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Ciências Biomédicas | MEMBRO ASSOCIADO

José Xavier-Filho

(XAVIER-FILHO, J.)

09/11/1936
Brasileira
28/04/1999
04/07/2018

Nasceu em Granja, tradicional cidadezinha do Noroeste do Ceará. Filho de José Barreto Xavier e Edna Carneiro Xavier. Ele, pequeno comerciante e exportador de produtos agrícolas, herdeiro de intelectuais e ela, acreana/boliviana, filha de seringueiro, doce e forte ao mesmo tempo. Casou-se com Maria do Socorro Figueiredo Rego, de raízes piauienses, tendo tido quatro filhos: José, Doutor em Fisiologia, Ana Maria, jornalista, Beatriz, advogada e Carolina, estudante de Administração. Maurício e Pedro são os dois netos. Terminou os estudos secundários no Liceu do Ceará, em Fortaleza (1956). Foi admitido na Escola de Agronomia (Universidade Federal do Ceará) para, ao formar-se, cuidar das terras do pai. Saiu da Escola Engenheiro Agrônomo (1960) sem vocação para a profissão. No segundo ano de curso foi incorporado ao Instituto de Química e Tecnologia, recém criado por Mateus Ventura, paradigma do cientista cearense e que foi seu orientador. Interessou-se por bioquímica de plantas para a qual contribuiu, inicialmente em associação com Ventura, para o estabelecimento, no Brasil, do interesse em pesquisa em inibidores de proteases de plantas. Após curta estada na Universidade da Califórnia, Los Angeles (1962-63) fez doutorado no Departamento de Bioquímica, Instituto de Química (UFRJ, 1969) com João Consani Perrone, que muito o ensinou, inclusive sobre o tratamento a seus estudantes. Com a ousadia dos iniciantes contatou cientistas estrangeiros de sua área e levou (1976 a 1990) muitos deles para conhecer seu laboratório, seus projetos e as belas praias do Ceará. Esses contatos (Arpad Pusztai, em Aberdeen, Mike Richardson em Durham, Clarence Ryan em Pullman, Peter Shewry em Rothamsted e depois Bristol, Jürgen Weder em Garching, Alejandro Blanco-Labra em Irapuato e outros) o tornaram conhecido e foram fundamentais para o envio de muitos de seus jovens estudantes, em busca de formação avançada. O significado biológico da presença de inibidores de proteases em plantas (1973) foi a mola propulsora de seu trabalho. Esse interesse levou ao desenvolvimento da idéia de que inibidores de proteases estão ligados a processos de controle bem como a mecanismos de defesa contra herbívoros. Essas idéias o levaram a estabelecer linhas de pesquisa voltadas para o estudo de produtos vegetais associados a defesas de plantas. Foram assim feitas contribuições sobre proteínas de defesa em produtos tais como goma de cajueiro, látex de maniçoba, cera de carnaúba e manipueira (1989-1998). Em seu laboratório mostrou-se, pela primeira vez (1980) que as proteases digestivas de Callosobruchus maculatus (praga do feijão de corda) não são da classe serínica mas das classes cisteínica e aspártica. Essa descoberta levou à demonstração de que as bases moleculares para a resistência de sementes de certas variedades de feijão de corda a esse bruquídeo não se relacionam a inibidores de proteases mas à presença de vicilinas variantes (1993). Em seu laboratório descobriu-se que essas proteínas, anteriormente conhecidas somente por sua função de reserva protéica, associam-se a quitina e a gliconjugados que contêm unidades de N-acetilglucosamina (1996). Outros estudos mostraram ser essas proteínas inibidoras do crescimento de fungos filamentosos e leveduras devido à sua associação com quitina das paredes celulares (1997-98). A constatação de que essas proteínas de reserva são também expressas em tecidos maternais de sementes (tegumento) foi, juntamente com a descoberta da associação de vicilinas a quitina, fundamental para o estabelecimento de um modelo para explicar por que certas sementes de leguminosas são resistentes a bruquídeos não específicos (1997-98). Essas atividades, em quase sua totalidade, foram desenvolvidas no DBBM (Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, UFC) até julho de 1995 quando, aposentado, transferiu-se para a Universidade Estadual do Norte Fluminense, em Campos dos Goytacazes (Rio de Janeiro). Na UENF continua seu trabalho de orientação e estudo tendo seu grupo isolado do tegumento de sementes de Canavalia ensiformis (feijão de porco) uma proteína cuja seqüência é inteiramente homóloga à da insulina bovina. Orientou 13 monografias de graduação, 23 dissertações de mestrado e 4 teses de doutorado, nas diversas instituições com as quais tem estado associado. Publicou 55 trabalhos originais, 7 revisões, 4 capítulos em livros e 1 opúsculo. Fez dois concursos para Professor Titular e dois para Professor Adjunto. Foi, por duas ocasiões (1978 a 1982; 1978 a 1995), Representante da Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular no Nordeste tendo, nessa condição, organizado a primeira reunião regional da Sociedade (1980). Mesmo sendo avesso a administração foi Diretor do Instituto de Biologia da UFCe (1969), Coordenador do Curso de Pós-Graduação em Bioquímica Vegetal (UFCE, 1971 a 1985) sendo atualmente Chefe do Laboratório de Química e Função de Proteínas e Peptídeos da UENF (desde 1995). É membro da Academia Cearense de Ciências (1986) e das sociedades: American Association for the Advancement of Science (1966), American Chemical Society (1972), Sociedade Brasileira de Bioquímica e Biologia Molecular (1972), Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Sociedade Botânica de São Paulo, Sociedade Botânica do Brasil, Sociedade Brasileira de Fisiologia Vegetal, Sociedade Entomológica Brasileira.