Confira a entrevista de Amílcar Tanuri para o jornal O Globo, publicada em 06/1. Tanuri é coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e membro titular da Academia Brasileira de Ciências.

 

Considerado um dos virologistas mais experientes do Brasil, Amílcar Tanuri afirma que a pandemia está perto do fim, mas para conseguir isso será preciso vacinar as crianças o mais depressa possível. Sem a proteção dos imunizantes, elas são o alvo mais vulnerável para a transmissão do coronavírus. Tanuri, coordenador do Laboratório de Virologia Molecular da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), alerta ainda para o alto preço que o explosivo espalhamento da Ômicron já cobra ao país.

Por que estamos vendo tantos casos novos?

Porque a Ômicron é extremamente transmissível e está circulando com intensidade. Se sequenciarmos os vírus de todo mundo, veremos que ela já domina. Isso foi previsto e deve aumentar muito depois das festas de fim de ano. Porém, é importante destacar que isso até agora não resultou no aumento expressivo de casos de doença grave e morte.

Por quê?

A Ômicron, ao que tudo indica, é muito mais transmissível, mas menos patogênica. Mas há um dano sério que a Ômicron já provoca.

Qual?

Ela mata de forma indireta ao tirar da linha de frente profissionais de saúde, que, por serem muito expostos, correm maior risco de serem infectados. Mesmo que os casos deles sejam assintomáticos ou leves, eles precisam se isolar e deixam de trabalhar. E isso afeta não apenas o combate da Covid-19, mas de todas as doenças. A alta circulação da Ômicron também fere a economia e atrapalha a retomada das empresas. É preciso estabelecer um protocolo para esses casos.

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Qual a urgência agora?

É vacinar as crianças de 5 a 11 anos. Já perdemos tempo demais com a relutância sem fundamento do governo federal em vacinar as crianças. Agora, temos que correr. Cada dia sem vacinar as crianças é um dia dado ao vírus para se espalhar entre elas.

As crianças chegarão sem uma segunda dose às escolas. Qual o risco?

É fundamental que elas voltem às aulas. Existe risco de contágio para as crianças e o governo federal, ao demorar a vaciná-las, aceitou o risco de Covid-19 para as crianças. Infelizmente, por causa disso, perdemos o melhor momento de contenção.

Há dois anos enfrentamos essa pandemia. Em que ponto estamos?

Acredito que estamos perto do fim. Mas temos que tomar as rédeas da situação. Isso é feito com vacinação em massa, distanciamento social e máscara, vigilância e testagem. Não é o momento para aglomerações no Carnaval. Se não tivermos blocos, será muito bom para conter a transmissão.

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O que podemos esperar ao longo deste ano?

É muito possível que o coronavírus se atenue e se torne um vírus sazonal, menos patogênico e com menor capacidade de transmissão. Mas é preciso continuar a fazer sequenciamento genético, estudos virológicos. Esse vírus precisa ser mantido sob extrema vigilância, cercado. Vírus estão só à espera de uma janela de oportunidade para se espalhar.

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Qual a perspectiva para a vacinação?

Possivelmente, o ciclo da Ômicron não vai durar muito. O da Delta foi de cerca de dois meses, o da Ômicron pode ser de menos. E no inverno já deveremos estar em condições de começar a planejar o calendário de vacinação de 2023, identificar os grupos que precisam de reforço.

O reforço não será para todos? Por quê?

Porque é inviável manter por tempo indefinido uma vacinação com três ou quatro doses de toda a população mundial. É possível fazer por um ou dois anos, mas não para sempre. A tendência é que possa se determinar melhor quem são os grupos de risco que precisam tomar reforços regulares.

Há laboratórios, como a Moderna, que planejam desenvolver vacinas específicas contra a Ômicron. Vamos precisar mudar a formulação das vacinas ao sabor das variantes, como acontece com a gripe?

Podemos pensar em vacinas para cepas emergentes mais perigosas, mas esse não seria meu investimento principal. Mais importante é investir no desenvolvimento de formulações de vacina que proporcionem uma proteção mais duradoura. Por exemplo, o ideal seria ter um imunizante que precisasse de apenas uma dose por ano.

 

Acesse a entrevista completa aqui.