No dia 16 de março foi realizada a Sessão Solene do Conselho Universitário da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) para a outorga do título de Dr. Honoris Causa à Helena Bonciani Nader, vice-presidente da ABC e professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). A cerimônia foi realizada no bloco N do Centro de Ciências da Saúde, na Cidade Universitária da UFRJ (Ilha do Fundão), e contou com a presença de Luiz Davidovich, presidente da ABC. Os Acadêmicos Adalberto Ramon Vieyra e Jorge Almeida Guimarães integraram a cerimônia virtualmente. 

Entre as dezenas de prêmios e honras que acumulou durante sua trajetória, Nader é também professora honoris causa da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), comendadora e grã-cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Além disso, recebeu o prêmio Scopus 2007 (Elsevier/Capes), a Medalha de Ouro Moacyr Alvaro (2012), a Medalha do Mérito Tamandaré (Marinha do Brasil) (2013), a Ordem do Mérito Naval, classe Grã-Mestra, da Marinha do Brasil (2015)e o prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia 2020, oferecido pelo CNPq, Fundação Conrado Wessel e Marinha do Brasil. 

Com uma longa caminhada junto à ciência brasileira, Nader é referência em sua área de pesquisa e sempre ocupou posições de liderança nas instituições às quais se afiliou. Foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no período de 2011 a 2017, coordenadora de Comitê de Avaliação do CNPq e membro do Conselho Superior da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Exerceu também várias funções administrativas, à frente da Pró-Reitoria de Graduação (1999-2003) e de Pós-Graduação e Pesquisa da Unifesp (2007-2008). 

Jorge Almeida Guimarães

O presidente da Embrapii e Acadêmico Jorge Almeida Guimarães apresentou Nader, contando um pouco de sua trajetória desde a juventude até os dias de hoje. “Uma mulher extraordinária”, como ele define a Acadêmica. “Helena Nader construiu uma carreira brilhante e multifacetada – qualidades que a tornaram uma pessoa poderosa, sempre na briga pela comunidade científica.” Ele destaca a atuação da cientista junto de seu orientador e marido Carl Peter von Dietrich, morto precocemente em 2005, com quem realizou grandes descobertas e dividiu a carreira e a vida – desse relacionamento, nasceu a filha única, Júlia, cujo amor se estende hoje para a neta, Catarina.  

Segundo Guimarães, a Dra. Helena Nader é reconhecida mundialmente por seus trabalhos sobre a biossíntese de glicosaminoglicanos, aí incluída a heparina, o desenvolvimento de drogas antitrombóticas e seus efeitos nos vasos sanguíneos e sobre a estrutura e papel biológico dos proteoglicanos. “Com grande competência e dedicação, Nader consolidou um extraordinário currículo, com mais de 380 artigos publicados, 9 mil citações. De posse de distinguido currículo, Helena Bonciani Nader passa a integrar o distinto quadro de doutores Honoris Causa da Universidade Federal do Rio de Janeiro”, encerrou o Acadêmico. 

Em seu discurso, Helena Nader agradeceu aos professores que à formaram e aos alunos que a acompanharam durante todo esse período. A Acadêmica juntou-se a Maria Carolina de Jesus entre as honradas no período 2018-2021. “Pertencer a esse grupo especial de mulheres me emociona e ao mesmo tempo me intimida. Minha contribuição é muito pequena, quando comparada ao legado dessas mulheres” 

Filha de imigrantes – seu pai tinha origem sírio-libanesa e sua mãe era filha de italianos –, a professora relata que, desde pequena, seus pais sempre fizeram de tudo para que ela e a irmã Heloísa tivessem acesso à educação de qualidade. Todo o apoio familiar levou as duas meninas a se tornarem as primeiras da família com diploma de ensino superior. “Recebo esse título como mulher, professora, cientista, mãe, avó e, principalmente, como cidadã”, declarou, emocionada. 

A Acadêmica não poderia concluir seu discurso sem mencionar a pandemia de covid-19, onde atuou na linha de frente na defesa pela ciência e a vida. Segundo Nader, a conjuntura pandêmica revelou, pelo menos, dois Brasis: um solidário, voltado para minimizar os efeitos da covid-19, envolvendo profissionais da saúde, cientistas e cidadãos em geral; e o Brasil horrível das fake news, antivacina e que propagava medicações nocivas. No entanto, agora, com grande parcela da população imunizada e a queda dos casos da doença, ela afirma: “Apesar de tudo, no fim, acho que o Brasil solidário é o que prevalece.” Nader também mencionou os inúmeros ataques a grupos minoritários, que descaracterizaram o país, e compartilhou seus votos para o futuro: “Espero que o Brasil volte a ser um país de braços abertos e pare de ser segregador.” 

Professor emérito da UFRJ e Acadêmico, o amigo de longa data de Nader, Adalberto Vieyra,  destacou sua importância para a comunidade científica e sua postura como líder. “Em um passado recente, Helena foi uma das vozes de maior destaque em defesa da ciência ,da educação do meio ambiente e daquilo que podemos chamar de natureza humana”, apontou Vieyra. “Todos esses feitos tornam essa cerimônia ainda mais relevante.” Ele mencionou três atuações fundamentais da Acadêmica, tem épocas distintas de sua vida, que  influenciaram no seu título Honoris Causa: no fim dos anos 1990, Nader e seu esposo Carl Peter von Dietrich decidiram que era necessário levar a pesquisa para todos os cantos do país. Com isso, Nader escolheu o Rio Grande do Norte – mais precisamente, a UFRN –  para levar seu conhecimento, contribuindo para a formação do programa de bioquímica da universidade. Hoje, o programa é referência na área. Em seguida, Vieyra mencionou sua fase como coordenadora do Comitê de Avaliação de Biológicas II da Capes, no período em que o programa de pós-graduação na área mais cresceu; e por, fim,a atuação da cientista à frente da SBPC, onde atuou como presidente por seis anos, promovendo a luta pela ciência brasileira junto a parlamentares, em parceria com a ABC e outras entidades relevantes da área da ciência e da educação. “É nosso compromisso defender o que Helena Nader ajudou a criar”, encerrou o Acadêmico. 

Assista à gravação completa no canal da UFRJ no Youtube.