João Lucas Marques Barbosa
(LUCAS BARBOSA, J.)
De família pobre, seu pai, comerciante de cereais no Mercado Central de Fortaleza, faleceu em 1946, quando ele tinha 3 anos de idade. A mãe, professora primária e diretora de escolas de primeiro grau, dos 17 até os 70 anos, notabilizou-se como uma grande educadora no Ceará. Alfabetizou-se em casa, estudou os primeiros anos nas Escolas Reunidas Domingos Brasileiro, depois no Colégio Castelo Branco, e, por último, no Liceu do Ceará, em curso noturno, onde concluiu o curso científico. Foi um aluno médio ao longo do primeiro grau, tendo quase sido reprovado em Matemática no terceiro ano primário.
A saída do Castelo Branco, para o turno noturno do Liceu resultou do seu ingresso no Curso de Aprendizagem Bancária, criado pelo Banco do Nordeste do Brasil com o objetivo de formar profissionais para a carreira bancária. Esse Curso notabilizou-se, durante muitos anos, pela formação de parcela considerável da elite econômico-financeira do Estado. Ao término, ingressou como funcionário do BNB.
Ingressou na Universidade Federal do Ceará – UFC, em março de 1962, na primeira turma do Curso de Bacharelado em Matemática da então recém criada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Em seu vestibular, obteve nota 9,5 – a maior entre todos os candidatos àquele exame. Estudou no antigo Instituto de Matemática daquela Universidade, onde teve o privilégio de ter sido, no primeiro ano, aluno do Professor Elon Lages Lima e, no terceiro, do Professor Manfredo Perdigão do Carmo, ambos ilustres membros desta Academia. Com o primeiro, aprendeu Cálculo e, com o segundo, foi introduzido no estudo da Geometria Diferencial, assunto pelo qual nutriu amores e no qual veio a defender tese e a se dedicar como pesquisador. Ainda aluno do primeiro ano, foi agraciado com uma bolsa de iniciação científica, tendo, então, se afastado do Banco do Nordeste. Manteve esta bolsa até o segundo semestre de 1964, quando veio a perdê-la por motivos políticos. Perdeu também seu emprego no Banco do Nordeste e passou a lecionar em cursinhos e em colégios. Concluiu o bacharelado em dezembro de 1965. Ao longo da permanência como estudante de graduação, tornou-se líder estudantil, tendo sido presidente de diretório acadêmico, membro da equipe de direção da Juventude Universitária Católica e até candidato a presidente do Diretório Central dos Estudantes. Findo o bacharelado, ingressou de imediato, através de concurso público, como professor Auxiliar de Ensino, na UFC. Ao mesmo tempo, ingressou no Curso de Mestrado em Matemática, que veio a concluir em julho de 1967. Neste curso, voltou a ser aluno do Professor Manfredo, com quem estudou Análise Real e Geometria Riemanniana.
Casou em dezembro de 1969 e, com bolsa do CNPq, partiu para o doutorado na Universidade da California, em Berkeley, naquela época o melhor centro para o estudo da Geometria Diferencial. Foi orientado pelo professor S.S.Chern, um dos maiores geômetras deste século. Sua tese versou sobre imersões mínimas, assunto que estava na moda naquela época.
Ao longo da vida profissional, produziu muitos trabalhos em colaboração com outros cientistas. A parceria mais longa deu-se com o Professor Manfredo P. do Carmo. Juntos, deram início a nova área de pesquisa em Matemática, em torno do conceito de estabilidade de imersões mínimas, sobre a qual produziram os principais resultados. Esta parceria iniciou-se em 1971, quando ainda estava em Berkeley escrevendo sua tese de doutorado e Manfredo visitava aquela instituição, e perdurou por mais de 18 anos, ao longo dos quais, publicaram 12 trabalhos.
Foi sempre considerado um excelente professor. Ao longo de sua vida, lecionou Matemática em todos os níveis: primeiro, segundo e terceiro graus. Um dos seus livros – “Geometria euclideana plana”, fruto da preocupação com o ensino, tornou-o conhecido, em todo o Brasil, inclusive no meio do professorado de Matemática do segundo grau.
Distinguiu-se, também, como liderança na comunidade dos matemáticos brasileiros e em atividades administrativas relacionadas com Ciência e Tecnologia. Nesta vertente, destacam-se sua atuação como Presidente de área no CNPq e na CAPES, sua atuação como coordenador de curso de pós-graduação e, por último, como Presidente da Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa.