Confira o artigo da Acadêmica Alicia Kowaltowski para o Nexo Jornal, publicado em 15/6.

A prática enriquecedora do pensar é justamente o que o presidente da República e sua equipe mais odeiam. Sempre fizeram afirmações inverídicas e críticas às universidades, centros de pesquisa e outras vivendas de pensadores e intelectuais.

Em 11 de junho, num discurso feito nos EUA para grupos evangélicos, o presidente Jair Bolsonaro afirmou que faz parte de um grupo de pessoas capazes de viver sem oxigênio, mas não sem liberdade. Não vou dar uma interpretação literal à sua afirmação sobre a capacidade de viver sem oxigênio – pessoas obviamente não podem viver sem este gás, que respiramos continuamente. Mas cito que pode haver vida de alguns organismos sem oxigênio; o que não é possível é mantermos o funcionamento dos nossos cérebros sem oxigênio. Pensar requer oxigenar.

Nós, humanos, como os outros animais, usamos oxigênio para nos fornecer energia. Isso acontece dentro das baterias das nossas células, as mitocôndrias, local em que elétrons provenientes de nossa comida ou reservas corporais são transferidos para oxigênio, gerando água, e produzindo energia em forma facilmente utilizável pela célula. Este processo de geração de energia nas células é cerca de dez vezes mais eficiente do que mecanismos que não necessitam de oxigênio, e portanto necessário para organismos complexos como nós animais, que precisam de alto investimento energético para se manter vivos.

O cérebro é particularmente custoso energeticamente: em humanos, embora consista em cerca de 2% do nosso corpo, consome cerca de 20% do oxigênio que usamos, sinal de que usa muita energia. Pensar requer dos neurônios a liberação e resposta a neurotransmissores, além de transporte de íons através de membranas, criando eletricidade, todos processos com alto custo energético. Pensar, refletir, usar o cérebro para coordenar movimentos ou ler este texto gasta energia significativamente, e para isso usamos tanto oxigênio neste órgão..