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Ciências Biomédicas | MEMBRO TITULAR

Cesar Timo-Iaría

(TIMO-IARÍA, C.)

25/07/1924
Brasileira
13/04/1976

Nasceu em São Paulo em 1924, filho de imigrantes italianos, operários altamente politizados. A depressão de 1929, que se arrastou até fins da Segunda Guerra Mundial, obrigou-o a ir trabalhar aos 8 anos e ir à escola não antes dos 9 anos (embora já inteiramente alfabetizado por seu pai). Seus avós eram fascistas, seus tios comunistas, sua mãe anarquista e seu pai democrata convicto, o que não os impedia de serem, todos, mui católicos apostólicos romanos… Operário até os 16 anos, trabalhou aos 17 na sucursal de São Paulo do jornal The News, editado no Rio de Janeiro, aos 18 (em plena segunda guerra) redigia noticiário internacional em uma estação de rádio e em 1946 tornou-se revisor e depois supervisor de linguagem do jornal Folha da Manhã. Durante alguns anos ministrou aulas de Matemática, Física, Português, Inglês e Francês. Teve de interromper seus estudos várias vezes; seu sonho era ser físico mas em uma das interrupções leu “Science of Life”, livro inglês em 10 volumes, escrito por H. G. Wells, J.Huxley e J. P. Wells, e que o arrastou para a Fisiologia. Cursou Medicina, tendo prestado exame vestibular na Escola Paulista de Medicina aos 23 anos de idade.
Formado, em 1952 foi a seguir para o Departamento de Fisiologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP), onde se doutorou e tornou-se livre-docente, retornando a São Paulo 11 anos mais tarde, para ser Professor Associado da Faculdade de Medicina USP e mais tarde Professor Titular de Fisiologia do Instituto de Ciências Biomédicas USP. Aposentado, voltou à Faculdade de Medicina USP em 1984, onde se encontra até hoje. Treinou mais de uma centena de fisiologistas, espalhados pelo Brasil, Argentina, Estados Unidos e Alemanha.
Em sua atividade científica introduziu na literatura pertinente alguns conhecimentos relevantes, dentre os quais destaca a descoberta de que a glicemia não é regulada pelo balanço passivo glicose-insulina, como ainda se ensina, mas por um sistema neural que se inicia em glicoceptores sensíveis à citoglicopenia, que medem a glicemia continuamente e acaba no fígado. Em experiências com ratos, gatos, cães e humanos, chegou à conclusão de que a fome não é desencadeada pela hipoglicemia mas pelo trabalho metabólico do fígado para impedir que a glicemia baixe em função do consumo. Descobriu, em 1963 que núcleos da região dorsolateral do tegmento da ponte participam da gênese do sono; todos os especialistas em mecanismos de gênese do sono dessincronizado (fase do sono em que ocorrem os sonhos) trabalham atualmente com esses núcleos. Desenvolveu em 1977 o conceito, que já começa a permear vários campos da Fisiologia, de que os comportamentos se constituem não só dos componentes motores (que, por serem visíveis, em geral os definem) mas também dos componentes vegetativos, que são gerados em paralelo com os motores. Esse conceito explica uma infinidade de situações fisiológicas e patológicas de outro modo quase incompreensíveis. Em 1970 sistematizou as características eletrofisiológicas do alerta e do sono do rato, que se tornou em seguida o animal de escolha para estudo do sono.