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Ciências da Saúde | MEMBRO TITULAR

Marco Antonio Zago

(ZAGO, M. A.)

01/11/1946
Brasileira
26/03/1991

Após um período de pós-doutorado na Universidade de Oxford, sob orientação do Prof. Sir David J. Weatherall, retornou ao Brasil onde iniciou um grupo de pesquisa interessado nas doenças hematológicas de bases genéticas e nas alterações genéticas das doenças neoplásicas hematológicas, tendo sido um dos primeiros investigadores a utilizar métodos de análise direta de DNA para diagnóstico médico e para estudos de genética populacional humana no país. Seu interesse inicial estava focalizado nos defeitos hereditários das hemoglobinas, tendo demonstrado que o grau de produção residual de HbF em adultos é determinado geneticamente. As bases moleculares desta característica são complexas (envolvem pelo menos três “loci”) e têm grande relevância no tratamento das anemias hereditárias. Identificou pela primeira vez no país e descreveu características genéticas, clínicas e bioquímicas de numerosos defeitos estruturais das hemoglobinas e de variantes de talassemias. Descreveu uma mutação de ponto no região promotora do gene de globina gama, responsável pela “forma brasileira” de persistência hereditária de hemoglobina fetal. Posteriormente, seu grupo identificou alterações moleculares responsáveis pelas hemofilias, e a mutação do gene do LDL-r responsável pela maior parte dos casos de hipercolesterolemia familiar no Brasil. Demonstrou uma heterogeneidade até então insuspeita dentro do gene que determina o grupo sangüíneo O (do grupo ABO), mostrou que estas diferentes va-riantes do grupo O têm distribuição étnica variada e finalmente identificou as bases moleculares desta diversidade, descrevendo pelo menos sete novas variantes moleculares do grupo sangüíneo O. Mais recentemente, tem conduzido estudos sobre a contribuição de mecanismos genéticos às tromboses, incluindo o papel de mutações de numerosos genes, relacionados ou não com o sistema de coagulação. Entre estes, destaca-se a demonstração do efeito de uma mutação do fator XIII sobre a ocorrência de trombose arterial. Paralelamente ao estudo das anormalidades gênicas em doenças hematológicas, desenvolveu estudos sobre a genética populacional e antropologia física de populações brasileiras, em especial de ameríndios e negros. Com base em marcadores de DNA ligados ao gene da anemia falciforme, demonstrou que a população negra brasileira é de origem predomi-nantemente banto, com menor contribuição de origem Benin e escassa contribuição da Senegâmbia. Além do interesse antropológico, estes dados mostram que a população negra brasileira é muito diversa daquela de outras regiões da América, com implicações para a genética médica e para compreensão de doenças de fundo hereditário. Com base em marcadores de DNA mitocondrial, do cromossomo Y, microssatélites e vários genes de interesse médico, contribuiu para a compreensão da diversidade genética das populações ameríndias, suas relações com as populações fundadoras, e as populações negras brasileiras. Em associação com numerosos colaboradores, seu laboratório produziu o maior volume de dados sobre marcadores de DNA em populações brasileiras até o momento. Sob sua orientação formaram-se 20 mestres e doutores, a maioria hoje ocupando posições de pes-quisadores em diversas universidades brasileiras. Além de seu grupo de pesquisa em Ribeirão Preto, seus discípulos constituíram dois outros núcleos de investigação de genética molecular humana proeminentes no país, em Campinas (hematologia) e em Belém (genética humana). Mais recentemente está participando de dois grandes projeto colaborativos coordenados pela FAPESP: o seqüenciamento do genoma da Xylella fastidiosa, primeiro fitopatógeno a ter o genoma completamente sequenciado, e o Projeto do Genoma do Câncer, que estuda a expressão de genes em tecidos neoplásicos humanos.