06:47:16Adeus, Thomas Lovejoy. Que a paz esteja sempre com você onde estiver. Neste dia 25 de dezembro Tom, como carinhosamente era chamado, nos deixou aos 80 anos de idade.

Seu legado o manterá sempre por aqui. Tom cunhou em 1980 o termo “diversidade biológica” e, dessa forma, todos nós ao se referir a este termo, estaremos nos referindo a ele. Era um biólogo inovador e um cientista dos mais respeitados mundialmente. Obteve seu PhD pela Universidade de Yale. Era professor do Departamento de Ciência e Política Ambiental da Universidade George Mason e membro da United Nations Foundation em Washington, DC.

Tom trabalhou na Amazônia brasileira desde 1965 onde criou, há mais 40 anos, o Programa Dinâmica Biológica de Fragmentos Florestais, sediado no INPA, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia. O projeto  tem como objetivo entender os fatores que determinam o tamanho crítico de ecossistemas, antevendo a necessidade dessas informações para os tempos atuais. Por meio desse programa contribuiu para a formação de pessoal em nível de mestrado e doutorado para a Amazônia. Os atuais programas de troca de “dívida por natureza” também foram desenvolvidos inicialmente por ele. Como ninguém, entendia a interface da biologia e da importância do ambiente com a qualidade de vida e as demais dimensões da vida em sociedade.

Como consequência de sua integral dedicação ao ambiente, ganhou muitos prêmios e condecorações, como destaque para o Tyler Prize em 2001, por suas contribuições na área da “Conservação Ambiental”;  o prêmio da Fundação BBVA na categoria “Ecologia e Biologia da Conservação”, em 2009; e em 2012, o prêmio Blue Planet. Nesse fantástico rol, em 2021 Tom foi eleito membro correspondente da Academia Brasileira de Ciências. Quando recebeu a informação semanas atrás, já no hospital, disse “Thank you. Very much appreciated!”.

Tom era um cientista único, um professor especial, um conselheiro sem igual, por conta de sua inabalável convicção de que um ambiente saudável é a melhor forma de proporcionar qualidade de vida a todos do planeta. Era de uma habilidade especial em conectar pessoas e organizações sensíveis à proteção de ambientes e espécies de grande relevância. Não hesitava em contatar políticos e tomadores de decisão quando se tratava de proteger ambientes e a ciência conectada a eles, como fez diversas vezes no Brasil. Dispunha-se como um garoto a viajar de Nova Iorque para prontamente participar de eventos em outros países e nos brindar com suas ricas posições acerca da importância da conservação ambiental, valendo-se dos exemplos que coletara ao longo da vida, principalmente na Amazônia.

Tom veio ao INPA inúmeras vezes. Era muito hábil em ouvir e explorar o que tínhamos a dizer. Ajudava a buscar soluções no mundo da ecologia e conservação e a convencer pessoas a manter a qualidade do ambiente. Era um conselheiro especial. Muitas vezes nos ajudou no INPA, apontando caminhos quando tudo o que era possível já tinha sido explorado. Era uma pessoa sensível, mentor carinhoso e muito atencioso com seus colegas e alunos. Perdemos um companheiro de longas e difíceis lutas por dias melhores para os nossos ambientes mais frágeis.

Já em 1980, Tom publicou suas estimativas das taxas globais de extinção, assinalando que o século 21 assistiria a perda de muitas espécies, para sempre. Infelizmente ele não estava errado. Não só muitas espécies estão desaparecendo, mas muito de seus ambientes estão sendo transformados por ações antrópicas inconsequentes. A velocidade de destruição ambiental, particularmente na Amazônia, o deixava muito preocupado. Não raras vezes conclamava colegas para o contato de tomadores de decisão para que se pudesse reduzir a voracidade e a pressão sobre os mais diversos ambientes. Seu argumento muito forte era de que sempre haverá o que podemos fazer juntos, usando tecnologias inovativas, e que é preciso agir já, antes que “tudo fique muito fora de controle”. Perdemos um parceiro único neste contexto.

Sua eleição recente para a Academia Brasileira de Ciências como membro correspondente é reconhecimento por sua imensa contribuição à ciência ambiental brasileira. Aqui está uma longa entrevista que o Prof. Jacques Marcovitch e eu fizemos com Tom Lovejo, publicada em 2019. Nessa entrevista estão detalhes do pensamento de Thomas Lovejoy.

Vá em paz, Tom Lovejoy. E obrigado pelo marcante legado.


Veja aqui a mensagem dos seus companheiros no Painel Científico do Comitê Estratégico da Amazônia