Fernando Galembeck (Unicamp), Gesil Amarante (Fortec), Jorge Almeida Guimarães (Embrapii),
Francilene Procópio Garcia (UFCG) e Valdir Oliveira (Sebrae/DF)

Um dos temas mais debatidos ao longo dos cinco dias da 74ª Reunião Anual da SBPC foi inovação – e como torná-la acessível no Brasil. No primeiro dia de evento, 25/7, a mesa redonda “Os caminhos para inovação no Brasil” contou com a participação dos membros titulares da ABC Fernando Galembeck (Unicamp) e Jorge Almeida Guimarães (presidente da Embrapii), além de Valdir Oliveira (Sebrae), Claudia Leitão (UECE) e Gesil Amarante (Fortec). A moderação ficou por conta de Francilene Procópio Garcia (UFCG).

Inovação para quem mais precisa

Ao longo de sua carreira, o químico Fernando Galembeck atuou de forma incessante para produzir tecnologia e inovação dentro dos laboratórios em que trabalhou. Entre falhas e acertos, o Acadêmico obteve muitos resultados positivos, capazes de gerar empregos e resolver problemas importantes da população.

Para Galembeck, os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) atuam como uma direcionamento para o trabalho de inovação atual, já que eles prezam por um mundo mais justo, com mais igualdade social, mais respeito entre as pessoas e disponibilidade dos bens materiais necessários para uma vida digna.“Uma diretriz muito importante é a do fazer mais e para mais com menos, ou seja, temos que conseguir produzir mais, onerando menos o planeta e atendendo a necessidades de mais pessoas”, comentou.

Entre as mais bem sucedidas realizações do Acadêmico está a criação de materiais polifuncionais feitos de grafite mineral e de material reciclado para revestir madeira, papel cartão e tijolo, que possuem propriedades de condução elétrica e térmica. A motivação para o desenvolvimento do material foi o incêndio no Museu Nacional da UFRJ, em setembro de 2018. “O museu queimou porque, entre outras coisas, não havia proteção da madeira”, explica o Acadêmico. “Esses  materiais podem ser retardantes de chamas. Isso deve ser acessível para muita gente e pode resolver problemas de proteção de patrimônio cultural no Brasil.”

Também nos laboratórios de Galembeck foi desenvolvido o conceito de higroeletricidade, em 2010, que consiste na produção de energia elétrica a partir da umidade atmosférica. A ideia, que rendeu comentários jocosos quando concebida, hoje conta com mais de 60 publicações e muitos autores explorando esse caminho. “Um dos meus focos nesse trabalho é permitir que a pessoa que está no meio da mata, da floresta, onde não tem recurso nenhum, possa produzir sua própria energia sem depender do óleo diesel”, explica o cientista.

Seu principal objetivo de comunicação é mostrar que a inovação não está apenas nos produtos altamente tecnológicos e caros, mas também nos produtos de baixo custo a que a população pode ter acesso com mais facilidade. “Procuramos pensar no mínimo de condições materiais necessárias para promover uma vida digna, mesmo para quem está muito distante e muito isolado”, relatou. 

O papel da Embrapii e os principais desafios

“Acho que o uso diário da palavra ‘inovação’ no Brasil só perde para a palavra ‘covid-19’. Todo mundo fala de inovação. E realmente, não tem para onde fugir: hoje em dia, tudo depende de inovação”, declarou Jorge Almeida Guimarães, presidente da Embrapii. Apesar desse fato, não é dada à inovação a devida importância no país. “Se a inovação propriamente dita fosse uma prioridade no Brasil, a captação de recursos seria diferente da que vemos hoje. Seja na Embrapii, na Finep ou na ciência básica, o investimento não é suficiente”.

Guimarães listou os desafios enfrentados para a produção de inovação no país, que incluem a enorme distorção na distribuição de renda e a dificuldade que o Brasil encontra em gerar inovação criativa. “O resultado disso é um dramático fracasso na educação, que inviabiliza o desenvolvimento econômico e social do país”, apontou o bioquímico, ao expor dados dramáticos da educação brasileira. Segundo dados apresentados por ele, 7% das pessoas com 15 anos ou mais são analfabetos absolutos e 29% são analfabetos funcionais. O crescimento ínfimo do PIB nos últimos anos – que só não foi negativo por conta das atividades de agricultura e extrativismo – e a falta de acesso ao saneamento básico são alguns dos reflexos da falta de investimento governamental no setor educacional.

Para que o Brasil se torne uma potência quando o assunto é inovação, é indispensável que haja agilidade e flexibilidade –  ambas citadas como principais especialidades da Embrapii. Ao longo de seus oito anos de existência, a instituição promoveu grandes avanços nos estabelecimento de parcerias com pequenas empresas, startups e entidades como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). 


Assista à gravação completa da sessão.

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