Amurabi Pereira de Oliveira nasceu em 1986 em Campina Grande, no estado da Paraíba, onde viveu uma infância tranquila. Guarda lembranças dos finais de semana na casa da avó, grande contadora de histórias de vida. Embora apaixonado pelas artes em geral e interessado pelas áreas de ciências humanas e sociais, Amurabi sempre foi um excelente aluno de biologia, o que fez com que todos os professores dessa disciplina apostassem em seu futuro como biólogo – opção distante da área pela qual se apaixonou ainda nos tempos de colégio.

Primeiro sociólogo eleito como membro afiliado da ABC, Amurabi Oliveira reflete sobre a importância do título. “Percebo o título como um reconhecimento da área das ciências sociais como um todo, mas além do coletivo há também a alegria pessoal de ver minha trajetória acadêmica reconhecida e vislumbrar a possibilidade de atuar mais efetivamente na luta pela ciência no Brasil.”

Filhos de comerciantes, Amurabi e a irmã caçula passavam boa parte do tempo na loja da família, o que contribuiu para o estabelecimento de uma forte relação familiar. “Nossos pais sempre foram muito presentes, acreditavam muito na educação e na possibilidade de mudança através dela.” Os pais foram da primeira geração de suas respectivas famílias a terminar o ensino médio, enquanto Amurabi foi o primeiro da família a concluir uma graduação. O pai chegou a ingressar em uma universidade, mas não conseguiu dar continuidade ao curso.

Na infância e juventude, Amurabi sempre teve um forte interesse pela ciência. Boa parte desse interesse surgiu por conta de programas educativos que ele assistia na TV, além de professores marcantes na escola. Sua paixão pelas ciências humanas foi muito influenciada por uma professora de geografia do ensino médio, Eliene, com quem ele mantém contato até hoje.” Além das aulas, conversávamos muito e ela me fez compreender o fazer das ciências humanas e sociais como um fazer científico, algo que às vezes é secundarizado na escola.”

Por conta da influência da professora, Amurabi quase ingressou na graduação em geografia, embora seus pais manifestassem o desejo de ver seu filho mais velho cursando direito. Mas Eliene o aconselhou a cursar ciências sociais, que lhe abriram portas para as áreas de geografia, história, sociologia e ciência política. “Isso aconteceu em 2002, ano da primeira eleição em que eu votaria, o que me despertou interesse na ciência política”, contou o Acadêmico.

Ao ingressar em ciências sociais na Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), em 2003, o Acadêmico dedicou-se a projetos voltados para o ensino, já que estava determinado a se tornar professor do ensino médio. Foi monitor em disciplinas de sociologia e professor voluntário em um cursinho pré-vestibular para alunos de escolas públicas. Além disso, fez parte de um projeto de pesquisa financiado pelo Ministério do Trabalho, voltado para o

mapeamento de empreendimentos de economia solidária. Essas experiências foram fundamentais para ele. “Pude conhecer um pouco dos bastidores do ensino na universidade, através da monitoria, e fazer pesquisa de campo, onde conheci uma dimensão mais prática do fazer sociológico”, comentou o Acadêmico.

Oliveira ressaltou que teve muita sorte de estar no lugar certo e na hora certa: quando estava já na reta final do curso, a sociologia foi reintroduzida nos currículos escolares, com o processo de reestruturação e expansão da rede federal de ensino. Ele finalizou a graduação em 2007, e logo deu sequência ao mestrado em ciências sociais, também na UFCG e sob orientação da professora Magnólia Gibson – uma de suas principais referências acadêmicas.

Durante o mestrado, Oliveira aprendeu a fazer pesquisa de forma mais autônoma. Em 2008, com um ano e meio de mestrado, foi aprovado em primeiro lugar no concurso do Cefet Petrolina, posteriormente transformado em Instituto Federal do Sertão Pernambucano. Entre os anos de 2009 e 2011, Oliveira cursou o doutorado em sociologia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), tendo sido aprovado em primeiro lugar em dois concursos: para o Instituto Federal de Pernambuco (UFPE) e na Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

O fato de ter estudado e trabalhado durante o doutorado e parte do mestrado foi marcante para o Acadêmico, pois lhe deu experiência de docência no ensino superior desde os 22 anos. Por outro lado, o impacto da dupla jornada em sua vida foi grande: para dar conta de tudo, ele precisava manter uma rotina exaustiva de domingo a domingo, na qual se dividia entre a pesquisa de campo, leitura de textos e redação da tese. “Eu só fiz tudo isso porque era muito jovem, comecei o doutorado aos 22 anos e finalizei aos 25. Hoje, certamente, meu ritmo seria outro”, reflete Oliveira.

Embora tenha apenas 36 anos, Oliveira sociólogo tem um currículo recheado. Além de ter dado aulas em três instituições diferentes enquanto ainda cursava sua pós-graduação, hoje ele é professor do Departamento de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Além de afiliado da ABC, Oliveira também é membro da Global Young Academy (GYA), associado efetivo da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), onde foi membro do Comitê de Educação, Ciência e Tecnologia, e da Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS), onde foi membro do Comitê de Ensino. Foi ainda presidente da Associação Brasileira de Ensino de Ciências Sociais (Abecs) e atualmente integra o Projeto Memória da Sociologia Brasileira da SBS.

Amurabi Oliveira direciona suas pesquisas principalmente para o impacto dos movimentos conservadores na educação, analisando especificamente o ensino das ciências humanas e sociais. Ele também busca explorar como que na chamada pós-verdade, quando as opiniões pessoais importam mais que os fatos, o ensino das ciências humanas e sociais é afetado, principalmente no ensino médio. Ele acredita que sua principal contribuição como afiliado será destacar o papel das instituições que compõem o sistema de ensino como principais espaços de difusão do conhecimento e estimular o combate à desinformação.

“O que mais me encanta na ciência é a capacidade que ela tem de desvelar o que nos parece óbvio, tirar nossas certezas. Naturalizamos tantas coisas… e aí vêm as ciências sociais

e mostram que certas coisas não têm nada de natural. É um processo fundamental para que ocorram as mudanças em nossa sociedade”, argumenta o pesquisador.

Fora da academia, Amurabi Oliveira tem outras paixões: corrida, cachorros, cinema, viagens, novos idiomas e o nordeste brasileiro, sua terra natal, que visita sempre que pode para matar as saudades – e conhecer coisas novas. É a alma de cientista.