A Força Nacional do SUS montada para responder à crise humanitária que atinge o povo Yanomami está completando uma semana desde que iniciou atividades em Roraima. Os profissionais chegaram na noite de segunda-feira, 23 de janeiro, à Casa de Apoio à Saúde Indígena (Casai) em Boa Vista e se depararam com uma grave superlotação. “Encontramos um cenário de guerra”, afirmou o secretário Especial de Saúde Indígena, Ricardo Weibe Tapeba.

O espaço na Casai é dividido entre duas malocas onde os pacientes ficam alojados de acordo com região e grupos de origem. Ao todo, 777 indígenas estavam internados na Casai no início da semana, com quadros de verminoses, malária, pneumonia, diarreia, anemia e até mesmo tuberculose, doença altamente infecciosa. Todos os quadros são agravados pela aguda desnutrição que vem assolando o povo Yanomami.

Os casos mais graves eram enviados para hospitais de Boa Vista e, na sexta-feira, foi inaugurado um Hospital de Campanha da Força Aérea Brasileira (FAB) junto à estrutura da Casai. De acordo com o Ministério da Saúde, nos cinco primeiros dias de atuação da Força Nacional 201 indígenas receberam alta, com o número de internações caindo para 576, ainda assim, isso é mais do que o dobro da capacidade normal. “O ideal seria termos, no máximo, 250 pessoas aqui”, disse o coordenador de saúda da Casai, Rednaj Santos.

Crise humanitária

A desnutrição é a peça chave para explicar o grave estado de saúde dos Yanomami de acordo com todos os profissionais atuando no atendimento.  Crianças de cinco anos estão com altura e peso normais para crianças de dois, evidenciando uma situação que já ocorre há anos, e a maioria está com as barrigas inchadas, característica da falta de proteínas. A desnutrição agrava praticamente todas as doenças e é particularmente cruel com grupos vulneráveis, como crianças e idosos.

Mas adultos também estão desnutridos, o que só agrava a situação da comunidade, já que são eles que precisam prover alimentos e cuidados aos demais. “O atendimento que mais me impressionou até agora foi de uma mãe que estava amamentando, mas pesava pouco mais de 27 kg”, conta o enfermeiro Bruno Lopes, voluntário da Força Nacional do SUS.

Os pacientes chegam a Casai enviados de polos de saúde localizados no interior da terra indígena. A enfermeira July Branco conta que logo na chegada ao polo de Surucucu ela se deparou com uma família de pai e mãe desnutridos carregando cinco crianças com desnutrição severa. “Trabalho com enfermagem desde 2002 e, em toda a minha vida profissional, nunca tinha visto nada que chegasse ao menos perto da situação que presenciamos nesse campo”.

De todas as doenças que já foram diagnosticadas, os profissionais demonstram uma preocupação especial com a tuberculose. A doença é grave e transmitida por vias aéreas, podendo se disseminar facilmente entre os indígenas. Além disso, o tratamento leva meses e requer acompanhamento, algo bastante complicado nessas populações. A dificuldade no processo atrasa a alta e contribui para a superlotação da Casai.

“O que me chamou mais a atenção mesmo são os pacientes que estão aqui em tratamento de tuberculose, e a gente sabe que já saíram da fase de ser transmissores ativos, mas em coletas de histórias e anamnese desses pacientes a gente pôde perceber que muitas vezes são casos de má adesão ao tratamento que muitas vezes não foi seguido de forma adequada” relatou o médico Antonio Cedrim.

De acordo com o Centro de Operações de Emergência em Saúde Pública (COE Yanomami), além do tratamento emergencial, estratégias estão sendo traçadas para estabelecer laboratórios de diagnóstico e uma linha constante para chegada de insumos, imunizantes e planos de alimentação e nutrição para o povo Yanomami.

Profissionais atendem criança Yanomami com barriga inchada devido à desnutrição (Imagem cedida pela Força Nacional do SUS).

Força Nacional do SUS

Desde a criação da Força Nacional do SUS, mais de 33 mil pessoas já se inscreveram como voluntários para ajudar no enfrentamento da crise humanitária. “Qualquer profissional de saúde de todo o Brasil pode entrar no formulário que está disponível no site do Ministério da Saúde e fazer o cadastro de voluntários”, reforça o diretor do Departamento de Atenção Hospitalar, Domiciliar e de Urgência (Dahu), do Ministério da Saúde, Nilton Pereira Júnior.

Ele esclareceu, ainda, as seguintes dúvidas:

Quem pode se inscrever na Força Nacional do SUS?

Profissionais de saúde, sejam do SUS, do serviço público ou da iniciativa privada, profissionais de hospitais filantrópicos ou profissionais de serviços privados que não prestam assistência ao SUS também podem se inscrever como voluntários.

E se a (o) profissional de saúde está trabalhando, como é que ela/ele faz para se licenciar por uma ou duas semanas?

O Ministério da Saúde manda um ofício para a chefia do profissional que, juntamente com a sua chefia, organizam sua escala de trabalho durante o período da missão.

Quais profissionais de saúde podem se inscrever?

Atualmente, nós permitimos a entrada apenas de profissionais formados, graduados ou técnicos, no caso de técnicos de enfermagem, mas que tenham registro no seu devido conselho. Então, residentes médicos e multiprofissionais podem se inscrever sim, desde que devidamente certificados.

A inscrição deve ser feita apenas uma vez?

O nosso cadastro é permanente. Ele é para a Força Nacional do SUS, independentemente de qual seja a missão. Então é para essa missão, mas também para as outras que possam ocorrer.

Como é feita a seleção para o profissional atuar na Força Nacional do SUS?

O planejamento é concentrado no Comando de Operações de Emergência, definido pelo Ministério da Saúde. Então, a cada missão, durante a evolução da missão, o comando vai definindo quais profissionais e qual perfil de profissionais serão encaminhados.

Os profissionais recebem auxílio?

A Força Nacional do SUS disponibiliza passagens para o voluntário do local de residência até o local onde ocorrerá a missão. Além disso, são fornecidas diárias para o custeio com alimentação e estadia.

O que é a Força Nacional do SUS

A Força Nacional do Sistema Único de Saúde (FN-SUS) é um programa de cooperação criado em novembro de 2011 e voltado à execução de medidas de prevenção, assistência e repressão a situações epidemiológicas, de desastres ou de desassistência à população quando for esgotada a capacidade de resposta do estado ou município.