Luiz Hildebrando Pereira da Silva
(PEREIRA DA SILVA, L. H.)
Ainda como estudante de Medicina na USP, Luiz Hildebrando Pereira da Silva interessou-se por atividades de pesquisa e trabalhou no laboratório de Parasitologia dirigido por Samuel Pessoa em equipe com Ruth e Victor Nussenzweig sobre aspectos biológicos do parasita Trypanosoma cruzi. Depois de formado, viajou com Samuel Pessoa em 1953 para a Paraíba onde ensinou Parasitologia na recém-criada Faculdade de Medicina e participou dos programas de pesquisa dirigido por Samuel Pessoa sobre epidemiologia de doenças parasitárias, particularmente a esquistossomose e a doença de Chagas. Regressou a São Paulo em 1956, ingressando como assistente da cadeira de Parasitologia na Faculdade de Medicina da USP e desenvolvendo pesquisas sobre biologia e bioquímica do parasita T. cruzi em colaboração com J. Ferreira Fernandes. Em 1960 é aprovado com distinção no concurso para livre-docente de Parasitologia. Trabalha como estagiário de pós-doutoramento no Instituto Butantã (laboratório de S. Baeta Henriques) e segue no ano seguinte para a Europa como bolsista de pós-doutoramento do CNPq, trabalhando de 1961 a 1962 em Bruxelas no laboratório de Jean Brachet, sob a direção de René Thomas, desenvolvendo pesquisas sobre a lisogenia do bacteriófago l. Trabalha em seguida entre setembro de 1962 e agosto de 1963 em Paris, no Instituto Pasteur com François Jacob em genética molecular da lisogenia. Regressando ao país em 1963 organiza com Erney Camargo o laboratório de genética de microorganismos mas sua atividade é interrompida após o golpe militar de abril 1964. Preso e depois demitido pelo Ato Institucional n. 1 retorna a França onde se integra no Instituto Pasteur como assistente e depois como “chargé de recherches” do CNRS. De 1964 a 1968 desenvolve pesquisas com Harvey Eisen e François Jacob sobre a regulação genética da lisogenia com a descrição original da “regulação genética de gens reguladores”. Em 1968 tenta regressar ao Brasil e, a convite de Moura Gonçalves, então diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, organiza o laboratório de Genética microbiana no Departamento de Genética dirigido por Warwick Kerr. Demitido pela segunda vez em abril de 1969 por decreto do Presidente militar em exercício, no quadro do Ato Institucional n. 5, regressa pela segunda vez à França e reassume seu posto de “Maître de Recherches” do CNRS lotado no Instituto Pasteur. Em 1971 é nomeado chefe da Unidade de Diferenciação Celular do Departamento de Biologia Molecular do Instituto Pasteur e inicia novo programa de pesquisas sobre diferenciação celular utilizando como modelo experimental a ameba Dictyostelium discoideum. Os estudos conduziram a descrever o papel de agentes quimiotáticos como indutores da diferenciação celular. Assume em 1976 a direção do Departamento de Biologia Molecular e é então convidado por Jacques Monod, prêmio Nobel de Medicina em 1965 e Diretor do Instituto Pasteur, a organizar uma nova estrutura de pesquisas na área da Parasitologia. O antigo Serviço de Parasitologia do Instituto fora fechado em 1973. Depois de uma fase de estudos é criada, sob sua direção a Unidade de Parasitologia Experimental em 1979 com o objetivo de desenvolver pesquisas sobre biologia molecular de parasitas da malária e, em particular, de Plasmodium falciparum. O projeto é definido com um duplo caráter: de um lado a pesquisa de caráter fundamental da estrutura do material genético do parasita, em particular dos genes codificando antígenos; de outro, estudos aplicados visando a elaboração de vacinas contra a malária. Nesse sentido organiza igualmente duas estruturas do “Réseau International des Instituts Pasteur”, a saber, a Unidade de Primatologia e o Serviço de Imunologia de malária experimental no Instituto Pasteur de Cayenne, onde são realizados desde 1981 estudos de vacinação experimental com o macaco amazônico Saimiri sciureus e o Centro de Imunologia de malária do Instituto Pasteur de Dakar que realiza desde 1991 estudos epidemiológicos e imunológicos de malária falciparum no Senegal. Sua atividade científica nos últimos 15 anos foi dedicada à pesquisa sobre malária, abrangendo aspectos fundamentais de bioquímica e biologia molecular dos parasitas, aplicações vacinais e estudos epidemiológicos. A partir de 1990, em colaboração com Erney Camargo, do Departamento de Parasitologia da USP, organiza uma equipe de pesquisas sobre malária em Rondônia. A equipe de pesquisas sobre malária do Instituto Pasteur que se desenvolveu a partir do pequeno núcleo inicial da Unidade de Parasitologia experimental em 1980 situa-se atualmente entre as mais importantes no mundo, compreendendo em Paris, três unidades de pesquisa reunindo cerca de 50 pesquisadores e técnicos e, no Réseau International, várias unidades em Cayena, Madagascar e Senegal. Aposentando-se no Instituto Pasteur em 1996, regressa ao Brasil e presta concurso na USP, sendo nomeado professor titular de Parasitologia em 1997 e assumindo a direção dos programas de pesquisa em Rondônia, numa frente avançada da USP na Amazônia. Autor de mais de 120 trabalhos científicos (cerca de 80 em malária), Luiz Hildebrando é ainda autor de vários artigos de interesse geral publicados em revistas e na imprensa, além de um livro de conteúdo autobiográfico “O Fio da Meada”, publicado em 1990.