O Dia Internacional da Mulher, estabelecido pela ONU em 1975, nasce de uma série de iniciativas de lembrar das demandas por igualdade de direitos para as mulheres e melhoria nas condições de trabalho. Uma destas ações foi a marcha das 15.000 trabalhadoras pela redução da jornada de trabalho, em 1908. Passados mais de cem anos da eclosão dos movimentos sufragistas, as mulheres já ocupam o mercado de trabalho e as escolas em quase todos os países. No entanto, o percentual de participação feminina ainda é pequena nas posições de poder.

No Brasil as mulheres já estão em pé de igualdade como estudantes de graduação, mestrado e doutorado. No entanto, são  16% dos conselheiros nas empresas, 16% das senadoras e 15% das deputadas federais. No meio acadêmico a situação não é melhor. As mulheres são 37% dos pesquisadores com bolsa de produtividade em pesquisa, mas somente 18% dos membros da Academia Brasileira de Ciências. Em 2001 as mulheres eram 32% dos bolsistas de produtividade em pesquisa e, em 2020, este percentual subiu para 37%. Sem um olhar específico para o problema as mudanças ocorrem, mas a um ritmo muito lento.

Mas, por que mais mulheres no poder? Além a questão óbvia de democracia e direitos humanos, há outras razões. Dados da consultoria internacional McKinsey mostram que empresas com maior diversidade em sua gestão, ganham mais dinheiro, e estudo analisando teses de doutorado nos Estados Unidos, mostram que há uma relação entre diversidade e produção de inovação disruptiva. Diversidade implica eficiência.

Torna-se, portanto, fundamental identificar o que afasta as mulheres da ascensão na carreira. São muitos os elementos. Um elemento é a dinâmica das carreiras, que foi construída para um perfil de homem branco sem filhos. Ela não leva em conta a dinâmica da maternidade. Ainda hoje as mulheres são responsáveis pelo cuidado dos filhos, como mostram dados do Censo e das pesquisas do movimento Parent in Science. Este fator ficou ainda mais contundente durante a pandemia. Uma carreira que não leve em conta os tempos diferentes entre quem acumula o cuidado com filhos e quem pode se dedicar integralmente ao trabalho exclui um perfil fundamental para construir a diversidade. Um movimento recente e que precisa ser festejado neste dia 8 de março é a implementação em empresas e no sistema acadêmico de medidas compensatórias para que o cuidado com os filhos. A frase atribuída a Amélia Hamburger se consolida em um movimento liderado pelo Parent in Science: “Filhos são uma produção importante demais para não constar no Lattes”.

Outro elemento que afasta as mulheres do crescimento na carreira é o “viés inconsciente” que é um conjunto de tendências e preconceitos que tende a desqualificar o trabalho feminino. Esta desqualificação da capacidade feminina leva no seu extremo a atitudes de assédio moral e sexual. Infelizmente esta forma de violência encontra-se presente no ambiente profissional. Estudo na UFRGS mostra que o assédio moral afeta 50% da comunidade e o sexual cerca de 10%. O assédio, ao afastar as mulheres da competição diminui a concorrência, tornando-se uma estratégia de manutenção do poder. Urge que as instituições criem estratégias para prevenir, detectar e eliminar o assédio.

O Dia Internacional da Mulher ainda é necessário. Ele serve para comemorar avanços, mas igualmente refletir sobre o tema, para construir políticas que criem uma carreira e um ambiente compatíveis com a diversidade. Reconhecer um problema é o primeiro passo para se achar uma solução.


Veja o material divulgado no site do International Women Day 2022