Confira trechos da reportagem da Folha de S. Paulo, publicada em 15/9, que fala sobre as consequências do solo pobre em fósforo da Amazônia para o agravamento das mudanças climáticas no Brasil.

O solo com baixo teor de fósforo limita a capacidade da Amazônia de absorver mais gás carbônico atmosférico (CO2), um dos responsáveis pelo aquecimento global. A conclusão consta de estudo publicado na revista Nature.

Conduzida pela cientista Hellen Fernanda Viana Cunha, doutoranda no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), a pesquisa, que saiu no dia 10 do mês passado, mostrou que a baixa disponibilidade do fósforo, característica natural de 60% dos solos amazônicos, pode limitar a captação de gases do efeito estufa.

Nos últimos anos, cientistas observaram que a Amazônia passou a ser fonte de carbono para atmosfera, considerando o saldo entre emissão e absorção do CO2 —ou seja, a floresta mais emite do que absorve. As causas são o aumento das queimadas, que liberam carbono diretamente na atmosfera, e desmatamento, segundo o climatologista Carlos Nobre, do Instituto de Estudos Avançados da USP (Universidade de São Paulo).

Mais de 40 bilhões de toneladas de CO2 são despejadas anualmente na atmosfera global. A maior parte proveniente da queima de combustíveis fósseis. Desse total, as florestas removem cerca de 13 bilhões de toneladas (32%), e os oceanos, 9,2 bilhões (23%), segundo Nobre.

O cientista diz que os modelos matemáticos destinados à análise de mudanças climáticas até então não levavam em conta a limitação de crescimento de capacidade de absorção da floresta imposta pelo fósforo. “Esta pesquisa está mostrando que é necessário colocar esse [fator] limitador”.

“A Amazônia chegou a retirar mais de dois bilhões de toneladas de gás carbônico atmosférico em um ano, mas está perdendo esta capacidade em razão do aumento dos desmatamentos e degradação”, reiterou Nobre.

Cerca de 18% da floresta está desmatada e 17% degradada (empobrecimento da mata com retirada de árvores e queimadas). Somando os valores, mais de um terço (35%) da floresta já está comprometida, lamenta o cientista.

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O fósforo na Amazônia tem origem em rochas desgastadas pela ação de micro-organismos, reações químicas e processos físicos durante milhões de anos. O mineral vai se esgotando gradualmente nos solos, sendo levado pela chuva pelas planícies amazônicas, ou torna-se indisponível para plantas ao reagir quimicamente com o ferro e alumínio.

Por localizar-se em região tropical úmida, a Amazônia possui intensa atividade biológica que acelera o desgaste do solo e das rochas e diminui a disponibilidade de nutrientes, especialmente fósforo. A acidez do solo (pH abaixo 5,5) contribui para o quadro.

 

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