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Ciências Biológicas | MEMBRO CORRESPONDENTE

Roberto Docampo

(DOCAMPO, R.)

03/05/1949
Argentina
28/04/1999

Desde que obtive meu grau de médico em 1972, estive trabalhando nas áreas de bioquímica e microbiologia. Como pesquisador do Conselho Nacional de Investigações Científicas de Argentina, estudei a ultraestrutura e metabolismo de Trypanosoma cruzi, o agente etiológico da doença de Chagas. Nosso grupo de pesquisa foi o primeiro a utilizar microscopia de varredura no estudo da ultraestrutura de T. cruzi. Nós também fomos os primeiros a descrever a presença de microperoxissomos (posteriormente denominados glicossomos) em T. cruzi e do ciclo dos ácidos tricarboxílicos no complexo mitocôndria-cinetoplasto do parasito. De 1976 a 1978 fui pesquisador da Organização Mundial de Saúde na Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde comecei meus estudos sobre radicais livres no metabolismo de agentes farmacológicos por ressonância eletrônica (ESR) e outras técnicas biofísicas para estudo de radicais livres de curta duração. Nós fomos os primeiros a utilizar a técnica de ESR no estudo de parasitas intactos e descobrimos que T.cruzi não apresenta enzimas que protejam contra a toxicidade de espécies reativas de oxigênio, como anion superóxido e peróxido de hidrogênio.
Esses estudos originaram a importante informação de que as espécies reativas de oxigênio estão envolvidas no mecanismo de ação de vários quimioterápicos contra parasitas. A pesquisa sobre o metabolismo anormal do peróxido de hidrogênio em T. cruzi foi considerada nova e de grande importância para a pesquisa em tripanossomíases (Editorial, The Lancet, vol. II, 1190, 1978) além de uma nova estratégia quimioterápica (Fairlamb, A. Trends in Biochem. Sci., 7:249-253, 1983). Como resultado desse trabalho, recebi meu grau de doutor em Microbiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. De 1978 a 1982, dei continuidade a estudos sobre o modo de ação de diferentes drogas (principalmente nitrofuranos e nitroimidazóis) e células fagocíticas (neutrófilos) em T. cruzi. Além disso, identificamos a distribuição de enzimas fixadoras de CO2 em T. cruzi e outros tripanossomatídeos, caracterizamos enzimas funcionais e não-funcionais na via de síntese de porfirinas em T. cruzi, e fomos os primeiros a demonstrar que o metabolismo de ergosterol é um poderoso alvo na quimioterapia das tripanossomíases. De 1982 a 1986 fui Pesquisador Visitante do National Institute of Environmental Health Sciences, National Institutes of Health, Research Triangle Park, NC, onde estudei sobre a formação de radicais livres em células intactas e frações subcelulares. Nossos estudos levaram ao descobrimento do mecanismo de redução de nitrocompostos por tricomonas, agentes etiológicos da tricomoníase, uma importante doença transmitida sexualmente em humanos e animais. Outros estudos bioquímicos resultaram no descobrimento do papel da membrana mitocondrial externa na ativação xenobiótica e na descoberta de que o mecanismo catalítico da piruvato:ferredoxina oxidorredutase em tricomonas envolve a formação de dois radicais livres que servem de substratos intermediários na síntese de acetil-CoA. Isto representa um novo mecanismo para esta reação enzimática e indica que a enzima difere significativamente do complexo piruvato-desidrogenase de outras células eucarióticas. De 1986 a 1989 fui Professor Visitante no Instituto de Microbiologia, Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde comecei meus estudos sobre o modo de ação de drogas catiônicas e regulação de cálcio em tripanossomatídeos. Este trabalho levou ao descobrimento de um alvo mitocondrial para drogas catiônicas e de uma técnica de permeabilização com digitonina que permite um estudo do metabolismo de tripanossomatídeos in situ. Além disso, o achado de que a fotoirradiação com luz visível e adição de ascorbato de sódio reduzem significativamente a dose efetiva e o tempo de contato do cristal violeta com sangue infectado por T. cruzi, originou um método prático para a prevenção da transmissão da doença de Chagas por transfusão sangüínea, que ainda é utilizado nesse campo. Durante 1989 fui professor visitante na Rockefeller University, onde comecei meus estudos sobre as vias de sinalização celular que envolvem inositol fosfato e diacilglicerol em tripanossomatídeos. Nosso trabalho foi a primeira demonstração da presença dessa via em protozoários parasitas. Desde 1990 fui professor associado (1990-1993) e agora sou professor (1993-presente) de Microbiologia no College of Veterinary Medicine, University of Illinois at Urbana-Champaign. Atualmente, meus esforços estão concentrados na caracterização dos mecanismos de equilíbrio iônico em tripanossomatídeos e Pneumocystis carinii e dos mecanismos envolvidos na invasão de células hospedeiras por parasitos intracelulares. Resultados recentes em nosso laboratório incluem: 1) o descobrimento de uma nova organela presente em tripanossomatídeos que foi por nós denominada acidocalcissomo, devido a seu caráter ácido e por conter elevada concentração de cálcio; 2) tripanossomatídeos possuem uma pirofosfatase translocadora de prótons localizada nos acidocalcissomos; 3) pirofosfato de sódio está concentrado nos acidocalcissomos em concentrações superiores às de ATP em alguns tripanossomatídeos; e 4) a mobilização de Ca2+ é necessária durante a invasão celular por tripomastigotas de T. cruzi e amastigotas de L. mexicana amazonensis. Resultados recentes em P. carinii incluem o achado de que uma H+-ATPase está envolvida na regulação de pH em trofozoitos e na descoberta de que os trofozoitos são sensíveis a inibidores da D24,25esterol metil transferase.