foram realizadas quatro apresentações no simpósio, nas áreas de Geologia e Astronomia, que abordaram temas variados, como as conexões geológicas entre a Antártida e a Patagônia, os eventos paleosísmicos da Venezuela, a composição química de asteróides, o movimento do mar e os manguezais do litoral do rio Amazonas. “O intercâmbio entre os países latino-americanos ainda é muito pouco desenvolvido. É importante haver encontros que promovam a interação com profissionais estrangeiros. Com a união das forças o trabalho sai melhor”, enfatizou Beatriz.

O ganhador do prêmio da Twas-Rolac na área de Ciências da Terra e do Espaço, Maurício Calderon, do Serviço Nacional chileno de Geologia e Mineração (SNGM), discursou sobre o trabalho de pesquisa na área de Petrologia, voltado para as regiões dos Andes – no sul da Patagônia – e da península Antártica.

“O estudo pretende identificar a origem de rochas ígneas e metamórficas e, em especial, dos fragmentos da crosta de origem oceânica que são encontrados nas montanhas”, esclareceu Calderon, que possui doutorado em Geologia pela Universidade do Chile. Segundo ele, a análise contribui para o entendimento da evolução tectônica, magmática e paleogeográfica – geografia física do passado geológico – dos continentes e das bacias oceânicas de diferentes períodos da Terra.

Para o geólogo, Darwin era um homem muito disciplinado e de mente inquieta, que desempenhou um importante papel na Geologia no que se refere à origem das espécies. “Uma das primeiras observações geológicas do Chile foi realizada por ele, que desenvolveu conceitos e idéias robustas”, destacou Calderon. Na sua opinião, a homenagem do workshop aos pesquisadores Darwin e Galileu é mais do que justa. “Eles introduziram o conhecimento científico e investigativo através da formulação das primeiras perguntas fundamentais”, justifica.

Nascido em Caracas, na Venezuela, o pesquisador Eduardo Carrillo Perera tratou do efeito dos terremotos, avaliado a partir da análise dos sedimentos de lagos e oceanos. “O meu campo de estudo, a paleosismologia sedimentária, tenta identificar a presença e o nível de destruição de grandes abalos sísmicos que o homem não consegue medir através da sismologia instrumental ou histórica”, explica o cientista, que é formado em Geologia pela Universidade Central da Venezuela (UCV) e possui doutorado na mesma área pela Universidade Savoie, na França.

Professor assistente e chefe do Departamento de Geologia da UCV, Perera acredita que a reunião de jovens pesquisadores de diferentes especialidades científicas contribui para a obtenção de recursos e para o fortalecimento da ciência latino-americana. “A interação entre as disciplinas, que são interdependentes, enriquece cada um dos variados temas científicos”, acrescenta.

O geólogo atribui a base da Astronomia moderna e a inauguração de uma nova era da observação naturalista mundial aos trabalhos de pesquisa de Galileu e Darwin, apreciando a homenagem, realizada pela ABC. “Eles são uma boa representação de como dois cientistas que pertencem a diferentes épocas e campos científicos podem contribuir universalmente para o desenvolvimento da ciência”, aponta.

Durante o encontro o pesquisador do Observatório Nacional (ON), no Rio de Janeiro, Jorge Marcio Carvano apresentou a pesquisa que busca identificar a composição mineral dos asteróides, a partir da análise da sua superfície. “O estudo é importante porque ajuda a entender o processo de formação do sistema solar. Tentamos identificar as substâncias através da observação pelo telescópio e de dados de meteoritos e minerais”, explica o cientista, que é formado em Astronomia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e possui quatro pós-doutorados realizados no ON do Brasil e no Observatório de Paris, na França.

Para Carvano, a conferência favorece a integração de profissionais de distintas áreas do conhecimento e de variadas regiões, o que amplia os horizontes do conhecimento ao solucionar problemas e levantar novas perguntas. “Ciência é intercâmbio. Aquele pedaço de informação que falta para resolver o quebra-cabeça pode ser encontrado nos seminários de outros campos científicos”, acentua.

Na conclusão do simpósio, o pesquisador Pedro Walfir Filho, que possui doutorado em Geologia e Geoquímica pela Universidade Federal do Pará (UFPA), abordou a evolução geológica e a sua influência no desenvolvimento da paisagem de uma determinada região. O geólogo, que é membro afiliado da ABC, utilizou como objeto de análise a dinâmica da paisagem do litoral da Amazônia, com enfoque na formação de um dos maiores sistemas de manguezais do mundo. “Dominada pela maré, no espaço de transição entre a zona fluvial e a marinha, esta é uma das áreas mais complicadas do planeta, devido à interação entre um grande número de processos terrestres e marinhos”, elucida.

Feliz em participar do evento, Walfir destacou a importância da integração entre as diferentes áreas do conhecimento e ressaltou que nenhum cientista detém o conhecimento de todos os setores. Na opinião do pesquisador, que também é professor da UFPA, o grande desafio deste século é a multidisciplinaridade. “Para explicar alguns processos, você não tem como discriminar até onde vai a Física e onde começa a Biologia. A natureza é um sistema integrado”, observa.

Walfir espera que a Reunião Magna desperte as pessoas para a necessidade de unificar o conhecimento e as organizações científicas de toda a América Latina. “Realizar um processo bastante intenso de divulgação do conhecimento e homenagear os grandes cientistas são importantes contribuições, essenciais para o progresso da ciência”, complementa.