Em entrevista para o portal Agência Pública, divulgada em 9/8, o membro colaborador da Academia Brasileira de Ciências (ABC) Davi Kopenawa fala sobre a luta pelos direitos indígenas durante o atual governo. 

Há décadas, o xamã Yanomami Davi Kopenawa se mantém firme na luta pelos direitos indígenas e pela defesa da “Terra-Floresta”, que, para seu povo, não é apenas um território, mas uma entidade viva onde coexistem seres humanos e não-humanos, essencial para a manutenção da vida no planeta e para evitar a “queda do céu”, ou o fim do mundo. Sua liderança política, intelectual e espiritual, respeitada mundialmente, será mais uma vez reconhecida: a Universidade Federal de Roraima (UFRR), no estado onde vive, acaba de anunciar que concederá a ele o título de Doutor Honoris Causa, a máxima distinção da academia.

Mesmo com tudo isso, ele diz temer pela própria vida e de outros líderes como ele. “Não tenho medo de falar com o homem branco, de discutir e explicar. Mas tenho medo de pistoleiros que podem nos perseguir e acabar com a liderança que está lutando. Porque, para eles, estamos atrapalhando seu trabalho”, relata. Sua preocupação tem sentido: nos últimos anos, a Terra Indígena Yanomami vem sofrendo uma nova invasão garimpeira – a primeira ocorreu na década de 1980 – que tem provocado uma tragédia humanitária nas comunidades, segundo entidades indigenistas. Kopenawa, presidente da Hutukara, a principal associação Yanomami, está mais uma vez na linha de frente do enfrentamento às invasões.

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Para o xamã Yanomami, as transformações no clima são consequência dos ataques do “povo da mercadoria” à Terra-Floresta e se manifestam sobretudo na forma de xawara, ou “epidemias”, relacionadas às fumaças produzidas, por exemplo, pelas máquinas do garimpo e queima do ouro e mercúrio. “As mudanças climáticas não se criam sozinhas: as pessoas estão desmatando, queimando, derrubando milhares de árvores grandes para negociar, fazer papel e mandar nossas madeiras para outro lugar”, explicou à Agência Pública. “E a mudança climática mais forte [está associada à] mineração, que não vai parar.”

A ofensiva do garimpo ilegal na TI Yanomami é marcada por assassinatos, casos de abuso sexual, doenças, ameaças a indígenas isolados, aumento da desnutrição infantil e destruição ambiental. A situação é tão grave que em julho a Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou que o governo brasileiro adote medidas para proteger “a vida, a integridade pessoal, a saúde e o acesso à alimentação e à água potável” aos Yanomami. Sobre a ineficiência do governo federal em expulsar os invasores, Kopenawa diz que “esse governo não quer saber, não quer respeitar a sua própria lei.” “Para mim, [o presidente Bolsonaro] é um homem mau.”

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Kopenawa conversou com a Pública no fim de julho, durante uma breve visita a São Paulo para acompanhar o lançamento da exposição de Joseca Yanomami no Masp, a primeira individual do artista, que retrata o universo cosmológico de seu povo. 

 

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