Gustavo de Oliveira-Castro
(OLIVEIRA-CASTRO, G. DE)
Em 1938, na exposição de fim de ano do Colégio Manoel Cícero, num caderno de desenhos colecionados por sua mãe, lia-se: Desenhos do aluno Gustavo feitos entre os 4 e 7 anos de idade. Nele só se viam leões, sapos, besouros e outros bichos ou personagens como Popeye ou Branca de Neve, nenhum desenho de avião, carro ou casa, nem mesmo de uma caixa como a que escondeu o carneirinho da visão do “Pequeno Príncipe” (Saint Exupéry) libertando a sua imaginação. Contrariamente, o copista precoce que chamavam por “Babinho” e o pai muitas vezes por “Vira-mundo” prefere ainda hoje estudar as imagens, comportamentos ou funções que se expressam ou se deduzem pela análise da forma.
Tendo a escolaridade garantida por prêmio de bolsa de estudos, contribuiu para seu sustento com o dinheiro ganho pintando quadros, portas ou azulejos, e posteriormente com desenhos a “bico de pena”, de insetos e aranhas (através do Prof. C. de Mello Leitão), que ainda podem ser vistos em antigos volumes das revistas da Academia Brasileira de Ciências ou do Museu Nacional. Inicialmente, com seu pai aprendeu a amar a natureza e também a usar alguns instrumentos que auxiliam no exame de seus detalhes. Depois, no 1º ano de Medicina, acolhido e incentivado por Carlos Chagas Filho começou sua carreira no laboratório de A. Couceiro no Instituto de Biofísica, onde mais tarde definiu-se o seu interesse pela Neurobiologia no decorrer das aulas dadas por Rita Levi-Montalcini e em razão de trabalhos que desenvolvia com D. Hertha Meyer.
Em 1959, no Simpósio de Bioeletrogênese foram apresentados dois dos seus primeiros trabalhos sobre os peixes elétricos Poraquê, Sarapó, Tuvira e Ituí, cujas conclusões gostaria de salientar e colocar de modo menos formal: 1º – Os principais componentes do órgão elétrico do Ituí (Sternachus albifrons) designados por “eletrolubros” e de natureza desconhecida são na realidade fibras nervosas modificadas. 2º – No estudo comparativo do encéfalo do Electrophorus electricus e dos peixes referidos, são claras as evidências da função especial que neles desempenha o sistema de linha lateral como se lê no trecho do artigo: “….the lateral line system may be in these species a specialized receptor system involved in the mechanisms for orientation and detection of nearby objects”, e mais adiante se referindo ao E. electricus: “… it also has a similar mechanism to detect differences of conductance in its environment”. Hoje os receptores “especializados” da linha lateral são designados eletroreceptores.
Preferiu que aqui figurasse nas próprias palavras: “Saltando épocas tristes ou alegres, fracassos ou sucessos, bem como o período que passei com Rita Levi-Montalcini e Viktor Hamburger, já por mim tão propalado, e ainda certamente omitindo pessoas queridas e importantes na minha formação e convívio, queria aqui não deixar de registrar os momentos mais profícuos e agradáveis que durante 32 anos passei com Dr. Hiss Martins Ferreira estudando e pesquisando a depressão alastrante (D.A.) em retinas. Inúmeros novos aspectos do “fenômeno de Leão” bem como do substrato neural onde este ocorre foram por nós publicados em artigos originais e revisões.
Nos últimos 3 anos o conhecimento de novos fatos relativos aos aspectos da D.A., os quais, como cita David H. Leibowitz, vinham sendo objeto de sua especial atenção, dedicação e interesse, levaram-no a fazer uma revisão atualizada do assunto e reavaliação de dados experimentais que resultaram na sua recente abordagem da D.A. como uma resposta peculiar do tecido nervoso de caráter adaptativo de proteção contra a “agressão” causada por estímulos nocivos. Essas idéias foram motivo de palestras no IBCCFº e de conferência na X Reunião Anual da FESBE.
Finalizando, quis acrescentar: “Não me perdoaria se não guardasse aqui um espaço para manifestar a minha gratidão ao Dr. Aristides Azevedo Pacheco Leão e a meu pai (Gustavo Mendes de Oliveira Castro) que, de modo semelhante, pelo exemplo e sabedoria, pela atenção e afeto a mim dispensados, foram necessários ao meu entusiasmo, ao meu desempenho e às minhas alegrias”.