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Ciências Biomédicas | MEMBRO TITULAR

Ricardo Gattass

(GATTASS, R.)

18/07/1948
Brasileira
08/04/1994

Ricardo Gattass iniciou sua carreira científica tendo como modelos seu pai, médico, e sua mãe, artista plástica que deixou verdadeiros monumentos em ferro, latão, madeira e telas. Em 1967, na Faculdade Nacional de Medicina iniciou sob a orientação de Isar Oswaldo Cruz o curso de monitoria de Fisiologia que evoluiu para um estágio de iniciação científica sob a orientação de Antonio Paes de Carvalho, que foi seguida do doutorado sob a orientação de Eduardo Oswaldo-Cruz.
Desde o início Gattass escolheu um programa científico voltado para a análise dos mecanismos neurais responsáveis pela visão em primata. Dentre suas contribuições ressaltam-se o estudo do núcleo pulvinar do macaco Cebus. Esse estudo revelou pela primeira vez a existência de duas áreas visuais nesse núcleo talâmico. A partir de seu estágio de pós-doutoramento em Princeton, NJ, definiu novas áreas visuais no cérebro do Macaca e do Cebus; definiu a topografia das áreas V1, V2, V3, V4, MT e PO do córtex cerebral do Cebus. Estudou as conexões aferentes da área PO no Macaca demonstrando que essa área constituía o terceiro alvo cortical de projeção da área visual primária. Seus trabalhos de conexão e de topografia das áreas visuais sugerem que a informação visual seja processada pelo menos por três vias corticais distintas. A via ventral, responsável pelo processamento de forma, cor e textura; a via dorsomedial, responsável pelo processamento espacial ligado à locomoção; e a via dorsolateral, responsável pelo processamento do movimento. Seus estudos das conexões eferentes da área V2 revelaram sítios diferentes de origem das três vias de processamento visual, segregando inequivocamente, e pela primeira vez, essas três vias de processamento. Seus trabalhos anatômicos mostraram uma extensa rede de conexões recíprocas para o córtex visual primário que podem constituir circuitos de retroalimentação que participam de fenômenos de construção da percepção a partir de informações visuais parciais ou incompletas. No Cebus ele descreveu um novo fenômeno que faz com que o cérebro no processo de percepção reconstrua segmentos dos objetos, dependentes do contexto da imagem. Estes fenômenos de completamento e preenchimento perceptuais são responsáveis por não percebermos zonas cegas no campo visual quando olhamos o ambiente com somente um dos olhos abertos. As regiões desprovidas de receptores, como o ponto cego, e as regiões mascaradas por vasos retinianos não são percebidas pelo indivíduo graças a um mecanismo automático de completamento perceptual que constrói a forma dos objetos. Ele e seus colaboradores mostraram que o completamento de forma é feito em V1, enquanto o preenchimento de zonas cegas com textura, cor e padrão do fundo é reconstruído em V3. Em outro estudo utilizando um anticorpo monoclonal, o SMI-32, que reconhece neurofilamentos presentes nas placas neurais de pacientes com doença de Alzheimer, descobriu haver um maior número de células com esses neurofilamentos em animais adultos normais nas áreas da via de processamento dorsolateral e que essas células têm kainato como neurotransmissor. Esse resultado caracteriza pela primeira vez a localização de um tipo de neurofilamento e de uma subfamília de neurotransmissores em uma via de processamento da informação espacial. Este achado justifica a incidência de perdas de memória espacial em pacientes em estágios iniciais da doença de Alzheimer e sugere que as células marcadas com SMI-32 sejam mais suscetíveis a desenvolver as placas degenerativas da doença.
O programa científico de R. Gattass desde o início focalizou áreas e mecanismos ligados à percepção e vias de processamento visual. Mais tarde, com seus estudantes, esse programa se voltou para estudo do processamento modular do córtex e aos fenômenos ligados ao completamento e preenchimento perceptuais, assim como à atenção visual. Com sua equipe estudou fenômenos físicos de ativação metabólica rápida do córtex cerebral do Cebus causados pela estimulação visual natural. Esse estudo mostrou uma modificação transitória que se estabelece rapidamente e dura cerca de 45 minutos, na atividade da enzima mitocondrial citocromo-oxidase de células do córtex cerebral. Recentemente ele estuda atributos cognitivos, e um de seus estudantes se voltou para a análise de aspectos funcionais, plásticos e metabólicos do córtex motor do homem. Joaquim Brasil-Neto, um de seus estudantes de doutorado, utilizando estimulação magnética cortical e estimulação elétrica periférica de nervo demonstrou que a fadiga cortical cerebral precede a fadiga muscular.