Cesare Mansueto Giulio Lattes
(LATTES, C. M. G.)
Nasceu César Lattes em 1924 na cidade de Curitiba, e na ordem natural das coisas, concluiu seu ginásio no Instituto Médio Dante Alighieri em São Paulo; este Instituto, refletindo a Itália de seu pai Giuseppe Lattes e daquela italiana tão importante, a sua mãe Carolina Maroni Lattes. Como não poderia ser de outra forma freqüentou a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. A afirmação de que não poderia ser de outra forma se prende a uma pequena lista de eméritos professores: G. Albanese, Marcelo Damy de Sousa Santos, Abraão de Moraes, Gleb Wataghin e Mario Schenberg. Fruto da interação com a personalidade criativa destes professores surgiram trabalhos reconhecidos internacionalmente e que citaremos apenas alguns que melhor traduzem o Físico experimental: trata-se do trabalho com Fowler e Cuer abordando a transmutação nuclear de elementos leves, e dando origem a toda uma série de trabalhos envolvendo o método fotográfico, trabalho este feito em 1946. Novamente em 1947 e publicado na prestigiosa revista Nature, o famoso trabalho de Lattes, Occhialini e Powell sobre a detecção fotográfica de traços de mésons de baixa velocidade. Finalmente, nesta etapa de seu trabalho de pesquisa publicou com Gardner a produção de mésons no cíclotron de Berkeley, demonstrando pois, através da utilização de aceleradores, o que havia sido detectado em 1947. Em 1948 recebeu da Universidade de São Paulo, o título de Doutor honoris causa, reconhecimento maior do que o simples ritual de uma defesa de tese. Começa, a partir desse momento, a frutífera colaboração com o Japão, em que citamos a colaboração com Fujimoto e Hasegawa, sobre interações de hádrons em raios cósmicos de alta energia observados através de câmaras de emulsão, o passo natural seguinte sendo as bolas de fogo em produção múltipla de pions. Com isso se solidificou a colaboração Brasil-Japão através da câmara de emulsão de Chacaltaya. Este texto pretende resumir os pontos principais de toda uma vida de um experimental (com algumas incursões em interpretações teóricas). Passa-se então a palavra, para definir a ordem dos temas, ao próprio autor das perguntas que implicaram nos resultados científicos. As linhas mestras desta vida de questões e angústia diante da natureza foram: interações hadrônicas, teoria clássica do elétron puntiforme, termodinâmica e abundâncias dos elementos no universo, emulsões nucleares, raios cósmicos, mésons p e múons, anisotropia na desintegração p e múon e, finalmente, altas energias. Foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, tendo sido um dos seus professores titulares de 1949 até 1994, ocasião em que recebeu o título de Professor Emérito, como sempre nestes momentos importantes, acompanhado de sua Martha. Não cabe aqui, mencionar todos os prêmios e honrarias recebidas, visto que constam do Catálogo da ABC; entretanto, alguns deles por razões afetivas serão explicitamente mencionados: de sua ABC, o prêmio Einstein em 1950, o Prêmio Moinho Santista em 1976, o Prêmio Bernardo Houssay em 1978, o Prêmio da Academia de Ciências do Terceiro Mundo em 1988 e em 1994 a Grã Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Este pequeno resumo do reconhecimento nacional e internacional, simplifica a tarefa desta Academia de resumir a contribuição científica, daquele que no ver de seus colegas, forneceu a melhor contribuição em Física Experimental de Altas Energias já feita deste país, sobretudo nos tempos heróicos do início da construção de uma visão das partículas elementares, construção esta feita sob o olhar implacável da Experiência.