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Ciências Biomédicas | MEMBRO TITULAR

Luiz Rodolpho Raja Gabaglia Travassos

(TRAVASSOS, L. R.)

26/09/1938
Brasileira
22/12/1964
30/07/2020

Filho do renomado bacteriologista e virologista Joaquim Travassos da Rosa, sempre teve a vocação de cientista presente, o que o fez ingressar num laboratório de pesquisa já no primeiro ano do curso médico, sob a orientação de Carlos Solé-Vernin. Neste laboratório isolou e caracterizou pela primeira vez no Brasil, bactérias patogênicas, de metabolismo oxidativo, produtoras de ácido glucônico, hoje classificadas como Acinetobacter e, na época, como membros da Tribu Mimeae (mimetizando Neisseria). No laboratório do acadêmico Amadeu Cury, continuou os estudos fisiológicos destas bactérias, mas a principal técnica incorporada foi a de estudos nutricionais utilizando leveduras saprófitas obrigatórias de animais de sangue quente. Esse estudo, que permitiu um considerável avanço na determinação de fatores de crescimento de microorganismos, fatores de temperatura, estabelecimento de dois métodos de dosagem microbiológica (colina e carnitina), estabelecimento de meios sintéticos, estudo do mecanismo de ação de antimetabólitos, teve o seu mérito reconhecido pelo convite para apresentar uma revisão ao Annual Review of Microbiology, publicada em 1971. Nessa época e em grande parte de sua carreira recebeu a influência de Seymour H. Hutner do Haskins Laboratories em New York. A partir de 1972, iniciou uma linha de investigação sobre bioquímica e imunoquímica de estruturas antigênicas de fungos patogênicos para o homem, inicialmente sob a orientação de Kenneth O. Lloyd na Columbia University em New York e posteriormente com vários estudantes de grande talento no Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Numerosas novas estruturas foram identificadas em Sporothrix schenckii, Ceratocystis, Aspergillus, empregando métodos clássicos e, na época, inovadores, de ressonância nuclear magnética de C-13 e H-1 (primeiros espectros de C13 de heteropolissacarideos na literatura em colaboração com Philip A.J.Gorin). O trabalho em Sporothrix schenckii foi revisto e atualizado em dois capítulos de livro, a convite, e em uma revisão no Microbiological Reviews. De volta a New York, foi Professor Visitante do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, onde ficou ligado ao grupo chefiado por Lloyd J. Old, que estudava antígenos tumor-específicos de células de melanoma humano. A sua principal contribuição no período foi a identificação de gangliosídeos imunogênicos característicos de melanoma, o que abriu uma nova linha de investigação na área, tanto no Sloan-Kettering como em outros laboratórios. Anticorpos monoclonais foram preparados contra GD3 do melanoma (W.G. Dippold, A.N. Houghton) e utilizados no tratamento de pacientes com melanoma metastático. O trabalho, que reuniu numerosos colaboradores, e em particular, um estudante seu, Clifford S. Pukel, bem como o supervisor Kenneth O. Lloyd, gerou duas patentes institucionais e uma publicação no J. Exp. Med. atualmente com mais de 500 citações. De volta ao Brasil, transferiu-se para a Escola Paulista de Medicina, hoje Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), onde iniciou duas linhas de pesquisa, uma relacionada aos componentes antigênicos de Trypanosoma cruzi reativos com anticorpos líticos, e outra ao antígeno de diagnóstico específico do Paracoccidioides brasiliensis. Nessas duas linhas, resultados importantes foram obtidos. Na primeira linha, os alvos dos anticorpos líticos foram identificados como sendo epítopos de alfa-galactosil 1,3-galactosil expressos em glicoproteínas tipo mucina, ancoradas à membrana via âncoras de glicosilfosfatidilinositol, cuja estrutura foi parcialmente determinada. Esses compostos purificados estão sendo utilizados com grande sucesso no diagnóstico da Doença de Chagas ativa, em métodos quimioluminescentes de alta sensibilidade, adequados a bancos de sangue. Na segunda linha, o antígeno de diagnóstico específico de Paracoccididioides brasiliensis foi identificado como uma glicoproteina de 43.000 daltons, a qual foi purificada, clonada e inteiramente sequenciada. Os epítopos reativos com anticorpos humanos, a sua participação na resposta imune celular e interação com componentes da matriz extracelular e relação com a virulência, foram determinados em uma série de publicações em colaboração. Trabalhou ainda na formulação de uma vacina contra a paracoccidioidomicose baseada no peptideo P10 derivado da gp43. Da mesma forma mantem uma sólida linha de pesquisa em oncologia experimental a partir da criação da Unidade de Oncologia Experimental focalizando principalmente o modelo de melanoma murino B16F10. Participou ainda de trabalhos colaborativos envolvendo bactérias enteropatogênicas, fungos patogênicos (Cryptococcus neoformans), bem como glicobiologia de tripanosomatídeos e células tumorais, tendo publicado até 2008 mais de 185 trabalhos e 21 capítulos de livros (para 173 trabalhos, indice H=37). Orientou 30 Mestres em Microbiologia e Imunologia (1968-2002) e 25 Doutores em Ciências (1967-2008). Sua liderança se refletiu na organização de Departamentos e grupos de pesquisa na UFRJ e UNIFESP, fundação de Sociedade científica, criação e coordenação do Centro Interdisciplinar de Terapia Gênica (CINTERGEN) na UNIFESP, coordenação de Cursos de Pós-graduação, Direção do Setor de Biologia e Ciências Médicas do CNPq e participação de comitês assessores, atividades como Editor Senior de Ciência e Cultura, J. Braz. Assoc. Adv. Sci., relator, membro e Presidente de comissões no CNPq, CAPES e Academia Brasileira de Ciências, e muitas outras.